A Macabra Procissão dos Escravos...parte 2 de 2

A Procissão Dos Escravos parte 2 de 2

Jorge Linhaça

Os negros outrora supliciados estão aqui para executar a sua vingança e os outros para expiar as suas culpas de sete em sete anos até que se cumpram setenta vezes sete anos dos fatos passados.

As filhas dos antigos donos dos escravos foram estupradas por cada um dos negros presentes, como que para fazer uma reparação pelas negras que foram seviciadas pelos senhores e seus capatazes.

Os seus pais e mães eram obrigados a assistir à dantesca cena como expiação de suas culpas, enquanto que a dor lhes flagelava a alma como se milhares de espinhos perfurassem seus corações a um só tempo.

Os gritos das jovens ecoavam pela noite escura como se milhares de rasga-mortalhas dessem seus pios de mau agouro.

Depois foi a vez dos capatazes, amarrados ás árvores receberem cem chibatadas de cada escravo que haviam supliciado.Os seu gritos cortaram as trevas e a neblina fazendo gelar a alma dos mais valentes.

Aos capitães do mato, traidores do próprio povo, o castigo aplicado foi serrem arrastados com cordas pelos pescoços enquanto recebiam chibatadas ao rodear por sete vezes o círculo dos escravos vingadores.

Os capangas por sua vez eram atingidos pelos golpes dos negros capoeiristas em um rodízio que parecia interminável.

Aos senhores e senhoras dos escravos ainda foram infligidos os castigos dos pelourinhos, garrotes, viramundo, libambo, cinto de ferro, palmatória, mordaça, gargalheiras, algema com cadeado e ferros de marcar.

A macabra revanche prosseguiu noite adentro até que os primeiros raios de sol despontassem sobre a cidade e rompessem a escuridão e a neblina.

Nesse momento, os espectros foram paulatinamente desaparecendo junto com a névoa que os envolvia enquanto alguns gritos ainda ecoavam nos ouvidos daqueles que presenciaram toda a terrífica cena.

Agora teriam de esperar por mais sete anos para ver de novo a procissão dos escravos, se não tivessem enlouquecido até lá com a lembrança dos horrores presenciados.

Salvador, 12 de fevereiro de 2012