O Jogo da Forca - Episódio VI - Fase IV - Entre irmãos?

Aquele dia infernal estava ainda pela metade. Jonas, Ivo,Arthur, Daniela, mais seis mortos na lanchonete. Ao todo dez mortes e ele era o responsável por três delas. E o pior, a imagem de Bernardo tentando se salvar de um tipo de forca como todos os outros.
“Maldito carniceiro! O que ele quer provar com isso? Que meus amigos não são confiáveis? Que minha Daniela fez algo de errado pra mim? O que ele quer provar afinal?” Max estava perdido em seus próprios pensamentos. Mas agora estava tudo perdido, a polícia do lado de fora da casa. Ele e Nadia presos lá dentro. E ainda tendo que decifrar outra maldita charada.

“Que espécie de charada era aquela?” Max tentava raciocinar, buscar uma solução para todo aquele caos. Ele precisava salvar seu filho, mas se fosse preso estaria tudo perdido.

- Já se passou um minuto! Ele ainda está no telefone. O que você quer que eu diga pra ele? – Dizia Nadia com o telefone sem fio ao ouvido.

...

Do lado de fora da casa estava Alex Sales. Ele aguardava ansiosamente pela resposta ao telefone. Enquanto isso lembrava-se de algo que chegara a sua mesa há vinte minutos, entregue por um dos guardas.

“ - Alex? – Chamou um escrivão.

- Sim? – Respondeu o policial.

- Acaba de chegar esta caixa para o senhor. – O novato disse.

- É claro! Obrigado, pode deixá-la encima da mesa, por favor.

Ele olhou a caixa por alguns segundos, sobre a tampa da caixa estava escrito, “O JOGO CONTINUA”, e logo abaixo, “Pobrezinho, só quinze aninhos e já está ficando surdo”!

- O que será isso? – Ele pensou.

- Abriu a caixa e se deparou com algo assustador. Era uma orelha humana repleta de sangue. Naquele momento ele vomitou. Maldito! O que isso significa? Ela estava embrulhada em um plástico. Os colegas das mesas ao lado se levantaram e viram a mesma coisa. Todos se assustaram. O escrivão saiu correndo para o banheiro. Alex se recompôs e olhou novamente dentro da caixa. Encontrou um envelope, abriu-o e se deparou com fotos horrendas, aquela casa que ele visitara mais cedo, as fotos batidas antes do incêndio, uma mulher morta no chão. Daniela, nas suas costas sangue, perfurações que ao primeiro olhar ele identificara que só podiam ser feitas por uma tesoura ou faca pequena, passava as fotos, outro homem, Jonas, nu, dependurado em uma corda amarrada a um ventilador, estava morto, agora ele via um velho dentro de uma estufa, seu corpo era esticado por um saco de esterco amarrado à seus pés. Ele estava coberto de sangue, nas cordas que envolviam seu corpo, ramos de rosas vermelhas entrelaçadas, repletos de espinhos, algo realmente surreal, abaixo da foto estava escrito “Ivo”, por fim uma quarta foto, um homem sobre uma mesa de vidro, nu, como os outros dois, mas estava vivo, suas mãos cobertas de sangue, parecia faltar um dedo, havia um balde sobre uma peça de madeira acima de sua cabeça, abaixo da foto, o endereço da casa dele e seu nome, “Arthur”, ele virou a foto e em seu verso escrito a sangue, “Tente salvá-lo, estarei te esperando!”.

Agora lá estava ele ao telefone, esperando o assassino ou quem quer que seja que estivesse ali.

- Foi quando a voz da mulher invadiu seus ouvidos.

...

