O garoto

Naquela tarde saí do trabalho apressado pois tinha um compromisso importante e não podia me atrasar.

Peguei a avenida que passa em frente à empresa onde trabalho e segui a pé. Apesar de ser quase 18 horas o sol ainda estava alto por ser horário de verão.

Após caminhar alguns metros notei um garoto vindo em minha direção, algo nele me chamou a atenção, ele carregava duas mochilas tipo escolar e tinha um olhar estranho, um olhar que me causava medo. Aparentemente tinha olheiras e vinha direto ao meu encontro, olhando fixamente para a frente e não parecia que iria mudar seu rumo, nem para a direita e nem para a esquerda.

Eu também continuava a caminhar em linha reta, diretamente em direção ao garoto. Algo não me deixava desviar. A sensação era de que eu havia perdido o controle sobre meu corpo.

Agora o garoto fixara os olhos nos meus e estávamos bem próximos.

De repente tudo pareceu ficar escuro de repente. E a cada passo nos aproximávamos mais. Muito próximos.

Fechei os olhos quando percebi que íamos nos chocar. Ao abrir os olhos senti que nos encontrávamos, mas foi como se o garoto me atravessasse numa fração de segundos. levei um choque.

Notei que estava agora com as duas mochilas penduradas, uma em cada ombro, e que caminhava olhando em linha reta.

Olhei para trás e não vi mais o garoto. Só algumas pessoas a caminhar.

Não entendi o que estava acontecendo, mas percebi que as pessoas que vinham caminhando ao meu encontro se desviavam de mim, aparentando medo nos olhos.

Olhei novamente para trás e ele estava lá. O garoto. E tinha um sorriso maquiavélico nos lábios. Só então pude ver quão assustador ele era. Para meu desespero pude ve-lo tomando minha forma e continuar sorrindo e virar as costas e seguir seu caminho.

Foi então que percebi que ele havia trocado de corpo comigo e agora eu era o garoto com olhar malígno e com as mochilas na costas.

Por isso as pessoas se desviavam e sentiam medo.

Continuo vagando pelas grandes avenidas até aprender a fixar meu olhar em alguém desavisado e continuar esse ciclo até me encontrar novamente e poder entrar em meu verdadeiro corpo.

Portanto ao caminhar por uma avenida e avisar um garoto com duas mochilas e olhar sinistro, desvie seu olhar, ou continue encarando-o caso queria passar pela experiência que tenho passado por todos esses anos.

A escolha é sua...

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 19/02/2012
Reeditado em 24/02/2012
Código do texto: T3508390
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