O Apedrejamento
Era o dia da execução.
Como réu, devia aguardar a chegada dos carrascos que, logo às primeiras horas da manhã, já se encontravam nas cercanias do grande fosso.
Deixaram-me lá, acorrentado pelos pulsos a duas grandes pilastras de pedra, com os pés mergulhados na lama recebendo durante a noite gélida as gotas inoportunas de uma chuva fina. Não morri no frio, o que deveria ter sido melhor.
A multidão aos poucos se acercava. A morte, em todos os tempos, sempre foi um espetáculo.
Uma tosse persistente incomodava, mas não fora rápida o suficiente para me exterminar.
Vestindo andrajos, com a barba negra, suada e comprida a bater-me no peito, esperava por uma hora que não chegava.
O primeiro raio de sol iluminou a vastidão do espaço, ao que pude perceber, dando início a um brado da multidão. As fundas começaram a girar nas mãos dos meus algozes e deveria apenas esperar o tiro certeiro da primeira pedra. Surpreendi-me ao ver que, ao invés de pedras, lançavam-me moedas. O zunido no ar terminava, algumas vezes, em meu corpo causando pequenos cortes que se acentuavam. A chuva de metal começara e não se cansavam daqueles arremessos. Ao baterem na cabeça e na testa faziam pequenos cortes doloridos. Não podia proteger-me com as mãos, pois o metal das correntes não permitia.
Queria a morte rápida e ela não vinha.
Por que lançavam moedas ao invés de pedras?
O mistério permaneceria na vida além dessa vida.
Senti que o corpo desfalecia, mas não pude ser morto. Quando seus braços se cansaram, via-me cercado e apoiado por uma montanha de dinheiro. Comecei a rir, pois ainda estava vivo. Levantei os olhos e, em um segundo, despertei para a realidade. O primeiro raio de sol despertava-me. Não havia moedas, apenas a lama e o mal cheiro e o brado da multidão ecoando. Nisso, ao olhar para o alto, pude ver uma pedra vindo diretamente na direção do meu olhar e de nada mais me lembro...