O cemitério dos desconhecidos

O cemitério dos desconhecidos

Jorge Linhaça

Em meio à mata, pequenas cruzes de madeira marcam as sepulturas improvisadas de algumas dezenas de almas.

Nenhum único nome , nenhuma data, nenhuma pista de quem ali estaria sepultado...apenas as cruzes, algumas já apodrecidas pelo tempo tombadas por sobre as campas ou para os lados delas.

De quem seriam essas sepulturas perdidas no meio do nada?

Haveria ali existido alguma cidade em algum tempo esquecido?

A descoberta se dera por um mero acaso enquanto um grupo de jovens explorava a mata em busca de um lugar para fixar seu acampamento.

A insólita descoberta fez com que repensassem seus planos, afinal não era nada agradável dar de cara com um cemitério abandonado.

Gumercino bem que tentou demover os jovens de sua aventura, e levá-los para outro local, bem distante daquilo.

Mas jovens são jovens e o ar de mistério fazia com que a adrenalina se derramasse na corrente sanguínea e os fizesse querer ficar por ali, até para depois poderem contar vantagem aos amigos que não os acompanhavam.

Laurinha não tinha bons pressentimentos sobre o lugar mas acabou concordando com a maioria pois nem teria como sair dali sozinha.

Passaram o dia montando acampamento próximo a uma cachoeira que terminava em um lago natural antes de prosseguir o seu curso em forma de um riacho serra abaixo.

Estavam distantes uns 200 metros do tal cemitério, o que consideravam o suficiente para ter uma certa segurança e ao mesmo tempo sentir o clima de mistério que espalhava-se no ar.

Depois de banhos de cachoeira e algumas pioneirias, a noite chegou trazendo consigo o frio natural que a acompanhava.

Em volta da fogueira os oito amigos contavam histórias, namoravam, tocavam violão...comiam...bebiam, preparando-se para aquele algo mais na privacidade de suas barracas.

Uma fina névoa começou a formar-se e foi logo ganhando maior intensidade de modo que acharam melhor abrigar-se em suas barracas.

Em meio às preliminares a morte cercou-os sem que se dessem conta...chegou furtiva qual uma sombra a deslizar pela neblina como um negro vulto.

Um a um os casais foram trespassados por lanças que pareciam brotar do chão. Seus gritos perderam-se na mata, misturados aos piados dos rasga-mortalha.

*****

Semanas depois encontraram seu acampamento vazio e, mais adiante, o tal cemitério de tumbas sem nome onde agora oito novas cruzes enfeitavam a macabra morada dos mortos desconhecidos.