Coração solitário
Fim de expediente, um frio de arrepiar a espinha, Luna saía tarde da lanchonete onde trabalha como garçonete. Luna era loira, cabelo bagunçado – desleixo por causa das preocupações e muito trabalho para sustentar seu filho de um ano e sua mãe já idosa – rosto fino e corpo também, via o cansaço de longe.
Ela caminhou em direção ao ponto de ônibus, lugar com pouquíssima movimentação – mas isso se deve ao horário – ela estava completamente sozinha, pensando na merda que era sua vida. Ela acendeu um cigarro e olhava para o relógio impaciente, não gostava de ficar sozinha e no frio. Sentiu certo alivio ao avistar faróis vindo em sua direção, mas quando se aproximou mais, viu que era um carro. Jogou a guimba do cigarro no chão e pisou.
- Ei, moça! Pode me ajudar? – Luna se assustou ao ouvir o jovem rapaz chamando-a de dentro do carro que a enganou e não havia escutado se aproximar dela.
- Como posso te ajudar? – Olhou para ele com desconfiança.
- É que estou perdido. A senhora sabe onde fica a rua Mortem? Eu tenho um mapa aqui, você poderia me mostrar, sou novo e de noite é ruim encontrar certas ruas.
Luna riu.
- Cara, eu moro nessa rua. Sei bem onde é.
Ele abriu um sorriso malicioso.
- Se quiser eu te dou uma carona então.
Luna olhou para a estrada para ver se tinha algum sinal do seu ônibus, olhou em volta rua mais deserta ainda.
- Ok! Vou aceitar. Mas você poderia me dizer seu nome?
- Ah! Claro... Meu nome é Richard, mas pode me chamar de Rick.
- Prazer, Rick. Sou Luna.
- Entre no carro.
Ela abriu e sentou. Ele passou a mão no bolso para checar se estava tudo certo, olhou para os lados.
- Tá esperando o que, Rick?
Ele sorriu.
- Nada, nada.
Tentou ligar o carro, mas não funcionou. Tentou de novamente, mas sem sucesso.
- Fala sério! É melhor eu sair e esperar meu ônibus. – Luna foi tentar abrir a porta, mas ele a travou. – O que é isso? Quem é você? – Ela olhou amedrontada para ele. Ele só sorriu. Ela tentou mais uma vez, virada de costas pra ele, tentando abrir a porta, ele corta a cabeça dela.
- Bem eu sou alguém querendo um coração novo. – Gargalhou.
Ligou o carro, colocou seu CD de musicas varias para tocar e a primeira faixa era “Um jour em France”. Procurou o lugar onde havia escondido seu carro, entrou na mata e estacionou. Ele retirou um bisturi do bolso, cortou o peito de Luna, retirou o coração, pôs dentro de um saco plástico e fechou. Abriu o porta-malas do carro, pegou o galão de gasolina. Procurou por um isqueiro, jogou a gasolina por dentro do carro e acendeu o isqueiro. Simplesmente ateou o fogo – sem remorso e feliz – e saiu depressa, foi até o carro dele e colocou o coração dela no banco do carona.
Ligou o carro e correu em direção a estrada e foi assim até chegar em sua casa, na rua Mortem para fazer sua refeição noturna. Um coração e o sabor era de solidão.