Pesadelos: Os Cavalos dos Demônios  parte 2
Jorge Linhaça
 
Leopoldo era um desses caras boêmios que adorava tomar umas e outras e voltar pro seu cafôfo quando a lua já ia alta no céu.
Certa feita, em seu habitual percurso, percebeu que algo diferente pairava no ar, um certo odor enjoativo como que a mistura de enxofre e almíscar.
Escolado nas coisas da vida começou  ficar ressabiado e resolveu caminhar o mai camuflado possível pelo caminho...
Lá adiante viu como que uma fogueira estranha a arder em meio à escuridão. Aproximou-se cautelosamente, mantendo, no entanto, uma distância segura do estranho fenômeno.
Por sorte estava contra o vento de forma que seu cheiro espalhava-se para trás de si e não na direção do evento fantasmagórico.
Firmou bem a vista e foi quando deu conta que a tal fogueira era na verdade um corcel negro envolto em chamas em suas extremidades.
Seu relincho, emitido em dado momento era tão macabro e aterrador que sentiu as pernas amolecerem e o coração acelerar dentro do peito.
A descarga de adrenalina serviu ao menos para cortar, em parte, os efeitos do álcool e desembaçar a sua visão entorpecida até então.
 
A cena que viu era quase que inenarrável, o tal corcel infernal devorava um pobre coitado arrancando-lhe as entranhas com seus poderosos dentes, enquanto esfacelava o corpo  deste com o poder de seus cascos afiados como lâminas.
 
Sentiu vontade de correr ou de gritar mas suas pernas não lhe obedeciam e o grito ficou preso na garganta diante da pavorosa cena.
Presenciou o insólito banquete sanguinário dali mesmo onde estava sem conseguir mover um músculo sequer.
Quando enfim o banquete estava ao final, viu a alma do miserável ser sugada pelas narinas fumegantes do animal.
 
Da casa em frente ao fato presenciado, surgiu uma figura feminina, linda e diafanamente vestida, de tal forma que era possível perceber a sua sensualíssima nudez.
Pensou que o animal ia fazer mais uma vítima e teve vontade de gritar para avisá-la para que fugisse, mas o seu pavor era por demais forte para tal ação e isso salvou-lhe a vida afinal.
 
A mulher deliciosamente sensual afagou o corcel e subiu em seu dorso, para em seguida galgarem o céu como se uma estranha estrada invisível se formasse sobre os cascos ardentes do mustange assassino.
 
Somente depois de recobrado do susto e ir em busca de explicações é que descobriu que o cavalo de fogo era um pesadelo e sua amazona um Súcubos que havia acabado de se alimentar da energia sexual de uma vítima, numa orgia demoníaca.
 
Leopoldo abandonou a boemia naquela noite, nunca mais quis correr o risco de deparar-se com uma cena como aquela.
 
Salvador, 12 de fevereiro de 2012