Em Busca do Braço Perdido - Parte 10

Em Busca do Braço Perdido - Parte 10

Jorge Linhaça

O susto veio mesmo quando já estavam para ir embora....

A forquilha do mané parecia ter endoidado e o puxava frenéticamente para um dos cantos do cemitério onde não havia corpos , ao menos até onde se soubesse.

A forquilha curvou-se com tal intensidade que Mané teve dificuldades em contê-la pois a mesma parecia querer cavar o local indicado.

Alguns correram em buscas de pás em enchadas para desvendar logo o mistério apontado pela forquilha.

Um a um foram sendo desenterrados vários braços já descarnados pela ação da terra e dos vermes...exatamente o total dos braços decepados pelo negro Tião em busca de sua paz eterna.

A cidade entrou em polvorosa, ninguém mais ousava duvidar dos poderes unidos de Madame Sayonara e de Mané "acha-água"

Agora estavam prontos para a busca final.

Os braços encontrados foram devidamente devolvidos aos seus respectivos ex-propietários, enterrados junto a seus corpos.

Dessa maneira, evitava-se que o negrô Tião ressurgisse seguido por um exército anos mais tarde.

Agora, com a forquilha devidamente calibrada para cumprir o seu papel, um grupo seguiu com Mané para a mata da Jurema, muita terra havia de ser percrrida, mas com a foquilha tudo deveria ficar mais fácil, acreditavam...no primeiro dia nada além de alguns ossos de animais, mas já era um bom sinal, a forquilha estava funcionando.

Durante semanas o grupos seguiu a forquilha de Mané e finalmente foram sendo encontados ossos que pareciam ser humanos, estes foram sendo separados mas não havia ninguém com o conhecimento necessário para saber se estes restos mortais eram do tal negro Tião.

Podiam ser de qualquer pessoa, afianal das contas. Um antropologista forense foi convocado pelas autoridades locais para, ao menos em parte poder ajudar na solução do problema.

Tudo que sabiam é que Tião era negro, o que descartaria qualquer osso de outra etnia que pudesse ser encontrado.

Tião era homem, portanto qualquer osso feminino também seria descartado, bem como o de crianças e adolescentes.

Assim foi que o tempo foi passando e os ossos iam sendo descartados ou reunidos de acordo com a idade dos mesmos e as características de Tião.

Por mais que a forquilha ajudasse não era fácil a tarefa, afinal qualquer osso fora do contexto podia causar o completo fracasso e a perda de todo o esforço que se ia fazendo.

Quase cumprido o prazo dado por João sem braço, faltando poucos meses para a temida volta do ex-escravo, os ossos se amontoavam dando várias opções para a montagem de um esqueleto de um negro adulto o que complicava o encerramento da missão.

O que era imediatamente descartado eram os ossos do braço e mãos esquerdos encontrados, já que os de Tião haviam de estar nas ruínas do Judas.

Mesmo com a ajuda do antropologista forense pareciam haver chegado a um beco sem saída já que decidiram que a última coisa que fariam seria buscar pelo braço do escravo supliciado.

Através de testes químicos outros ossos foram sendo descartados segundo a idade aproximada dos mesmosainda assim sobravam ossos no esqueleto e as buscas continuavam para evitar qualquer falta.

Trataram também de documentar os lugares onde os ossos foram encontrados a fim de tentar estabelecer um raio por onde os do negro podiam estar espalhados.

Catalogaram também os ossos que apresentavam medidas similares ainda que carcomidos pelo tempo

Enfim, tudo que podiam imaginar ia sendo feito no sentido de limitar as opções de montagem do esqueleto completo de Tião.

Ainda assim sobravam algumas partes...

A poucas semanas do prazo final o jeito foi recorrer novamente à Madame Sayonara, pedindo-lhe para tentar contato com João.

E assim foi feito:

Lá se foi a comitiva de sempre e repetiu-se o conhecido ritual de evocação...somente após três dias é que João se manifestou...

o que ele disse veremos no próximo capítulo.

continua....