ATÉ ONDE MARIANNE?

Marianne não mais suportava olhar para o espelho.

Ela era horrível. Todos diziam o contrário, até mesmo seu empresário dono da agência de modelos onde Marianne até o momento era a top.

Ela sabia que mentiam. Lia em seus olhos que queriam lhe agradar, mas ela possuía bons olhos e ótima percepção. Sem duvida era horrível. Todos viam. No começo poderia até ser melhor, mas agora, sem dúvida, decaíra imensuravelmente.

Não havia produtos que funcionassem mais. As olheiras eram enormes. A pele, agora ressecada, enojava. O papo crescera como de uma ave robusta. Embora todos dissessem o contrário, ela conhecia a verdade; estava velha, feia, quase gorda, porém com enorme culote.

Era a face que lhe desgostava. O rosto que todos admiravam agora decaía, sumia no infindo processo do envelhecimento. Quatro cirurgias já foram feitas. Não adiantaram em nada dizia Marianne, embora todos dissessem o contrário.

Se a vida queria assim ela não poderia aceitar. Decidira criar. Decidira pesquisar e criar um remédio milagroso. Nem que precisasse vender a alma ela conseguiria. E não precisou.

Foram sete anos de exclusão. Marianne tinha dinheiro para viver muito bem pelo resto da vida. Não precisava de emprego. Não queria trabalhar feia como estava. Sumiu, por sete anos. Só os amigos mais íntimos às vezes a visitava, e não podiam deixar de notar como a amiga envelhecera tão rápido em tão pouco tempo.

Era isso! Gritou Marianne. Era o Nitrato de Prata que faltava. O produto estava pronto. Podia ver no espelho a sua pele se refazer em segundos, tornando-se linda como outrora. Estava macia, mas poderia ficar mais.

No dia seguinte Marianne voltou à agência e todos a admiraram, alguns com certa sombra de horror e dúvida, mas admiraram. Ela estava jovem, embora seu olhar esbanjasse maturidade. Estava feliz. Sentia sua pele. Estava macia, mas podia ficar mais.

Mais Nitrato de Prato.

Macia e sedosa como uma pétola. Todos a admiravam novamente. Os garotões a provocavam e assoviavam infindamente. O trabalho rendia novos frutos. Mas poderia ser mais macia, um pouco mais.

Mais Nitrato de Prato. Hoje haverá uma sessão de fotos para uma grande revista. Era o momento. Mais Nitrato de Prata.

Após a aplicação Marianne sentiu a perfeição em seus dedos. Ao acariciar seu rosto sentia como se tocasse a mais pura seda, ao mais delicado cetim, a mais sedosa pétola ou a mais rara jóia lapidada. Não precisava de maquiagem; aquilo era melhor, Olhou admirada para o espelho, lavou suavemente o delicado rosto; olhou suspirando uma última vez para o espelho. Feliz e radiante enxugou a face na não tão delicada toalha e saiu.

Estava feliz. Iria de metrô, adorava o metrô. Sempre saia de carro, mas hoje ela precisava do metrô. Já no trem, notara que muitos a olhavam e, sublime, sentia-se feliz, ela era linda e podiam olhar a vontade.

Marianne estava certa. Todos a olhavam, mas naquele dia não mais por sua beleza e sim por que quase metade da pele de seu rosto tão delicado ficara na áspera toalha de rosto em seu banheiro.

J V I C T O R

ESPERO QUE TENHAM GOSTADO  ABRAÇO A TODOS.

http://contosjvictor.blogspot.com/

http://contosjvictor.blogspot.com/