VAMPIROS 15 – ENTERRADO 2ª PARTE

O cemitério era o lugar mais silencioso e quieto de toda a pequena cidade. O casal de adolescentes acreditou que não seriam incomodados se fossem namorar ali, pois já tinham feito isso antes e nada lhes acontecera. Além do barulho normal dos gatos e cachorros e do vento, não existiam fantasmas, talvez existissem pessoas que agissem muito mal, mas eles não acreditavam nas histórias que o povo inventava. Muito espaçadamente, mas a mais ou menos um ano, eles iam até o cemitério, que por estar localizado no alto, dava para ver a cidade lá em baixo, no vale. Dava para ver a lua. Aliás, dali, dava a impressão que a lua era maior e até mais bonita. Ana tinha quinze anos, pensava Luciano. Ela tinha apenas quinze anos. Ele já tinha vinte e quatro e trabalhava como auxiliar de açougueiro no açougue do pai, que seria seu daqui a pouco. Era um serviço rentável e ele já estava estabilizado na vida. Tinha uma casa, um carro e dinheiro que dava para se manter por uns três anos, sem aperto. Olhar para Ana dava-lhe vontade de casar. Os dois eram muito fogosos, um com o outro; havia uma química entre eles. Essa química é a desejada por todo casal. A menina pobre, era filha de pais honrados. Vinda de uma família tradicional da cidade, apesar de pobre, com certeza nem o seu pai e nem a sua mãe e irmãs iriam se opor. Na verdade os dois não estavam fazendo nada no cemitério. Sentados, quietos, cada um pensava no futuro, e o futuro os estava abraçando. Mesmo ela sendo tão novinha, ninguém se opunha ao namoro, pois sabiam que ia dar frutos. Ana não tinha consciência, mas era mais bela do que muitas princesas que já pisaram esse planeta. Pequena, magra, ela era tão meiga, mas tão meiga, que havia quem desconfiasse que era charminho, mas não era. Ela era por natureza meiga, feminina, sempre perfumada, sempre muito arrumadinha. Naquela noite inesquecível, que eles não comentavam, nem um com o outro, ela vestia um vestido da irmã, que lhe ficava meio curto e apertado em alguns pontos, o que dava a impressão, que ela era mais jovem do que já era.

Quando aconteceu eles estavam sentados sobre alguns tijolos, de fronte a um tumulo fresco, a terra ainda fofa, olhando a lua, a cidade e o futuro. Alheios, ouviram algum barulho e nem pensaram, pois deveria ser um animal qualquer. Mas no tumulo defronte à eles, mesmo no escuro, deu a impressão que a terra estava se revolvendo. Como o barulho crescendo e a terra literalmente se mexendo no tumulo, a reação dos dois era de total curiosidade, que foi maior do que o medo da situação inusitada. Estupefatos eles viram surgir um braço, alguém com uma camisa branca saia do tumulo. Saiu um braço, outro braço, a cabeça e o tronco de um homem. Ele não poderia ser humano, pois deu um grito, não, talvez fosse melhor dizer: um urro, como um animal grande, um urso ou um tigre. Com metade do corpo enterrado dentro da cova o homem urrava tão alto que lá na cidade, distante quatro quilômetros, algumas luzes se acenderam. Seus olhos estavam totalmente vermelhos e na sua boca, os dentes caninos eeram maiores, pontiagudos. Com certeza ele era um vampiro. E apesar da terra, que sujou a sua roupa, no seu peito ainda estava uma estaca de madeira furando o seu peito. Dali descia uma mancha grande de sangue. O homem ficou urrando durante alguns instantes, alheio ao local onde estava, enquanto o casal petrificado, posicionados bem à frente do vampiro observavam, sem ação, até que o vampiro parou de urrar e desceu os olhos direto para eles, agora quieto, entortando um pouco a cabeça para o seu lado direito do corpo. Aquilo foi o sinal para eles saírem correndo como loucos, caindo e tropicando, até chegarem na cidade. E só escaparam do vampiro, que nitidamente estava furioso, pois ele não conseguira sair tão rápido da cova.

...