- Olá! Meu nome é Nadia. Sou dona de uma lanchonete na rua Quinze, ela está com uma placa de luto na frente, todos lá estão mortos, ele matou meu pai, um total de seis pessoas está dentro da lanchonete. Ele ouvia cada palavra, fui feita refém, ele pediu pra te dizer que quem determina o tempo aqui é ele e não você. Neste exato momento ele está como uma faca em meu pescoço – a voz de Nádia chegava com tom de pânico aos ouvidos do policial – por favor, não entrem na casa, ou eu morro, recue seus homens até o carro ou eu morro, abaixem suas armas ou eu morro. Ele vai te ligar em dez minutos com suas exigências, eu sou a voz dele e seus olhos, estarei vendo vocês pela janela à esquerda da porta, ele com a faca em meu pescoço. Ele estará usando uma máscara de carrasco, não conheço seu rosto, mas sei do que ele é capaz. Não o desafie ou eu morro. Obedeça-o, por favor, ou eu morro como o homem no sótão. Fim de ligação!

Alex olhou para a janela e ela apareceu, Nadia estava lá, uma faca em seu pescoço, balançava a cabeça negativamente, não dava para ver o assassino dali. Depois a cortina simplesmente tirou sua visão e ele não a via mais.

- Recuem todos! Vamos! Todos próximos a suas viaturas! – Ele a olhava! Seis mortos e ela viva? Lanchonete na rua 15?

- Baixem suas armas! Já disse! Baixem suas armas! Ninguém atira por enquanto. Policial Davi, entre em contato com a viatura mais próxima da rua 15, há uma lanchonete lá, placa de luto, quero que entrem e verifiquem o que há lá dentro, agora. – Ele disse enquanto gesticulava.

...

O celular de Max tocou.

- E aí já quer que eu seja preso? – Max perguntou enquanto pensava no que fazer.

- Ainda não Max! É a fase IV, você subiu de nível, lembra-se? – A voz metálica disse deixando escapar uma leve risada.

- Claro que me lembro! Quando eu salvar o Bernardo, você morre, e saiba que disso também não me esquecerei. – Disse Max olhando para Nádia.

- Espero que não! Mas é uma possibilidade Max. Que parceria a nossa! Estamos acabando com estes traidores. Você ainda vai me agradecer por isso. – A voz disse calmamente.

- Eu só quero minha vida de volta, meu filho do meu lado, e você morto, depois te agradeço. – Max continuou.

- Mas pra isso tem que matar mais duas pessoas! Matar as charadas! Livrar seu filho da forca! O que pretende fazer para sair desta casa Max. Está cheio de policiais na frente. – O assassino perguntou.

- Eu já estou saindo! – Disse Max sorrindo.

- Como pretende fazer isso Max? Vocês não conseguirão sair dai juntos e muito menos livres! – Disse a voz metálica.

- Você tem razão! Ligue-me daqui à quinze minutos. Tenho que fazer uma ligação! – Max disse com certo tom de serenidade na voz.

- Uma ligação! Vai ligar pra quem? – O assassino perguntou.

- Fique tranqüilo, não vou quebrar as regras. Fim de ligação. – Max disse e então desligou.

Dez minutos se passaram. Max digitou o número que o havia ligado há pouco tempo naquele telefone.

- Alô? – disse a voz de homem.

- Como vai? – Max perguntou.

- Bem, mas impaciente! Afinal por que se esconde tanto se logo terá que se entregar? – O policial perguntou enquanto olhava para janela.

- Eu adoro brincar. Adoro jogos! E você? – Perguntou Max.

- O que você quer? Diga logo quais são suas exigências! E onde está o garoto? – Alex perguntou demonstrando sua impaciência.

- O garoto? – Max agora estava surpreso, mas tentou disfarçar ao máximo.

- Sim! Onde ele está? – Insistiu Alex.

- Está com uma corda no pescoço em algum lugar que eu não posso te revelar. –Disse Max, pensando em como ele sabia do Bernardo.

- Como você pode ter arrancado a orelha dele fora seu verme. Sabe que vou te pegar por isso. Ele é só uma criança! – Disse Alex.

- Como? – Max estava ainda mais surpreso e agora preocupado. O que o assassino havia feito com seu filho? “Bernardo! Meu Deus!” Ele pensava, mas precisava se manter calmo. Agora mais do que nunca ele tinha que o salvar logo.

- Você estará morto daqui duas horas! – Disse Alex.

