Entre quatro paredes

Entre quatro paredes

Jorge Linhaça

"Entre quatro paredes vale tudo" é o que costumam dizer em relação ao ninho de amor onde os amantes dão vazão ás suas fantasias mais intensas e mesmo grotescas.

Entre quatro paredes as pessoas se transformam, dando vazão aos instintos e buscando novas formas de prazer, experimentando o que é impensável para alguns.

Foi entre quatro paredes que o casal buscou quebrar a rotina e a monotonia, seus corpos nus e os brinquedinhos buscavam maneiras diferentes de estimular as libidos, de prolongar o prazer me jogos cada vez mais devassos por assim dizer.

Enquanto entregues aos eróticos jogos mal se aperceberam do ruído estranho que parecia vir de dentro das paredes do velho hotel.Deixaram para lá imaginando que se tratasse de algum problema de tubulação ou de alguma outra dupla realizando suas experiências íntimas.

Continuaram a alegre brincadeira mas o ruídos foi-se tornando mais intenso, inclusive desconcentrado-os dos momentos de intimidade.

as paredes pareciam estar cada vez mais próximas embora isso parecesse impossível...passado o torpor causado pela quase exaustão causada pelas horas de jogos e descobertas, o pânico estampou-se em seus olhares...as paredes, como que criando vida,avançavam em sua direção arrastando tudo que estivesse em seu caminho. Correram imediatamente para a porta tentando em vão abri-la...o terror aumentava a cada centímetro percorrido lentamente pelas paredes.

A cama num repente girou sobre o eixo do chão e dando lugar a uma cópia exata do assoalho do velho quarto.Uma porta de aço isolou o banheiro, talvez o último refúgio para onde poderiam se dirigir...o arrastar das paredes sobre o assoalho e sob o teto criava um som de verdadeiro pavor, Não havia para onde ir...não havia por onde escapar...a proximidade da morte quase que congelava suas almas enquanto que os corações batiam descompassadamente no peito.

O prazer que haviam sentido até então apagou-se de suas mentes restando-lhes apenas as faces crispadas como uma verdadeira máscara do medo.

Apenas um metro os separava da morte, a exata distância entre as paredes quando estas finalmente pararam de maneira tão misteriosa quanto haviam se movido.

Ficaram ali parados como que a espera do desfecho que não acontecia...aos poucos o coração foi desacelerando e a respiração voltando à normalidade...por algum motivo aquilo que os quase matara de pavor, agora os deixara novamente excitados...sem conseguir pensar direito entregaram-se novamente ao prazer mesmo entre tão pequeno espaço para se moverem.

Um olor de almíscar perfumava o quarto dando uma atmosfera afrodisíaca ao casal...quase sem perceber já estavam entregues ao desejo e às carícias, como que a comemorar a pretensa salvação.

Seus corpo se engalfinharam em uma fúria de sexo que jamais experimentaram ao longo de sua vida...como se de repente tivessem renascido famintos pelo prazer puro e animalesco da luxúria de seus corpos.

Quando finalmente seus corpos estremeciam no auge do prazer, chegando juntos ao orgasmo, o ruído de uma mola foi a última coisa que ouviram...uma das paredes foi como que arremessada contra a outra,transformando-os em uma massa disforme onde se misturavam sangue e fluídos corporais em uma única coisa.

Olhando pelo seu monitor, o porteiro do velho hotel finalmente gozou ao ver o desfecho de sua obra, agora completa.

Salvador, 15 de fevereiro de 2012