Carnaval de Sangue
Jorge Linhaça
O carnaval é a festa profana mais esperada em terras tupiniquins, principalmente pelos que faturam alto com o evento.
É a tal época do vale-tudo, ninguém é de ninguém e vamos que vamos.
O povo quer mesmo beijar na boca ou em se tratando de homens beijar "as bocas" da mulher escolhida para cada dia folia.
Nos meses seguintes é que vem o resultado da promiscuidade consentida e até esperada por todos.
Abortos em massa são feitos para aliviar o fardo da irresponsabilidade regada a álcool e letras de músicas que incitam ao coito.
Afinal, o carnaval é uma festa pagã ligada às orgias em nome da deusa da fertilidade.
Afinal, o carnaval é uma festa pagã ligada às orgias em nome da deusa da fertilidade.
Mas este carnaval foi diferente...
Após anos e anos de devassidão plena e explícita, os espíritos dos mortos do carnaval resolveram traçar a sua vingança...
Foi na quarta feira de cinzas, durante o popular arrastão que fecha a festa.
O trio elétrico conduzia a multidão atrás de si, como de costume, em meio ao povo um bloco que ninguém conhecia vestia suas mortalhas, traje já esquecido e substituído pelos abadás vendidos a peso de ouro.
A mortalha cobria o corpo todo dos foliões que pareciam ter ressuscitado de antigos carnavais.Todos eles mascarados e dançando ao som do trio elétrico como autênticos pipocas.
Em meio ao percurso os mortalhados começaram a se deixar ficar para trás enquanto outros foram assumindo as laterais da massa humana que não deu a menor atenção ao fato.
O arrastão continuava sem que ninguém suspeitasse do que os aguardava adiante.
Ao se aproximarem de Ondina o inferno subiu à terra, os mortalhados tirando as máscaras revelaram suas faces esqueléticas enquanto que com suas garras afiadas iam dilacerando e desmembrando quantos foliões atravessassem o seu caminho...o terror espalhou-se num banho de sangue sem precedentes, o asfalto tingiu-se de vermelho sem que ninguém pudesse fazer frente aos emissários do demônio.
O trio elétrico comandado pelos artistas até tentou afastar-se da multidão atropelando a muitos pelo caminho enquanto outros tentavam escalá-lo no desespero de salvaguardar suas vidas...
Os gritos de morte podiam ser ouvidos por todos os lados...os mortalhados eram imunes a tudo, mesmo às balas dos policiais...
Os poucos foliões que conseguiram furar o bloqueio dos mortalhados corriam sem direção tomados por um horror que jamais imaginaram pudesse ser sentido.
Os gritos de morte podiam ser ouvidos por todos os lados...os mortalhados eram imunes a tudo, mesmo às balas dos policiais...
Os poucos foliões que conseguiram furar o bloqueio dos mortalhados corriam sem direção tomados por um horror que jamais imaginaram pudesse ser sentido.
O trio elétrico foi tomado pela fúria assassína das macabras criaturas até que não restasse ninguém.
Os helicópteros das emissoras que cobriam o evento gravaram a carnificina sem precedentes.
Ao fim da carnificina os mortalhados foram se metamorfoseando nos espíritos de crianças jamais nascidas, frutos abortados da árvore da luxúria e da promiscuidade. Os filhos perdidos do carnaval.
Desapareceram no ar, dando como concluída a sua missão.
Nunca mais o carnaval foi o mesmo.
Salvador,13 de fevereiro de 2012