- Estarei? – Ele disfarçou.

- Sim! Enfiarei uma bala em seu olho esquerdo. Sou ótimo nisso. Atiro muito melhor do que você pensa.

- Sim é claro! Imagino que sim. Mas também é inocente demais. Boa tarde policial! Como vai? – Disse Max. – Quantos homens tem aí fora?

- Tenho 30. E por que está me dando boa tarde? Você é louco?

- Bom! Muito bom! Não mate a garota quando entrar lá! E bem, eu não estava falando com você?

- O quê? – Perguntou Alex completamente confuso.

- Ela está a salvo! Já não serve mais pra mim. – Disse Max.

- Que tipo de jogo está fazendo? Por que disse pra entrar lá? – Alex estava confuso. – Max entrou em seu carro. Abriu a porta, e girou a ignição.

- Não estou te ouvindo direito. – Disse Alex. – Que ruído é este no telefone? O que está acontecendo? – Alex tentava raciocinar.

- Ouça bem! Não tente me impedir ou o garoto vai morrer! Eu te imploro!! – Pediu Max.

- Não estou te ouvindo direito! – Alex disse.

- É que o sinal está caindo. O telefone só tem alcance para 300 metros. – Max respondeu com um leve sorriso.

- Maldito! Entrem na casa! Entrem logo! Alex estava imerso em ódio, jogou seu telefone no asfalto. Ele acabara de ser enganado. Olhava a sua volta, policiais e os vizinhos por todo lado. Enquanto isso Max seguia na direção oposta daquela casa indo para avenida principal.

Max não acreditava no que tinha acabado de fazer, ele havia enganado 30 policiais, fugido de uma casa cercada. Agora ele lembrava-se de como tudo aconteceu.

- Max, ele disse que só temos cinco minutos! O que vamos fazer? – Havia perguntado, Nadia.

- Temos que pensar rápido Nadia. Não dá pra gente sair daqui como inocentes. Há um corpo no sótão, eles vão ligar tudo. Um de nós tem que ser o assassino.

- Como assim? Se você se entregar o Bernardo morre! – Ela disse.

- Não vou me entregar! Eu vou sair daqui. Preciso apenas de dez minutos! E você vai conseguir isso pra mim. Repita exatamente o que eu te disser. Ele ditou tudo pra ela. Ela repetia cada palavra, até que desligou. Ela estava com o telefone sem fio, eles foram até o quarto de Arthur. Max pegou um terno, uma gravata , um sapato social, e um óculos escuro. Pegou a mala de Arthur e seguiram até a dispensa, ele encontrou fita adesiva e uma corda, pegou uma cadeira. Amarrou Nadia a ela. Prendeu o braço esquerdo dela ao seu corpo e amarrou seu braço direito ao seu antebraço com fita adesiva, o braço estava dobrado, imóvel. Fez a mesma coisa com a faca prendendo-a na mão direita de Nádia, depois prendeu o punho direito ao pescoço fazendo com que parecesse que alguém estava segurando a faca em seu pescoço. Ela estava completamente imóvel. Max correu até o sótão, pegou a máscara de carrasco, esvaziou uma almofada que estava no sofá, pegou a espuma e encheu a máscara depois a pendurou sobre o cabo de uma vassoura, inclinando-o para que ficasse na altura de Nádia, escondeu-o atrás de sua cabeça, deixando aparecer apenas o suficiente para iludir os policiais. Pegou o ventilador que ficava no outro cômodo e ligou-o na velocidade mais lenta no rumo da janela. A cortina se mexia levemente, como se ele estivesse tentando ver algo lá fora. Pegou mais um pedaço de fita adesiva. Olhou para ela uma última vez.

- Não sei por que estou fazendo isso! – Ele disse e então a beijou. Ela não teve como recusar, estava amarrada, mas cedeu tão facilmente que ele entendeu que era também o que ela queria. –Você não me conhece, Nadia. Não viu meu rosto, eu sou o assassino, você era minha refém. Até breve e siga com o planejado! – Ele disse ao amordaçá-la. Ela apenas acenou positivamente com a cabeça. Ele a empurrou mais um pouco para perto da janela e pegou o telefone, se dirigindo para os fundos da casa. Espiou mais uma vez para ver se não havia ninguém, mas Alex havia caído feito um pato.

