VAMPIROS 16 – O CIRCO DOS HORRORES 2ª PARTE
O espetáculo nem havia terminado ainda e o diretor estava dando sinais para que o Palhaço fosse depois conversar com ele. Mas agora ele estava ocupado, havia uma moça na platéia que estava louca para conhecê-lo, como dissera o garoto na sua cabeça. O Diretor era um homem muito mal, e se não fosse só isso, o que já era muito, no seu caso, ele ainda tinha o dom da dor. O Palhaço passou pelas lonas, saindo por uma porta traseira. Dali ele iria encontrar o casal. Enquanto a noite fria seguia num silencio mortal, ele se esgueirava pelas carroças e carros. Um cachorro rosnou para ele no escuro. Ele parou, prestando atenção, desviando-se, pois todos nesse circo eram amaldiçoados, até os animais. Todos temiam-se uns aos outros. Ele que dormia no mesmo quarto que o garoto, podia se dizer que dormia com um olho aberto e o outro fechado. Enquanto andava por entre a bagunça do circo, viu quando o Gordo arrastara uma menina de uns seis anos para o escuro sombrio, enquanto tapava a sua boca com aquela mão sebosa. Ele sorria, com sua presa. Quando notou que o Palhaço o observava estancou o sorriso, encarando o Palhaço, como que dizendo: “não se meta comigo”. O Palhaço odiava os canibais. A vózinha, que servia de cozinheira, além de bruxa, era também canibal. Ele se lembrava que um dia a sua filha o chamara, pois a mãe queria falar com ele. No trailer da velha, ela lhe ofereceu uma sopa, que quando ela pegou para si numa concha, um pouco, ele jurava, que viu uma mãozinha infantil.
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Andrei estava doido para sair e fumar mais um cigarro. Isso o esquentaria, pensava ele, se iludindo, na noite fria de um inverno forte europeu. A neve começara a cair, junto com uma chuva fina, gelada. As pessoas foram passando por ele, aos montes, até que foram escasseando. Ele só queria beber um pouco da sua garrafa no bolso, fora um pouco das luzes e encaminhou-se rumo a um local um pouco mais escuro. Sua filinha deveria gostar do numero e a sua vinda até ali fora infrutífera. O circo parecia inocente. Ele não vira nada para se preocupar. O assassino da menina no campo não deveria estar ali, de jeito nenhum.
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O Palhaço pensava que seria fácil matar aquele moço, que estava com a namoradinha no espetáculo. O vento jogara no chão o seu chapelão preto, de mágico. E que coincidência, ali estavam o casalzinho. Ele ter se abaixado para pegar o chapéu evitou que eles o vissem e era fácil percebê-lo, pois era forte e alto. VAMPIROS 15 – ENTERRADO 2ª PARTE
O cemitério era o lugar mais silencioso e quieto de toda a pequena cidade. O casal de adolescentes acreditou que não seriam incomodados se fossem namorar ali, pois já tinham feito isso antes e nada lhes acontecera. Além do barulho normal dos gatos e cachorros e do vento, não existiam fantasmas, talvez existissem pessoas que agissem muito mal, mas eles não acreditavam nas histórias que o povo inventava. Muito espaçadamente, mas a mais ou menos um ano, eles iam até o cemitério, que por estar localizado no alto, dava para ver a cidade lá em baixo, no vale. Dava para ver a lua. Aliás, dali, dava a impressão que a lua era maior e até mais bonita. Ana tinha quinze anos, pensava Luciano. Ela tinha apenas quinze anos. Ele já tinha vinte e quatro e trabalhava como auxiliar de açougueiro no açougue do pai, que seria seu daqui a pouco. Era um serviço rentável e ele já estava estabilizado na vida. Tinha uma casa, um carro e dinheiro que dava para se manter por uns três anos, sem aperto. Olhar para Ana dava-lhe vontade de casar. Os dois eram muito fogosos, um com o outro; havia uma química entre eles. Essa química é a desejada por todo casal. A menina pobre, era filha de pais honrados. Vinda de uma família tradicional da cidade, apesar de pobre, com certeza nem o seu pai e nem a sua mãe e irmãs iriam se opor. Na verdade os dois não estavam fazendo nada no cemitério. Sentados, quietos, cada um pensava no futuro, e o futuro os estava abraçando. Mesmo ela sendo tão novinha, ninguém se opunha ao namoro, pois sabiam que ia dar frutos. Ana não tinha consciência, mas era mais bela do que muitas princesas que já pisaram esse planeta. Pequena, magra, ela era tão meiga, mas tão meiga, que havia quem desconfiasse que era charminho, mas não era. Ela era por natureza meiga, feminina, sempre perfumada, sempre muito arrumadinha. Naquela noite inesquecível, que eles não comentavam, nem um com o outro, ela vestia um vestido da irmã, que lhe ficava meio curto e apertado em alguns pontos, o que dava a impressão, que ela era mais jovem do que já era.
