Doutora T
SOU OU NÃO SOU A MÉDICA PERFEITA PARA ATENDÊ-LOS?
Uma garotinha linda, pequenina, com uns cinco anos de idade entra quase atravessando a porta do meu consultório, desviando minha concentração, que antes estava em um objeto em cima da mesa. Chegou ofegante falando coisa com coisa. Minha secretária entra em seguida, pedindo desculpas por deixar a criança me importunar. Peço, com um gesto de mão, para que a minha secretária se cale, me agacho para ficar na altura da garota, afago-lhe o rosto, lhe enxugo as lágrimas dos pequenos olhos e pergunto qual o problema. A menina com dificuldades de falar, tanto por causa do choro quanto pela falta de conhecimento pleno da língua, desabafa a seu modo que sua mãe está morrendo. Me levanto, limpo os joelhos e peço para menina se acalmar. Morando bem ao lado do hospital, atender aquela emergência não me faria em nada perder meu precioso tempo, não custaria nada ajudá-la. Pedi á secretária que adiasse alguns pacientes menos importantes e segui a garotinha apavorada até sua casa.
A residência era humilde, pelo menos eu não moraria ali. Entrei olhando as paredes com algumas rachaduras, a casa vazia de móveis e pouca iluminação, com chão de tacos já gastos se desprendendo.
A mãe da menininha convulsionava no precário sofá, enquanto eu só conseguia pensar que aquele casebre precisava de uma boa reforma.
A menina me pediu suplicando que ajudase a mãe enferma. Em um lapso irracional, falei a pequena o preço da consulta, a mesma olhou me sem nada entender.
Minutos depois estou de volta e minha secretária me perguntando se mais essa operação foi bem sucedida. Olhei fixamente em seus olhos dizendo:
-Eu não estudei medicina 6 anos e tive aulas adicionais para trabalhar de graça.
Em seguida peguei o telefone e disquei um número:
-Alô, é da funerária? Brevemente vocês terão para enterrar o corpo de uma mulher... Sim... Mora logo aqui ao lado...Hãrã...Concordo... Tchau, bom dia para o senhor também.
E desliguei o telefone sobre o olhar estarrecido de minha secretária.