Max pulou o muro e saiu na casa do vizinho, correu e atravessou os dois lotes daquela casa e pulou para o outro lote, era um lote vago que ele havia visto quando chegaram à casa de Arthur, chegou até beira do muro que dividia os lotes, havia um muro na frente, mas onde deveria estar um portão havia apenas o espaço destinado a ele, espiou para ver a distância que estava dos policiais, eles entretidos, olhares fixos na casa, atrás das viaturas, armas apontadas para a janela. Ele deu um passo a frente e estava no passeio, ligou para o número que o havia ligado e segurou o telefone na orelha começando a andar pela rua conversando com Alex. No meio do caminho um policial ainda o cumprimentou. Por muito pouco ele não havia sido descoberto. Tapava o máximo que conseguia do telefone sem fio para que parecesse um celular. Lá estava seu carro, mas antes ele olhou bem para o policial com quem estava falando. Por fim entrou e fugiu daquele lugar. Pegou seu telefone e ligou para outro número.

- Alô? – A voz conhecida atendeu.

- Oi Rafa, como vai? – Ele perguntou.

- Max! É você? O que está acontecendo? Fui até sua casa, está tudo queimado. Estou tentando falar com você já faz horas, ligo no seu celular, no da Daniela. Fui até a casa do Jonas. Não o achei também. – O homem disse.

- A Daniela e o Jonas estão mortos. – Max revelou.

- O que? Do que você está falando? – Rafael perguntou ainda incrédulo.

- Estão todos mortos Rafa. E eu não posso confiar em mais ninguém. Mas eu preciso de sua ajuda. – Ele pediu.

- Meu Deus! Você está falando sério! – Rafael perguntou.

- Sim. Eu preciso da sua ajuda ou a pessoa responsável por tudo isso matará o Bernardo.

- Meu Deus, Max. Diga logo do que precisa? – Rafa falou.

- Jonas me roubou tudo, Rafa. O dinheiro que tenho no banco é uma mixaria, e preciso de um advogado para tirar uma amiga da cadeia rápido. – ele pediu.

- Mas quem? – Rafael perguntou.

- Contate o Doutor Fábio. Ele é excelente. Já nos tirou de muitas enrascadas. – Pediu Max.

- Mas ele não é advogado criminal, Max. – Falou Rafael confuso.

- Eu sei, mas ele é muito eficiente. – Max insistiu.

- Tudo bem! Deixa comigo! – Rafael concordou.

- Qual o nome dela? – Rafael perguntou.

- Nadia. Só sei o primeiro nome. Mas ela está sobre a custódia de um policial chamado Alex Sales. Eu preciso que a liberte o mais rápido possível. Tenho menos de uma hora. – Pediu Max.

- Tudo bem! Vou ligar para ele agora. Se precisar de mim, me ligue Max! – Disse Rafael com a mesma voz companheira de sempre.

- Ok, Rafa. Que bom que posso contar com você. Por favor, não me decepcione. – Max implorou, querendo acreditar em alguém.

- Fique tranqüilo Max, e cuide-se! – Disse Rafael.

Max desligou o telefone. Seus olhar perdido em pensamentos. Será que podia confiar em Rafa, mas era seu único amigo. O único que restava. Ele se lembrou do que Nadia o havia dito. “Não perca sua sanidade! Isso é o que te diferencia dele!”

- Deus, me ajude! – Max pensou, sem saber o que fazer. Foi quando o telefone tocou.

- Oi Max! Que manobra amigo. Estou boquiaberto com você! – Era a voz do assassino.

- Obrigado. Mas Nadia está presa. – Ele disse com certo pesar.

- Sim! Eu sei. Mas e a charada? Já decifrou? – Perguntou a voz.

- Ainda não ,seu cretino, mas estou tentando. Por que você nos entregou para polícia? – Max perguntou revoltado.