Quando aconteceu eles estavam sentados sobre alguns tijolos, de fronte a um tumulo fresco, a terra ainda fofa, olhando a lua, a cidade e o futuro. Alheios, ouviram algum barulho e nem pensaram, pois deveria ser um animal qualquer. Mas no tumulo defronte à eles, mesmo no escuro, deu a impressão que a terra estava se revolvendo. Como o barulho crescendo e a terra literalmente se mexendo no tumulo, a reação dos dois era de total curiosidade, que foi maior do que o medo da situação inusitada. Estupefatos eles viram surgir um braço, alguém com uma camisa branca saia do tumulo. Saiu um braço, outro braço, a cabeça e o tronco de um homem. Ele não poderia ser humano, pois deu um grito, não, talvez fosse melhor dizer: um urro, como um animal grande, um urso ou um tigre. Com metade do corpo enterrado dentro da cova o homem urrava tão alto que lá na cidade, distante quatro quilômetros, algumas luzes se acenderam. Seus olhos estavam totalmente vermelhos e na sua boca, os dentes caninos eeram maiores, pontiagudos. Com certeza ele era um vampiro. E apesar da terra, que sujou a sua roupa, no seu peito ainda estava uma estaca de madeira furando o seu peito. Dali descia uma mancha grande de sangue. O homem ficou urrando durante alguns instantes, alheio ao local onde estava, enquanto o casal petrificado, posicionados bem à frente do vampiro observavam, sem ação, até que o vampiro parou de urrar e desceu os olhos direto para eles, agora quieto, entortando um pouco a cabeça para o seu lado direito do corpo. Aquilo foi o sinal para eles saírem correndo como loucos, caindo e tropicando, até chegarem na cidade. E só escaparam do vampiro, que nitidamente estava furioso, pois ele não conseguira sair tão rápido da cova.
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Eu pensei que ia morrer, a dor no meu peito era absurda, mas eu não podei pensar nela agora, precisava sair daquele buraco, daquela cova. Alguém me enterrara e eu só consegui pensar num nome: Joshua, o pregador profeta, junto com seu irmão e a namorada dele. Eu nadava para cima, tentando achar a saída, enquanto a terra não parava de cair ao meu redor. Mas, ao mesmo tempo em que minhas forças estavam se acabando, o meu trabalho foi ficando mais fácil. E de repente, o meu braço já estava de fora, no ar da noite, e logo metade do meu corpo. Os instintos animais de vampiro, que tentamos sempre controlar, foi muito mais forte do que eu e naquela hora eu urrei como um animal, durante um tempo que me pareceu uma eternidade. Urrei do mais puro e belicoso ódio pelas pessoas que fizeram isso comigo. Eu era um príncipe da Ordem Vampirica de Abruz e os vampiros daquela cidade, onde nem sabia existir gente da minha raça, me atacaram, imagino que à noite, enquanto bêbado, nos braços de uma linda prostituta quarentona. Eu tinha duas noivas vampiras ciumentas e ainda passou, enquanto ali, urrando de raiva, o temor, se elas descobrissem esse e outros casos. A dor no meu peito era dilacerante. Ai senti o cheiro... humano. Havia um casal, um moço e uma menininha, linda por sinal, me olhando. Eu sujo de terra, com uma estaca no peito, meio que ainda enterrado. De repente eles saíram correndo, enquanto botei a minha mão direita na estaca no peito, puxando-a com toda a força, aquilo provocando estertores, choques, que perspassaram meu corpo inteiro. Urrava de dor, enquanto a estaca saia, eu me debatendo meio enterrado numa cova. Quando ela saiu, eu desmaiei, só acordando com o burburinho de muita gente, que vi que vinham com tochas e facões. Só consegui fugir daquela turbva, quando eles já estavam muito