A Noite do Kibungo
Jorge Linhaça
As crianças já não obedeciam seus pais e teimosamente faziam o que queriam, incitadas pelas novelas para adolescentes.
Não havia castigo ou reprimenda que fizesse efeito, as crianças haviam se tornado um verdadeiro tormento, respondendo ferozmente aos mais velhos, desrespeitando a quem quer que fosse.
Eram totalmente incontroláveis na verdadeira acepção do termo.
Os adultos cansavam de avisá-los que isso acarretaria na chegada do kibungo, monstro devorador de crianças que não obedeciam, mas elas não acreditavam e ainda faziam troça dos contadores da história.
Os dias foram passando e as crianças, cada vez mais abusadas começaram a desafiar o Kibungo a vir buscá-las e se divertiam imitando o tal monstro em seus brinquedos.
O kibungo não me pegaaaaa o kibungo não me pegaaaa...
Os pais alarmados redobraram seus avisos dizendo que com o Kibungo não se pode brincar que ele quando chega vem faminto e aí não há reza nem pernas- pra -que-te-quero, mas não adiantou de nada.
A noite chegou mais negra do que de costume e as crianças recusaram-se a entrar para dentro de casa, preferindo permanecer a brincar por entre as ruas estreitas da Cidade Baixa.
Ouviu-se ao longe o tropel de passos grandes a estremecer a rua...os pais correram para a porta a fim de chamar seus filhos para a segurança de seus lares, avisando da chegada do Kibungo.
Era tarde demais , o gigante negro e peludo já havia posto as mãos nas crianças e as ia devorando com sua enorme boca que se abria em suas costas. Algumas tentaram até correr, mas o kibungo era por demais veloz para deixar que as vítimas se lhes escapassem.
Os que se escondiam eram farejados e igualmente devorados no banquete canibal do monstro.
Terminada a refeição, o ser assombroso desapareceu na noite, levando dentro de sua bocarra mais de uma dúzia de crianças que desobedeceram ao conselho de seus pais.
Nunca mais se soube dos meninos e meninas e aqueles que não estavam na rua naquele dia jamais voltaram a desobedecer seus pais e a ficar na rua até tarde.
Isso aconteceu já faz muitos anos, em outra geração...hoje por certo o kibungo anda à espreita para um banquete ainda maior.
Salvador, 12 de fevereiro de 2012