- Não te entreguei Max. São atalhos do jogo. Foi preciso! – A voz revelou.

- Não entendo! Isso tudo é uma brincadeira? É isso? – Max indagou.

- Acha mesmo que é uma brincadeira Max? Você viu seu filho? – A voz perguntou com aquele antigo tom sarcástico.

- O que você fez com ele! A orelha dele, seu verme! Eu vou te matar por isso! – Max o ameaçou.

- Max, quanta ingenuidade. As aparências enganam Max. Não seja bobo! – O assassino ria enquanto falava. Logo a verdade aparecerá. Decifre a charada Max. Fim de ligação Max!

Hora de decifrar mais uma charada. Pensou Max. Tenho que esquecer este imbecil. Mas que nome é esse? Quem será? E porque tenho que matá-lo? O que significa essa charada ridícula afinal?

Ele ligou o gravador e ouviu mais uma vez.

“Por fim cantaram tanto que acabou-se o ano, U]um grilo cantou uma vez, uma vez o grilo então cantou, depois começa o sapo, e deu um tititi danado,... descubra o nome ou o Bernardo acabara sendo enforcado! Fim de ligação.

- Por fim cantaram tanto que acabou-se o ano? Por fim cantaram tanto? Acabou-se o ano? Concentre-se Max! – Ele pensava alto. – Concentre-se! Um grilo cantou uma vez, uma vez o grilo então cantou. O grilo cantou? Uma vez ele cantou? – Max tentava. - Depois começa o sapo. Começa o sapo? O sapo canta? O som do sapo? - E deu um tititi danado. Deu um tititi? Ah, droga! Que charada é essa? Que nome é esse? Pense Max... pense! – Ele continuava.

...

- Nádia? – disse a voz.

- Sim. – Ela respondeu.

- Ouvi tudo o que falou perfeitamente. Mas ele não mencionou onde colocou os corpos? Não falou nada que pudesse entregá-lo? Não retirou a máscara em momento algum? – Alex perguntou.

- Sim ele retirou. Retirou quando eu estava de frente pra janela. Tentei enxergar seu reflexo no vidro, mas ele estava de costas. Não vi nada! Já disse! – Ela falou com um ar de sinceridade incrível.

- Sim, entendo! – Disse Alex, andando por aquela sala branca. Nadia sentada na cadeira. Uma enorme mesa os separava.

- Eu sou a vitima!! – Ela disse parecendo estar irritada.

- Sim! Eu sei que é. Vimos a matança na lanchonete. Ele não se preocupou em limpá-la. Mas uma coisa ainda está mal explicada. – Alex falou de costas para ela, omitindo seu sorriso.

- O quê? – Ela perguntou curiosa.

- Você disse que seu pai estava morto. Mas seu pai acaba de chegar à delegacia! – Ele revelou.

- Mas foi o que ele me pediu pra falar! – Nadia disse tentando disfarçar ao máximo seu medo.

- Sim, nas por quê? Ele não tinha o porquê de dizer isso. Há algo errado aqui Nádia. E não sossegarei enquanto não descobrir a verdade! – Alex disse virando-se para ela.

- Eu quero dar um telefonema. Quero sair daqui e quero um advogado. – Nadia disse nervosa.

- Tudo bem, Nadia! De o seu telefonema! Mas até que seu advogado chegue iremos conversar bastante. – Alex disse.

...

- O grilo cantou uma vez? Um tititi danado? Depois começa o sapo? Mas que droga Max! Decifre isso logo. – Já haviam se passado 40 minutos e ele não conseguia decifrar a charada.

...

- É ali moça! Naquele telefone. Você tem cinco minutos! – Disse o guarda que a havia acompanhado até o telefone.

- Obrigado guarda! – Disse Nadia se dirigindo para um orelhão que ficava próximo a sala onde ela estava com Alex. Ela pressionou os números, e alegrou-se por ouvir aquela voz.

- Alô? – Ele disse.