próximos. Ainda corri pelo meio das tumbas, até que me concentrando consegui inflar as minhas asas, que pareciam asas de morcego, negras, feias, tão diferente das asas dos anjos. À frente de todo mundo fiz algo impensável e prioibido, sai voando. Quando voávamos, o que era quase nunca, ficávamos feios, horrorosos. Fraco ainda consegui voar, a principio meio cambaleante. A turba que por um instante parou, quando as minha asas apareceram, agora gritava novamente, mais forte, enquanto atiravam facas, facões e outros objetos, como pedras. Eu não conseguiria voar fraco como estava. Eu precisava me alimentar, de qualquer jeito e não havendo outra maneira, pois eles iriam me pegar e se soubessem que o fogo era mortal, assim como a madeira no peito, eu estava perdido. Só não morri com a estaca, porque ela não atingiu o meu coração em cheio, só passou próximo, muito próximo. Como não conseguiria sair dali, voei sobre eles, escolhendo uma presa pequena. Havia no meio deles uma senhora baixinha, que se parecia um pouco com a moça que vira quando sai do túmulo. Voei até aquela senhora, já grudando os meus dentes em seu pescoço, tentando voar com ela, que se debateu, enquanto os gritos abaixo de mim eram angustiados. Se a Ordem soubesse disso eu seria severamente punido, um vampiro que se deixara mostrar aos seres humanos. Na maioria do tempo eles nem sabiam que estávamos entre eles. A maioria pensava que lobisomens, fadas, demônios e outros seres, éramos apenas mito. E agora eu estava estragando tudo. Fiquei com dó da mulher, mas eu precisava sair dali. Quem olhasse a cena nunca imaginaria que um vampiro tem sentimentos mais fortes do que os humanos, todos os sentimentos em nós são mais exagerados. O ódio dos humanos não passa nem perto do nosso. O amor, em nós, é algo tão forte que causa dores tão fortes no corpo, que pode nos deixar tempos numa cama. Quando senti a força sendo restaurada, joguei o corpo da mulher para longe, não tão longe, pois eu queria que eles a acorressem, o que me daria mais tempo para a fuga. Saindo dali, voei bem alto, para que ninguém me visse, durante umas duas horas, até avistar uma cidade. Enquanto voava só pensava numa coisa: iria achar esse Joshua e o exterminaria da face da terra, juntamente com seu irmãozinho e a sua namoradinha lobo. Mas havia outra coisa, também a pensar, onde estavam seus companheiros? Quando o navio chegou à praia, eles se separaram, pois o príncipe dera ordens a cada um, metas, e só depois de dois meses se encontrariam em Roma. Se tudo desse certo o papa já deveria estar morto agora. Ele checou se a sua faca grande, de cozinha estava na sua cintura. É lógico que estava, ele não a tirava nem para dormir. Talvez para tomar banho, de vez em quando e isso era rápido. A faca ele adquirira quando jovem estava se descobrindo ainda como ladrão e assassino e a terceira pessoa que ele matara, em assaltos, claro, pois ele já havia matado antes, fora uma mulher comum, uma dona de casa. Era Natal e ela estava preparando um peru, com essa faca, quando de repente ela se vira e ele estava atrás dela. Apesar da sua altura ele era ágil, pois fora treinado como malabarista, também, antes de assumir o legado de sua família, de palhaços assassinos. Silencioso ele entrava nas casas para roubar. De vez em quando namorava alguma dona. A mulher não ofereceu resistência. Assim que ela se virou, ele disparou um potente soco no rosto dela, quebrando-lhe o nariz. Desmaiada, nem sentiu o seu corpo sendo cortado com a faca do peru.
O velho e o garoto na sua cabeça estavam quietos. Ele os sentia dentro de si, na sua mente.
