Em Busca do Braço Perdido segunda parte

Em Busca do Braço Perdido- segunda parte

Jorge Linhaça

O povo da cidade resolveu apelar para os poderes de Madame Sayonara.

Como vimos no capítulo anterior a contagem dos cadáveres mutilados já chegava a 18 nos últimos 42 anos seguindo a macabra relação de três a cada sete anos.

Os últimos defuntos mal haviam sido sepultados quando uma comissão de habitantes dirigiu-se à casa da vidente/mãe-de-santo/macumbeira/benzedeira japonesa.

Madame Sayonara, agora já idosa, ouviu atentamente, com toda aquela paciência oriental, os pedidos confusos e desorientados da comissão. Nessa hora todo mundo quer falar e pouco sabe do que diz, não é verdade?

Era sensível o pânico e o medo instalados nas almas daquelas pessoas humildes.

Sayonara, ouviu, filtrou, aguardou que todos se acalmassem e depois perguntou com um sotaque meio carregado...

_ Voxês querem qui Madame evoque us espírito dos que acabaru de morrê né?

Ixo num funxiona axim, né...eles precisa primêro sê recebido lá du ôtro lado, passá poruma ispéci di treinamento né, só depoois dixo é que eles podim falá com madame, né.

- Mas , madame, nós temos urgência, não aguentamos mais essas mortes acontecendo. Ninguém consegue descobrir nada...

-Madame num podi fará com quem não tá aqui...madame só pode tentá fará com quem já partiu faz tempo né...tem alguém aí da famíria dos que morreru já faiz tempo?

Não havia ninguém na comissão que fosse parente de algum dos pobres diabos mais antigos.Na verdade a maioria dos parentes daqueles mortos acabaram por mudar-se de cidade, receosos de seguir os passos de seus entes queridos.

Madame Sayonara pediu que voltassem quando encontrassem algum familiar pois isso era impreterível para que o contato pudesse ser feito.

Por semanas o povo da cidade tentou encontrar e convencer algum parente das antigas vítimas a ir até a japa.

Dos poucos parentes restantes, uns não acreditavam nessas coisas, outros morriam de medo e alguns agora eram crentes, o que excluía esse tipo de conversa com os mortos.

Já estavam se conformando com o fracasso da missão já que nem os que haviam mudado de cidade se dispunham a voltar à sua terra. 42 anos é tempo pra caramba.

Foi quando no meio da discussão, um dos bêbados da cidade que tomava umas e outras ali ao lado, soltou seu pitaco:

- Deixa pra lá esse bando de João Sem Braço...eles num querem nada com nada...

João sem braço...depois dos primeiros ataques, essa expressão foi sendo banida tacitamente do vocabulário popular até cair quase que no esquecimento.

Foi somente ai que os mais antigos de lembraram do João Sem Braço que havia morrido uns 49/50 anos atrás.

A família de João, ou melhor, o que restara dela, ainda morava pelas redondezas. como João havia morrido oficialmente de causas naturais, nunca ninguém pensara em relacioná-lo com os mutilados que começaram a aparecer sete anos depois.

Era a última chance de resolver o mistério, quem sabe o espírito já tão repousado de João Vilavelha não poderia ter as respostas sobre os nefastos acontecimentos.

Procuraram a família de João e...

continua...ou não...depende de sua petição...rsss

Salvador,16 de fevereiro de 2012