VAMPIROS 8 – O CAIXÃO DO MORTO

Os piratas estavam procurando, na verdade, um tesouro e encontraram no meio da ilha, três caixões. As opiniões ficaram divididas, pois os caixões eram belíssimos. Lindos, chiques, imponentes, com certeza valiam muitos guinéus. O problema é que eram caixões e como não conseguiam abri-lo, desconfiavam que havia gente morta dentro deles. E encontrar três caixões, numa ilha deserta, no meio do nada, era no mínimo estranho. As discussões ficaram acirradas. Com certeza os caixões valiam alguma coisa e tirando os mortos, deveriam conseguir vender na Espanha por um bom preço. Mas ficar navegando com gente morta dentro de caixões – isso, presumindo-se que havia gente morta dentro, não era muito animador. Mas a ganância, um dos pratos principais dos piratas, venceu. Levaram os três caixões, sem muito problema para o Rainha Elizabeth, um grande galeão conquistado numa batalha. Os caixões ficaram no porão de carga. E como não conseguiram abrir nenhum dos caixões, é lógico que imaginavam que ninguém iria sair de dentro deles. Apressaram-se em carregar a presa, único tesouro encontrado na ilha, antes que chegasse a noite, onde ninguém enxergaria mais nada.

Quando a noite chegou, apressada, escura, sombria, no ar que ficou de repente pesado, a tampa de um dos caixões começou a se mexer, afastando-se muito lentamente, de lado. Um homem, um nobre, lindo, de cabelos loiros e um brinco de pirata na orelha esquerda saiu e ficou a tentar imaginar onde estava. Ele já conhecia o balanço do mar e soube logo que estavam num navio. Havia o som de marujos acima da sua cabeça conversando, assim como o cheiro de comida e vinho. O vampiro usava um colar que dizia que comprovava que ele era pertencia à Ordem de Abruz e Calazar. Cleon acordou Amélia e Richard. Confabularam durante um tempo sobre o que fariam. Não poderiam sair imediatamente e se mostrar aos marujos, que não sabiam ainda que eram piratas. Acharam melhor tentar descobrir para onde estavam indo e ficar incógnitos. Os caixões não poderiam serem abertos por fora, facilmente, então estariam seguros durante o dia e poderiam sair à noite sossegados. Pegariam um pirata por noite para alimentá-los e depois jogariam o corpo na água da madrugada. Decididos do que fariam, os Cavaleiros da Ordem saíram por uma escotilha e desenvoltos, como aranhas, andaram pelo casco do navio, olhando, observando.

Dentre a raça bandida e assassina dos piratas, Jonas era a pior porcaria que já existira. Só pensava em beber vinho, preguiçoso, não gostava de ajudar nos trabalhos diários no navio. Briguento e chato, vivia arrumando conversa com os que dividiam o navio consigo, pois ele não tinha nenhum amigo no navio. E olhe lá se tivesse algum amigo no mundo. Só se explicava a sua estada no navio, pois a raiva que ele tinha do mundo, de tudo e de todos o fazia ser um dos melhores e mais valentes na hora do saque. Jonas era um traidor, roubava até comida do prato dos outros, fofoqueiro e de modos rudes vivia chingando todos, tratando-os como se os outros fossem os seus empregados. Uma vez o capitão, Ávila de Assis colocou Jonas na prancha devido a ele ter matado um dos outros piratas, enquanto jogavam pôquer. Mas devido à polemica, estava certo, não estava, o outro também era de raça ruim, mal-quisto por muitos, então Jonas se livrou. A sua ficha em terra era uma das piores possíveis. As prostitutas, em todos os portos o evitavam. E foi justamente a esse homem horrível que a doce e linda Amélia apareceu sorridente de repente na sua frente, naquela primeira noite com os caixões dos mortos. Amélia era baixinha e simplesmente linda. Vestida com um vestido rodado, azul claro, de festa, com os ombros à mostra, a linda cabeleira cacheada e enorme, fez o pirata imaginar que estava tendo uma visão. Logo praguejou, imaginando que o capitão tinha escondido essa guria só para si na cabine, mas ela saíra, reconhecendo um homem de verdade nele. Encantado com Amélia, Jonas de repente viu-se agarrado por mãos fortes, atrás do mastro principal. Ele nem viu direito quando torceram o seu pescoço. Morto o pirata que fora escolhido pelos três, como o pior homem no navio e que merecia morrer logo, foi levado pelos vampiros até o porão, onde seu sangue, serviu de alimento aos vampiros, naquela noite.

Desde então, todos os dias passou a sumir um pirata no navio. Os homens a principio imaginaram que os homens estavam caindo na água, bêbados, na noite escura. Entretanto muitos homens sumiram do nada e um corpo voltou. Voltou todo mordido por dentes pontiagudos. Eles a principio pensaram que algum animal marinho, desconhecido, os estava atacando, ou alguma bruxa. Não demorou até que lembrassem dos caixões e naquela noite o abririam de qualquer maneira.

Num alvoroço de homens com tochas, desceram todos do navio até o porão, onde estavam os caixões, abertos. Estupefatos os piratas viram três pessoas, vivas, conversando. Durante um instante nada aconteceu e ficaram os dois grupos se olhando, sem saber o que fazer. De repente estavam todos numa batalha de vida e morte. Gritos e facas e espadas, assim como tiros de garrucha foram disparados contra os dois homens e a mulher. Os piratas não esperavam tal reação dos clandestinos. A morte pairou durante aquela noite sombria no Rainha Elizabeth. Quando os primeiros raios do Sol apareceram, só os vampiros estavam de pé, todos os homens do navio tinham morrido.

O Rainha Elizabeth foi encontrado pela marinha Inglesa, algum tempo depois. Com um cheiro horrível de morte, os marinheiros do rei encontraram no navio dezenas de cadáveres, todos com mordidas muito finas de algum animal. O capitão inglês mandou tacar fogo no navio pirata. Mas antes levaram três luxuosos caixões, para seu barco. Naquela noite um homem sumiu, provavelmente, pensaram eles, caiu no mar.

pslarios
Enviado por pslarios em 16/02/2012
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