- Max? – Ela sussurrou olhando se o guarda a ouvia, mas ele não estava tão próximo dela.

- Nadia! Que bom falar com você! Como está? – Ele perguntou aparentemente preocupado.

- Não temos tempo! A charada? Você decifrou? – Nadia indagou curiosa.

- Não! Estou perdido nela. É confusa. Parece mais uma piada! – Max disse.

- Sem distrações, Max. Ele sempre dá dicas. Você já observou isso? – Ela disse.

- Como assim? – Max estava confuso.

- Quando ele te liga, Max, ele sempre te dá dicas. Fique mais atento. – Ela chamou a atenção dele.

- Mas que dicas? – Ele perguntou ainda sem entender do que ela falava.

- A ordem dos fatores não altera o resultado do produto. Lembra-se? – Nadia disse vendo o guarda que ainda a espreitava, porém estava distraído conversando com outro policial.

- Não entendo. Mas lembro sim! – Ele falou.

- A charada está embaralhada. Ele te deu uma dica Max.

- Nossa! Como pensou nisso? – Max se surpreendia com a sagacidade de Nadia.

- Max, é simples! Por fim cantaram tanto que acabou-se o ano. Por fim. É o fim da charada. – Ela revelou.

- Sim é claro! – Max pensou.

- O grilo canta uma vez, uma vez o grilo cantou. – Ele enfatizou isso. “Uma vez” Pense no popular. O canto do grilo Max.

- Já pensei! Cri...cri? Mas é ridículo! – Max disse.

- Max uma vez! Cri! – Nadia disse enquanto via o guarda olhar o relógio.

- Mas e o sapo? Depois começa o sapo? Onde se encaixa? O som do sapo nunca se encaixaria!

- E quem disse que o sapo cantou Max. Ele não falou isso na charada. É outra distração. – Nádia havia pensado tanto na charada.

- Depois começa o Sapo. O que começa o sapo? “S”! O “s” começa o sapo! – Decifrou, Max.

- Sim, Max! Isso mesmo! – Nádia disse ainda olhando o policial que já mirava mais nela.

- Deus! Dá um tititi! Um apenas! Ti! – Max agora estava sintonizado com aquilo. – E por fim acabou-se o “ano”! Nadia você é ótima!Cristiano? Que droga! – Ele disse soltando um suspiro.

- O que foi Max? – Nádia perguntou preocupada.

- O advogado logo chegará, Nadia. Tenho que me apressar! – Ele disse.

- Quem é ele? – Perguntou Nadia, mas o telefone havia ficado mudo.

- Terminou seu tempo, Nadia! – Era Alex Sales. – Vamos!

...

Max acelerou o carro e seus pensamentos o levaram longe.

- Senhor Max! Bom dia! – O homem o cumprimentou.

- Bom dia! Você é? – Ele perguntou curioso.

- Querido este é o Cris, não se lembra? Você o conheceu há dois anos. No café em frente ao meu trabalho. – Disse Daniela.

- Sim é claro! Prazer em revê-lo Cris! Mas como você está mudado! – Max disse.

- Engordei alguns quilos! E você cuidando bem de minha irmãzinha. Ela realmente nos abandonou depois que a mamãe morreu. – Cris disse olhando estranhamente para Daniela.

- Claro que sim! A gente ta pensando em se casar. – Max revelou abraçando-a.

- Sério? Que maravilha Dani! E você não nos conta nada. O papai iria ficar muito feliz em saber disso. – Naquele instante Daniela ficou furiosa.

- Temos que ir Max. E você fique longe de encrencas Cris! E longe das drogas também. – Ela disse puxando Max pelo braço.

- Sim é claro! Ficarei. Ficarei bem longe! – Mas ele não ficou por muito tempo. Cris estava internado numa casa de recuperação para viciados. Daniela não o visitava. Eles nunca se deram bem.

