PRESO NO PORÃO

Se fosse o fato de só ser assaltado, tudo bem, hoje em dia, infelizmente é comum na sociedade. Agora o problema aumenta quando além de lhe roubarem, ainda te batem e o jogam desacordado num porão velho, imenso e escuro. Bem vindo ao pior dia da vida de Julio.

Após alguns dolorosos instantes recobrando os sentidos Julio pode ouvir a conversa que se passava no andar de cima.

“Temos que dar um fim nele ainda hoje.” “Eu sei, depois do jogo.” “Essa porcaria de time.”

“Vai à merda seu filho da puta.” “Vai você, seu lixo”

Calaram-se as vozes masculinas e somente o narrador do jogo pode ser ouvido “Belo lance aos 15 minutos do segundo tempo”. Julio estremeceu.

Até o narrador anunciar 32 minutos Julio tentava se localizar e observava entre as frestas o andar de cima. Era uma sala escura onde um homem gordo assistia ao jogo e cochilava a cada minuto, outro homem parecia estar do lado de fora afiando algo. E uma criança, uma menina brincava também na sala . Ela era linda, olhos escuros,longo cabelo tão preto quanto os olhos, trajava um lindo vestidinho branco com babado sombrio no pescoço e nos joelhos.

Julio mesmo naquela situação sentiu imensa simpatia pela garota. Que agora olhava diretamente para seus olhos por uma das fendas. Ela fez sinal de silêncio com o indicador entre os lábios e devagar enfiou por entre a fresta uma minúscula corrente cujo pingente era uma chave. O gordo dormia.

O narrador anunciou 40 minutos.

Tardou ele achou a saída e lentamente abriu a porta. Deu de frente com a garota.

45 Minutos mais 03 de acréscimo.

O gordo acordara e resmungava palavrões para seu time no cômodo ao lado.

A garota com o dedo apontou silêncio novamente e indicou com a cabeça que Julio deveria subir as escadas. Julio percebeu que ela estava correta ao notar que o outro homem impedia-lhe de sair, pois estava sentado de costas frente à porta afiando uma imensa faca.

Já no andar de cima dentro de um quarto pode ouvir:

“Final de Jogo” “Vai seu merda, acabou!” “Vai dar um fim nele” “Já to indo, seu desgraçado de merda”

Os passos do gordo estalavam na madeira velha.

Só havia uma janela. A noite era escura. Não havia outro jeito, não tinha como levar a garota. Ele buscaria ajuda e voltaria. Esse era o plano.

Desceu aos tombos pela velha calha e correndo como nunca iniciou seu objetivo até, para aumentar seu desespero, tropeçar em alguma pedra e cair num imenso buraco. Caiu com o rosto sobre algo macio e ao se aproximar para verificar o que era; quase morreu.

Segurava o corpo da menininha que lhe ajudara e antes que pudesse se recuperar. Algo grande e pesado foi jogado ao seu lado. Neste momento Julio teve certeza de estar no dia mais assustador de sua vida, pois observava tremendo seu corpo sem vida ao seu lado.

http://contosjvictor.blogspot.com/

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