Os Corpos Putrefatos de Salvador
Os Corpos Putrefatos de Salvador
Jorge Linhaça
O cheiro da putrefação se espalhava pelas ruas onde os restos dos quatro homens esquartejados haviam sido dependurados. Havia cinco dias que os supliciados tinham tido seus corpos ( ou parte deles) espalhados pelos pontos de maior afluxo de pessoas na Cidade da Bahia.
A cabeça de Lucas Dantas ficou espetada no Campo do Dique do Desterro.
A de Manuel Faustino, no Cruzeiro de São Francisco.
A de João de Deus na Rua Direita do Palácio, atual Rua Chile.
A cabeça e as mãos de Luís Gonzaga das Virgens ficaram pregadas na forca exibida na Praça da Piedade.
A cena de terror explícito ocorrera cinco dias antes na Praça da Piedade, após serem arrastados pela cidade para que todos os vissem os homens foram enforcados em uma forca mais alta do que as normais para que pudessem ser vistos de longe.
Seus corpos ainda quentes foram cortados a machadadas e espalhados pelos lugares citados.
A tétrica visão fazia a muitos desviarem o seu olhar e servia como lembrança para aqueles que ousassem desafiar a ordem estabelecida.
Além desses pardos, outros companheiros haviam sido supliciados com 500 chibatadas no pelourinho que antigamente ficava no Terreiro de Jesus.
Nenhum mal haviam feito ao seu próximo, nenhum crime haviam cometido senão o de desejarem uma sociedade mais justa e com igualdade de direitos.
A santa casa de misericórdia encarregou-se de sepultar os restos dos pobres diabos em lugar até hoje desconhecido.
Corria o ano de 1798 e foi esse o saldo da chamada revolução dos búzios ou revolta dos alfaiates.
Esta é mais uma história de terror real que demonstra o quanto o ser humano é capaz de agir com tal atrocidade que mesmo no inferno talvez não seja corriqueira.
Naquele fatídico dia, o inferno comemorou não a chegada dos supliciados, mas o ganho das almas daqueles que decidiram o seu martírio.