Em busca do Braço perdido- parte 8
Em busca do Braço perdido- parte 8
Jorge Linhaça
Além disso, continuou o João, eu não tinha a mínima idéia da história do negro Tião, só depois que parti é que soube que ele pro causa do fracasso em me matar teve de esperar mais um bom tempo para poder voltar a agir, aliás teve de esperar a minha morte, motivo pelo qual nunca mais atacou alguém durante o tempo em que permaneci vivo.
Existem leis que regem o sobrenatural que não são permitidas aos humanos conhecer enquanto caminham sobre a terra.
Acompanhei deste meu lado do véu todos os acontecimentos, no entanto não poderia me manifestar até que fosse convocado para tal.
Eis que agora a minha missão está chegando ao fim e não mais voltarei a fazer contato com vocês a não ser que me seja solicitado por um poder maior para dar alguma nova informação.
Quanto a vocês, lembrem-se de meu aviso:
Qualquer um pode procurar e localizar os ossos de Tião, mas aquele que for o designado para montar o seu corpo na antiga casa grande deve ter muita fé e não deixar-se levar pelo terror que certamente há de rondá-lo enquanto cumpre a sua missão.
Nada mais vos posso revelar e agora despeço-me. Lembrem-se 4 anos não é um tempo por demais longo e nem tão curto, só depende de vosso empenho para não adiarem a tarefa e falharem em vosso intento.
Adeus!
Dito isso João se foi, deixando Madame Sayonara quase que desfalecida.
Seu assistente pediu que todos se retirassem pois ela precisava de um longo repouso para restabelecer seu equilíbrio energético.
Lá fora a multidão aguardava ansiosa pelas novas revelações de João sem braço, horas haviam se passado desde que os quatro adentraram a casa da mística japonesa. Quase ninguém havia arredado pé desde então, senão algumas mulheres com suas crianças, devido ao adiantado da hora.
Os quatro escolhidos no entanto, pediram que uma reunião fosse marcada no ginásio de esportes para que eles lá pudessem dar os detalhes da revelação de João no dia seguinte, no momento tinham de digerir as instruções de João e buscar na tranquilidade de suas casas, acalmar suas almas agoniadas diante de tão grande tarefa.
O prefeito consentiu na reunião na noite seguinte.
O povo decepcionado ainda tentou tirar alguma informação dos quatro mas estes apenas disseram que precisavam da paciência e da ajuda de todos e que amanhã tudo seria esclarecido.
*****
No dia seguinte o ginásio de esportes estava lotado, as pessoas se apinhavam umas sobre as outras exceto no pequeno espaço reservado para as autoridades e os participantes da sessão.
esse espaço ficava no fundo do ginásio, onde foi colocada uma mesa e instalado o som para que todos pudessem ouvir o que eles tinham a dizer, dois metros era o que os separavam da multidão. Era palpável a ansiedade e o medo instalado no coração dos presentes.
Como sempre acontece nessas ocasiões o prefeito tomou a palavra, aproveitando a oportunidade para angariar a simpatia do eleitorado e dar a impressão de que estava diretamente envolvido na investigação sobrenatural...após alguns minutos foi interrompido por gritos vindos de vários cantos do ginásio de esportes pedindo que se calasse que a coisa era séria e ninguém estava ali pra perder tempo.
Meio sem jeito o prefeito deu um jeito de terminar seu discurso ao meio e passar a palavra para os personagens tão aguardados e seu relato sobre os últimos acontecimentos.
Um a um, nossos quatro amigos foram relatando a história e as instruções de João sob o olhar espantado e preocupado dos habitantes ali presentes.
Explicaram que era necessário o esforço de todos para localizar os restos do negro Tião espalhados pela Mata da Jurema e também para encontrar seu braço no Morro do Judas.
O burburinho foi geral, as pessoas conversavam entre si abafando a voz dos quatro relatores dos fatos.
A simples menção ao Morro do Judas já foi suficiente para fazer gelar o sangue nas veias dos mais velhos...os demais se perguntavam entre si como seria possível encontrar os ossos do negro espalhados pela mata há séculos atrás. O sentimento geral era de que a tarefa parecia impossível.
Após grande esforço do prefeito ao microfone pedindo silêncio repetidamente, no mais variados tons de voz, a platéia finalmente foi silenciando ainda que cheia de temores e dúvidas.
todos já sabiam o que fazer, a questão agora era outra...era como levar a termo as buscas, começar por onde? Como reconhecer os restos do negro? Qual a logística que seria aplicada? Quando se dariam as buscas na mata? Como se dividiriam os grupos? A quem caberia a colocação do esqueleto restaurado do negro na assombrada ruína da casa grande?
Isso não era um assunto que pudesse ser resolvido ali, nessa única reunião, envolveria uma série de recursos humanos e provavelmente equipamentos e assessoria de especialistas em antropologia.
Os primeiros seis meses, tirando uma ou outra incursão pela Mata da Jurema foram gastos exatamente para tentar dar um mínimo de organização e suporte ao projeto macabro.
continua...