Multidão de estranhos
Aquele sábado estava muto frio e cinza, incomum para a época, mas estava do jeito que sempre gostei. Particualrmente eu não tinha nada de especial para fazer e resolvi dar umas voltas ao centro.
Fuçar em alguma livraria, ou talvez na loja de produtos naturais e veganos para ver se havia alguma novidade.
Há dias eu estava passando por uma fase cinza, quase que sombria. Não sei exatamente o tipo de sentimentos estava sentindo, mas era uma tristeza, uma sensação de vazio, um medo constante, uma sensação de que nunca estava sozinho. Nem mesmo quando estava em minha casa durante a noite. E morava sozinho em um apartamento em um bairro afastado do centro.
As ruas estavam pouco movimentadas, talvez por causa do tempo frio, acredito eu. Andei a esmo, entrando em algumas lojas, de livros, CDs, alimentos naturais, comprei pequenas coisas. Passei em uma lanchonete onde tomei um chá bem quente. Poucas pessoas estavam ali, mais para se abrigar do frio do que para gastar.
As pessoas pareciam todas hipnotizadas, como se olhassem para o nada.
Paguei e saí. Continuei a caminhar até que quando notei estava sozinho na rua. Mas ainda assim a sensação de pessoas me acompanhando, parecia ouvir vozes, rumores, passos. Tive medo.
E eu olhava para trás e não via nada, apressei meus passos.
E uma coisa que vi me arrepiou dos pés à cabeça. Eu estava andando bem rápido, mas ao passar por uma grande vitrine, quando me virei para ver meu reflexo nela, devo ter ficado totalmente branco e trêmulo. Além de me ver refletido no vidro, pude ver muitas outras pessoas, quase uma multidão. E eram pessoas de todas as épocas, pelo que pude notar pelos seus trajes.
Mas foi uma visão muito rápida. Porque quando dei mais um passo, sai de frente do grande vidro que formava a vitrine.
Me virei para frente e fiquei imóvel por alguns instantes. Não sabia se vira mesmo aquela multidão ou se fora apenas minha imaginação me pregando uma peça.
Eu poderia voltar e olhar para a vitrine mas tive medo. Agora havia alguns pessoas circulando pelas ruas. Algumas até me olhavam, como se eu estivesse passando mal.
Continuei a caminhar, evitando olhar para os lados, principalemente onde haviam vitrines.
De repente novamente percebo a rua vazia, e me aproximo de uma grande vitrine. Sabia que era o momento de perder o medo e olhar para o vidro. E pior, sabia que estariam lá. Todos eles.
Ao me aproximar, senti todo meu corpo tremer, uma sensação de curiosidade misturada com pavor,
Estava bem em frente á vitrine, meu coração estava disparado. Mas eu precisava olhar.
Eram muitos, estavam lá, me olhavam. Eram homens e mulheres, jovens e velhos. Todos tinham o olhar triste e perdido no tempo. Soube nesse momento que sempre estariam comigo.
Ainda hoje sinto a companhia deles por onde quer que eu vá, porém nunca mais passei em frente a vitrines ou espelhos porque sei que eles estão todos lá. E que um dia eu estarei com eles e juntos acompanharemos outra pessoa.