Eu pensei que ia morrer, a dor no meu peito era absurda, mas eu não podei pensar nela agora, precisava sair daquele buraco, daquela cova. Alguém me enterrara e eu só consegui pensar num nome: Joshua, o pregador profeta, junto com seu irmão e a namorada dele. Eu nadava para cima, tentando achar a saída, enquanto a terra não parava de cair ao meu redor. Mas, ao mesmo tempo em que minhas forças estavam se acabando, o meu trabalho foi ficando mais fácil. E de repente, o meu braço já estava de fora, no ar da noite, e logo metade do meu corpo. Os instintos animais de vampiro, que tentamos sempre controlar, foi muito mais forte do que eu e naquela hora eu urrei como um animal, durante um tempo que me pareceu uma eternidade. Urrei do mais puro e belicoso ódio pelas pessoas que fizeram isso comigo. Eu era um príncipe da Ordem Vampirica de Abruz e os vampiros daquela cidade, onde nem sabia existir gente da minha raça, me atacaram, imagino que à noite, enquanto bêbado, nos braços de uma linda prostituta quarentona. Eu tinha duas noivas vampiras ciumentas e ainda passou, enquanto ali, urrando de raiva, o temor, se elas descobrissem esse e outros casos. A dor no meu peito era dilacerante. Ai senti o cheiro... humano. Havia um casal, um moço e uma menininha, linda por sinal, me olhando. Eu sujo de terra, com uma estaca no peito, meio que ainda enterrado. De repente eles saíram correndo, enquanto botei a minha mão direita na estaca no peito, puxando-a com toda a força, aquilo provocando estertores, choques, que perspassaram meu corpo inteiro. Urrava de dor, enquanto a estaca saia, eu me debatendo meio enterrado numa cova. Quando ela saiu, eu desmaiei, só acordando com o burburinho de muita gente, que vi que vinham com tochas e facões. Só consegui fugir daquela turbva, quando eles já estavam muito próximos. Ainda corri pelo meio das tumbas, até que me concentrando consegui inflar as minhas asas, que pareciam asas de morcego, negras, feias, tão diferente das asas dos anjos. À frente de todo mundo fiz algo impensável e prioibido, sai voando. Quando voávamos, o que era quase nunca, ficávamos feios, horrorosos. Fraco ainda consegui voar, a principio meio cambaleante. A turba que por um instante parou, quando as minha asas apareceram, agora gritava novamente, mais forte, enquanto atiravam facas, facões e outros objetos, como pedras. Eu não conseguiria voar fraco como estava. Eu precisava me alimentar, de qualquer jeito e não havendo outra maneira, pois eles iriam me pegar e se soubessem que o fogo era mortal, assim como a madeira no peito, eu estava perdido. Só não morri com a estaca, porque ela não atingiu o meu coração em cheio, só passou próximo, muito próximo. Como não conseguiria sair dali, voei sobre eles, escolhendo uma presa pequena. Havia no meio deles uma senhora baixinha, que se parecia um pouco com a moça que vira quando sai do túmulo. Voei até aquela senhora, já grudando os meus dentes em seu pescoço, tentando voar com ela, que se debateu, enquanto os gritos abaixo de mim eram angustiados. Se a Ordem soubesse disso eu seria severamente punido, um vampiro que se deixara mostrar aos seres humanos. Na maioria do tempo eles nem sabiam que estávamos entre eles. A maioria pensava que lobisomens, fadas, demônios e outros seres, éramos apenas mito. E agora eu estava estragando tudo. Fiquei com dó da mulher, mas eu precisava sair dali. Quem olhasse a cena nunca imaginaria que um vampiro tem sentimentos mais fortes do que os humanos, todos os sentimentos em nós são mais exagerados. O ódio dos humanos não passa nem perto do nosso. O amor, em nós, é algo tão forte que causa dores tão fortes no corpo, que pode nos deixar tempos numa cama. Quando senti a força sendo restaurada, joguei o corpo da mulher para longe, não tão longe, pois eu queria que eles a acorressem, o que me daria mais tempo para a fuga. Saindo dali, voei bem alto, para que ninguém me visse, durante umas duas horas, até avistar uma cidade. Enquanto voava só pensava numa coisa: iria achar esse Joshua e o exterminaria da face da terra, juntamente com seu irmãozinho e a sua namoradinha lobo. Mas havia outra coisa, também a pensar, onde estavam seus companheiros? Quando o navio chegou à praia, eles se separaram, pois o príncipe dera ordens a cada um, metas, e só depois de dois meses se encontrariam em Roma. Se tudo desse certo o papa já deveria estar morto agora.

pslarios
Enviado por pslarios em 25/02/2012
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