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Christoferson foi um dos últimos a levantar-se das cadeiras e sair. Ele passou ao lado de um homem que sorvia o ar gelado, enquanto apalpava algo no seu bolso. Como o homem já cheirava a álcool ele imaginava que o homem estava com uma garrafa no bolso. A namoradinha que encontrara para despistar e passar o tempo, não parava de falar ao seu lado. E como muitas mulheres e homens conversava, ou melhor: falava, mais para si mesmo, do que para o parceiro próximo. Ele via a boca dela se mexer, de vez em quando cenava afirmativamente alguma coisa e continuava com seus pensamentos. Não havia um rumo para a sua existência. Ele deveria ter morrido, mas fora transformado em vampiro. E o que era ser vampiro afinal? Qual a utilidade disso, a não ser sair matando as pessoas por ai, em cada cidade, em cada lugar. Além da maldição, que os seguia onde fosse. Vampiros, fantasmas, lobisomens, fadas, elfos, assassinos e ladrões eram perseguidos pelo Anjo de Israel, pensava ele, urdindo o pensamento de que o anjo que passara na casa dos egípcios, naquela noite, em que havia sangue na casa dos israelitas, era quem trazia a maldição. Por duas vezes ele vira o Anjo da Morte. Alto, com uma foice enorme, com aparência cadavérica, silencioso já tentara levá-lo antes, havia uma história entre eles.
Seus pensamentos foram interrompidos pois Isabel o arrastava para um canto escuro, pois queria beijá-lo, antes de ir embora. E como provavelmente seria o último beijo, ele deixou-se levar.
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Cristoferson levou um susto duplo, primeiro com o grito agudo da moça ao seu lado, só depois notou que ela gritara porque um enorme Palhaço, um dos mais engraçados do show, tinha enfiado com tudo uma faca no seu peito, que entrara atravessando o ar, enquanto sibilava, furando a sua blusa e camisa, fazendo um buraco na sua pele, fazendo jorrar o sangue, até chegar no seu coração. Crhistoferson sentiu a faca atravessando o seu coração, fria, a lâmina abrindo caminho. Aquilo deu-lhe uma fraqueza momentânea, mas o instinto fez surgir as presas na hora. Enquanto atracou-se com aquele homem enorme e forte, pronto para matar, um tiro ecoou. E num instante de vacilação pela interrupção, o Palhaço fugiu, para a escuridão, mas antes o vampiro conseguira agarrar com a mão esquerda o seu pescoço e sabia que o ferira gravemente.
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O detetive Andrei estava velho, só queria naquela hora deitar um pouco e dormir, se conseguisse. Quem sabe hoje brincaria um pouco com sua doce mulher, depois que a menina dormisse. Enquanto bebia um gole de seu veneno e inalava o seu outro veneno, viu quando um palhaço sacara de repente de uma enorme e assustadora faca de cozinha e esfaqueou um homem, com sua namorada. Ele imaginou que era um assalto e sacando a arma atirou por instinto. Enquanto a bala ainda soava, os dois que estavam atracados numa luta de morte, viraram-se para ele e olhando para o rosto dos dois, viu que um era... um vampiro. Com seus dentes enormes à mostra, olhar feroz, os seus olhos estavam totalmente vermelhos. Só quando o palhaço e o vampiro correram é que o detetive viu que a moça estava no chão, morta, pelo tiro que ele dera no palhaço, que julgara que era um assaltante.
Naquela noite ele começara a escrever um diário, que passara a ser conhecido como “O Primeiro Diário”. Nesse diário, Andrei colhera informações de fatos fantásticos e assustadores, que até então eram tidos para ele como apenas mitologia barata, de quem não tinha o que fazer. O contato que Andrei tivera com esse universo sombrio, descortinara situações novas. Morgan a sua filha, que estava na época com oito anos, fora curada milagrosamente um ano depois, por essas mesmas forças eu Andrei viera a combater. Muitos anos depois, no leito de morte, Andrei pediu perdão a Morgan.
- Minha filha, perdoe o seu pai, o que eu lhe fiz. Por minha causa sua mãe morreu e você tem a aparência constante de uma menina de nove anos. – disse debilitado Andrei, o Primeiro Caçador.
- A minha mãe morreu para que eu ficasse curada. Esse fora o preço a ser pago: uma vida pela minha cura. Eu era uma paralítica e hoje estou forte. – disse Morgan, enquanto via seu pai morrer. Haviam mais três pessoas ao redor da cama, na casinha pobre de Andrei e sua falecida esposa. Morta, juram alguns, num rito obscuro. Tem quem fale em bruxaria. Duas horas depois dessa ultima conversa Andrei morreu, quase três horas da manhã. A mulher que estava ali, e que amava Andrei, mas não podia demonstrar, o amor de filha, notou que Morgan não derramou uma lágrima sequer. Havia nela um sentimento de maldade, quase palpável. Com o tempo ela descobriu que a sua irmã, seria a sua pior inimiga.