em busca do braço perdido, parte 5

O Decepador de Braços Parte 5

Jorge Linhaça

Durante toda aquela semana a cidade ficou em polvorosa. Por todos os lados comentava-se sobre a visita do João sem Braço através da vidente e a história do suplício no tal negro centenas de anos atrás.

Quem participara da reunião ainda não se recuperara totalmente da experiência fantasmagórica.

Procurou-se em vão entre antigos habitantes da cidade para saber se alguém havia ouvido de seus pais ou avós alguma coisa a respeito do tal senhor de escravos ou do suplício do negro relatado pelo espírito do João.

Só o que se sabia é que a cidade antigamente era realmente uma imensa fazenda e que com a decadência do cultivo do café acabou sendo vendida e desmembrada em várias propriedades menores e parte da mesma foi onde cresceu o pequeno povoado, hoje ao pequeno município onde viviam.

A lembrança do tal fazendeiro no entanto havia se perdido nas areias do tempo. A única referência a ele estava nos documentos de posse das terras e sabia-se apenas que seu nome havia sido Judas Boamorte.

O tome tão macabro e sombrio espantou qualquer dúvida dos corações dos habitantes sobre o tipo de homem que haveria de ter sido. Além disso, nenhum coronel ou barão jamais gozou de boa fama quanto ao trato dos escravos e mesmo dos empregados. Portanto a história contada pelo João sem Braço se revestia de imensa credulidade.

Quanto ao negro absolutamente nada pôde ser apurado, já que escravos não recebiam nenhum tipo de registro senão a carta de propriedade de seus senhores. Nem mesmo os velhos registros paroquiais serviram para saber da causa da morte de algum negro em tais condições. Ao contrário do que acontecia com os registros dos nobres, ricos e poderosos, os dos pobres eram o mais sucintos possíveis, os dos escravo então mal preenchiam duas ou três linhas nos registros paroquiais.

As conversas de boteco giraram aquela semana sempre em torno do mesmo tema, nada de futebol ou política, só se falava sobre João sem Braço e o tal negro que coincidentemente também havia tido seu braço decepado, e ainda por cima, o braço esquerdo.

Tal e qual os cadáveres encontrados de sete em sete anos.

Foi chegando enfim o dia da nova reunião...adultos, velhos, mulheres, crianças, não conseguiam esconder a ansiedade sobre o que mais o Vilavelha poderia revelar sobre o suplício do negro e o mistério das mortes que se repetiam de tempos em tempos da mesma maneira, tal como a assinatura de um serial killer.

No dia marcado a porta de Madame Sayonara concentrava uma multidão quase tão grande quanto a de algum Show na pequena cidade. parecia que todos os habitantes haviam para ali acorrido.

Aqueles que deveriam estar na reunião, tiveram enorme dificuldade em chegar à porta de entrada da médium japonesa. Além do esforço para ultrapassar a multidão, chegaram suados pela antevisão do que poderia lhes ser mostrado nessa noite.

Sentaram-se em seus lugares e efetuado o mesmo ritual de antes, a mulher começou a evocar João Vilavelha mais uma vez...

continua ou não, depende de sua permissão....muito cuidado com o João e a sua revelação.

Salvador, 17 de fevereiro de 2012