Em Busca do Braço Perdido ..parte 3

Em Busca do Braço Perdido..parte 3

Jorge Linhaça

Procuraram a família de João e encontraram um neto que se dispôs a ir à tal vidente.

Após uma longa entrevista Madame Sayonara marcou o dia para que pudesse evocar o espírito de João Sem Braço, ou melhor, João Vilavelha.

A notícia espalhou-se pela cidade qual um rastilho de pólvora, não houve vivente que não aguardasse ansioso o dia da tal sessão.

No dia marcado, uma multidão aboletou-se em frente à casa de Madame Sayonara na esperança de poder participar dos trabalhos que ali seriam realizados.

A decepção foi geral pois só foi permitida a entrada do neto de João e de mais três ou quatro familiares das outras vítimas mais recentes, portanto parte interessada diretamente na mensagem do João.

Após uma preparação com várias instruções aos presentes, a fim de que a energia não se dissipasse, a vidente iniciou o seu ritual de preparação para a possível visita do aguardado João.

Entrou em estado de meditação murmurando um mantra numa linguagem que nenhum presente entendia...o silêncio à sua volta era sepulcral...as pessoas ali presentes tiveram impulsos de ir embora mas a curiosidade calou mais forte em suas almas.

Os minutos passavam e a ansiedade dos presentes ia aumentando,causando quase que uma claustrofobia.

Madame Sayonara começou a evocar a presença daquele que em vida havia sido chamado de João Vilavelha e mais tarde de João sem Braço.

Nada parecia acontecer...a inquietação de tosos era patente, seus rostos tensos e o olhar fixo na vidente, deixavam transparecer um misto de medo, ansiedade e já agora de dúvida sobre se a sessão levaria a algum lugar.

Repentinamente pareceu a todos ouvir um sussurro bem longínquo, o qual não podiam decifrar...Madame Sayonara continuou sua evocação de olhos fechados até que sua voz modificou-se e um som gutural saiu de sua boca:

-Quem interrompe o meu descanso?

O medo estampou-se na face dos presentes e, não fosse a intervenção do assistente de Sayonara e provavelmente todos sairiam correndo porta afora.

- Seu neto e outras pessoas da cidade são os que evocam, João, necessitando de teu auxílio para desvendar um grande mistério.

-E que mistério é esse que, estando eu em outro mundo,acham que posso resolver?

Já há quase 50 anos que caminhei pela última vez, vestido de meu corpo, por sobre esta terra onde vocês ainda habitam...

Calafrios percorriam os corpos dos presentes, o medo agora tinha voz e dirigia-se a eles com uma voz quase que sepulcral que ecoava pela sala mal iluminada.

O neto de João, reunindo suas forças disse:

Avô, queremos saber por que a cada sete anos ocorrem três assassinatos em três dias em nossa cidade e em todos eles é arrancado/decepado o braço esquerdo dos pobres diabos...

- Essa é uma história longa, que tem ligação com o dia em que eu sofri o acidente onde perdi meu braço...estão preparados para ouvi-la?

-Sim, estamos ansiosos para ouvi-la, quanto a estarmos preparados não sei dizer...

- Então abri vossos ouvidos e fechai os vossos olhos e prestem atenção no que virem e ouvirem...disse João.

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continua, ou não...depende de sua petição...muito cuidado com a revelação.

Salvador, 16 de fevereiro de 2012