Em Busca do Braço Perdido- parte 9

Contando as reuniões com a vidente, as revelações de João e os seis meses de organização do suporte, lá se foi um ano.

Nada de ossos , esqueletos e muito menos do braço do negro.

Restavam três anos para que tudo fosse resolvido e parecia que o horror ia se dissipando no tempo e o povo empurrando com a barriga.

Verdade que todos tinham os seus afazeres e que precisavam buscar sua sobrevivência no dia-a-dia, mas a coisa estava devagar quase parando, além disso sempre existe aquele grupinho dos eco-chatos que, não entendendo nada de ecologia real, levanta qualquer bandeira para aparecer.

Justamente lá havia um grupinho desses "bem-intencionados" defensores da natureza que diziam preocupar-se com a mata da Jurema, o impacto ambiental que a busca causaria, o estresse causado aos animais e coisa e tal.

Por mais de uma vez conseguiram barrar os avanços da negociações e os projetos de busca dos ossos do negro Tião com liminares do IBAMA e sei lá mais do que.

Parecia que estavam totalmente alheios à gravidade da situação e atribuíam tudo à superstição do povo da cidade..lá foi mais um ano, e mais outro...

Por fim, a população vendo aproximar-se a hora fatídica resolveu mandar às favas o IBAMA e Cia e um grupo começou a investigar a Mata da Jurema, com ou sem eco-chatos. Foram seis meses de buscas e apenas uma pequena parcela da mata havia sido vasculhada em busca dos restos mortais do negro.

Faltava apenas um ano e meio para o prazo final e nada de mais interessante havia sido encontrado. A coisa já estava ficando séria... o tempo ia se passando e o temor voltava a incomodar os habitantes locais.

Lembraram-se de que em um município vizinho vivia o "Mané acha-água" e já que estavam desesperados mesmo resolveram averiguar se , 'dando uma calibrada" em sua forquilha não seria possível transformá-la num "achador de ossos".

Mané chegou à cidade sem saber exatamente o que poderia fazer mas resolveu tentar a busca pela Mata da Jurema...nada...a forquilha se recusava a encontrar algo que não fosse água. A preocupação foi se espalhando qual um vírus pela cidade a cada notícia negativa. O medo parecia abraçá-los e sufocá-los quanto mais o tempo ia rareando...

Alguém teve então uma idéia...se Mané tinha a sensibilidade para encontrar água e isso não funcionava com ossos, talvez Madame Sayonara pudesse aliar seus poderes ao dele de alguma maneira.

Seguiram em uma quase procissão para a casa da madame...e depois de explicado o caso ela intentou ajudá-los, sem no entanto poder dar nenhuma garantia pois jamais tentara algo semelhante.

Pediu que lhe dessem três dias para entrar em sintonia com o cosmo e receber dele instruções sobre como proceder. A ansiedade espalhou-se pela cidade, as reações eram das mais diversas...alguns achavam loucura e que não havia mais tempo para nada e portanto a japa não resolveria o problema...outros defendiam os poderes místicos dela e outros , embora acreditando que ela Mané tivessem um dom especial, cada qual ao seu modo, não conseguiam imaginar como reunir essas forças.

Passados os três dias lá estava uma pequena multidão em frente à casa de Sayonara, observando a entrada de Mané de dos outros antigos escolhidos.

Madame explicou aos presentes que consultara o plano astral e que deveria transmitir aos presentes um repreensão pela morosidade com que trataram o assunto ao longo dos quase três anos que já se haviam passado, mas que existiria sim uma maneira de energizar a forquilha de Mané para que ela se "acostumasse" a encontrar ossos.

Mané deveria levar a forquilhas ao cemitério local na próxima lua cheia, enterra-la em uma cova virgem e deixá-la lá ficar até o ciclo da lua se completasse novamente...ou seja ela lá deveria permanecer por cerca de um mês e, a cada mudança de lua, a cova devia ser regada com uma mistura de sal-grosso, ossos moídos e fumo.

Mané tentou protestar, não podia ficar sem sua forquilhas, afinal ela era seu ganha pão e havia ainda o risco de ela apodrecer debaixo da terra por um período tão longo. Infelizmente não havia outro jeito e Mané teve de ceder ante os pedidos insistentes dos presentes e a promessa do prefeito de que sua renda mensal estava assegurada por aquele período.

Chegada a Lua Cheia lá se foram Mané e seus companheiros cuidar da tenebrosa tarefa. Além da forquilha levaram o tal preparado e agiram de acordo com as instruções de Madame Sayonara que também se fazia presente.

Terminado o ritual daquela noite ficaram todos de olho na lua e no calendário, enquanto que alguns ainda ia fazendo suas buscas por conta própria, mais por desencargo de consciência do que por acreditar que poderiam encontrar algum resto do negro.

Terminado o ciclo lunar e voltando a lua cheia, foram todos desenterrar a tal forquilha, que agora tinha um aspecto diferente , como se a madeira tivesse em parte se transformado em ossos...

Mané quase entrou em desespero ao ver sua companheira de tantos anos assim modificada pelo estranho ritual...mas nada mais podia ser feito além de esperar que ela agora pudesse fazer o que parecia impossível, localizar ossos.

O primeiro teste foi feito ali mesmo no cemitério, afinal não havia lugar mais apropriado para Mané testar a nova condição de sua forquilhas.

Concentrando-se como fazia em suas buscas por água, Mané deixou que a forquilha o guiasse para onde quisesse.

O resultado foi satisfatório, a forquilha se dobrava sobre cada sepultura onde se sabia existir algum habitante e permanecia inerte sobre outros locais.

Tudo seguia nos conformes, ao menos no cemitério...mas afinal ali não havia grandes dificuldades...ossos é que não faltavam.

O susto veio mesmo quando já estavam para ir embora....

continua...ou não...depende de vocês, leitores...não deixem de ver o inicio desta saga e seus desdobramentos nos oito capítulos anteriores.