Parto Delicado

Janice foi levada às pressas para o hospital mais próximo. Mesmo com apenas seis meses de gestação, aparentemente estava em trabalho de parto. Não havia tempo para esperar a ambulância. Marcone precisou levar a esposa em seu próprio veículo, acelerando e desviando dos carros com enorme destreza. Estacionou improvisadamente em frente à emergência, e um dos enfermeiros fora chamado com urgência para leva-la para a sala de parto. Janice, em meio à dor, lembrava-se dos constantes alertas dos médicos para que não tivesse esse bebê.

Ela não sabia por que, nem os médicos queriam explicar. Seu marido tinha plano de saúde e o pré-natal pôde ser feito na rede particular. Os ultrassons eram mantidos em segredo; as imagens não podiam ser divulgadas. Sabia apenas que seria um menino. Sua gravidez só foi possível graças a uma inseminação artificial.

Foi para a sala de parto com um preocupante sangramento. A bolsa estourou. O parto deveria ser feito rapidamente. Os médicos de plantão se preparavam para o procedimento; todos os instrumentos estavam sendo esterilizados. Como não havia dilatação suficiente, deveria ser feita uma cesárea. A luz intensa na sala de parto deixava Janice incomodada. As dores eram lancinantes, e seu corpo estava frio e o suor gelado. Foi-lhe aplicada a anestesia parcial e com isso ela pode assistir ao parto. Fizeram o corte em sua barriga. O médico pediu para que não deixassem Janice ver o bebê. Ela ficou preocupada, gritava e tremia veementemente. A mesa de cirurgia parecia suspensa e reagia a cada movimento dela. Uma das enfermeiras ameaçou aplicar-lhe uma anestesia geral para que pudesse dormir; mas Janice deu um soco certeiro no braço dela e a agulha voou pela sala.

Depois do procedimento cesáreo um corpo minúsculo, de pele áspera e esverdeado, fora retirado do útero e envolvido por uma manta. Janice lutava para ver o filho, mas era impelida pelas intrépidas enfermeiras. Seu filho emitia um sonho estranho, uma espécie de choro trepidante. Ela, com certo esforço, pode ver pelas frestas entre os corpos das enfermeiras um ser de aparência repugnante, de crânio alongado e calda, que se mexia de forma mecânica.

- Esse é o meu filho? – perguntava em desespero.

Ninguém respondeu sua pergunta. O médico saiu e as enfermeiras o seguiram, carregando o bebê.

Numa outra sala devidamente trancada, o tal médico que realizou o parto conversava com o chefe de enfermagem do hospital.

- Foi um sucesso! Nunca imaginei que conseguiríamos. Agora só precisamos deixa-lo na incubadora. – disse o médico.

- Parabéns, doutor. Sabíamos que o parto seria difícil, mas em nenhum momento cogitamos tamanho sucesso em nossa empreitada. Agora, o que faremos com a mãe?

- Não se preocupe. O pai cuidará de tudo. Vai convencê-la de que o bebê morreu, afinal, pagamos um bom dinheiro a ele. Ela jamais saberá que estava gerando um bebê alienígena.

E assim os dois híbridos alienígenas, de crânios alongados, saíram da sala mudando de forma quase que instantaneamente.

Cleiomar Queiroz
Enviado por Cleiomar Queiroz em 27/02/2012
Código do texto: T3523898
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