“- Mas por que ele deveria morrer? Por quê? Max estava confuso. Faltavam dez minutos. Mas por quê? Eu não vejo o Cris há três anos! Droga! O que você fez Cris?” – Max dirigiu mais três minutos e lá estava. Era uma série de alojamentos. Ele ficou sabendo a seis meses que Cris havia sido internado ali. Cris era um louco. Eles o impediram de ver o Bernardo. Daniela não se dava bem com seu meio irmão, o que Max sabia é que assim que a mãe de Daniela morreu ela saiu de casa, mas ela nunca entrava em detalhes e Max preferia não discutir o assunto, pois isso fazia com que ela ficasse descontrolada. E suas crises só aumentavam.

Enfim ele chegou. Um velho estava na portaria. Não havia como entrar naquele lugar sem passar por ele, uma cerca elétrica cercava todo o lugar. Max não titubeou e parou o carro no portão principal, pronto para entrar.

- Olá senhor? Boa tarde! – Ele disse.

- Sim? – Respondeu o velho na portaria.

- Preciso falar com Cristiano. Qual é o quarto dele? – Max perguntou.

- É o último à esquerda. Quem é você? – O velho perguntou.

- Me chamo Lauro. Precisa de algum documento. – Ele olhou para o velho.

- Não, o senhor é advogado? – Perguntou o velho.

- Sim. É que tenho que acertar algumas coisas com ele. – Max disse torcendo para que seu plano desse certo.

- Ah sim! Pode ir. Ele nunca sai de lá. Você veio cobrar as dividas das lanchonetes da cidade é? O velho ria enquanto falava. Max não tinha tempo para brincadeiras e entrou com o carro. Parou na frente do quarto de Cristiano. O quarto era bem isolado dos demais. Era o maior deles. Os quartos eram de telhados coloniais e as portas não tinham trancas, talvez por precaução para que os pacientes não fizessem nenhuma loucura. As enfermeiras deveriam estar dentro do prédio principal, pois Max não viu nenhuma por ali. Ele só viu dois pacientes, vestidos com roupas normais, que estavam nos primeiros quartos, a cerca de 50 metros do quarto de Cristiano.

Max abriu a porta e entrou. Era apenas o dormitório e um banheiro, mas Max não teve tempo de vislumbrar nada. Cristiano estava lá. Amordaçado. Agora Max entendia o porquê da risada do velho. Cris havia ganhado muitos quilos, ele já era gordo da ultima vez que Max o havia visto, mas agora, ele deveria estar pesando 160 quilos. Ele estava nu, uma visão realmente grotesca. Não havia cordas sobre seu pescoço, mas sim correntes, e as correntes estavam brancas de pó. Era alguma droga, pelo visto cocaína, ele estava lá, fungando o tempo todo, mas não conseguia cheirar nada, seu suor derramando-se pela sua enorme barriga, untando-se ao sangue que estava em seu peito. Seu corpo estava coberto por todo aquele pó branco e ele estava encima de uma escada metálica aberta. Os pés sobre o último degrau. Dezenas de agulhas cravadas pelo seu corpo, costas, braços, barriga, nádegas e rosto. Ele era um enorme porco espinho, um porco de espinhos metálicos, a corrente que rodeava seu pescoço estava fixada na peça, suas mãos estavam pregadas à peça por dois pregos cada uma, mas ele continuava vivo. Cris parecia estar dopado, mas como ele havia suportado toda aquela dor? Suas bochechas estavam inchadas, não se movia, era impressionante. Apenas seus olhos se mexiam. Por fim em seu peito escrito a sangue “Incesto. Eu sei o que ele fez Max. Mate-o meu amor!”.

- Não pode ser? Cristiano o que você fez com ela? – Mas ele não respondia. Estava inerte. A escada era pequena, cerca de 80 cm, Max pegou uma cadeira e arrastou-a para perto de Cris, subiu na cadeira e perguntou mais uma vez. – O que você fez com ela cretino? – A bochecha de Cris estava ainda mais estranha olhando tão de perto. Seus olhos se mexendo o tempo todo. Ele puxou a fita adesiva que o impedia de falar, foi quando Max se assustou ainda mais, Cris cuspiu uma saraivada de sangue no terno de Max.

- Deus do céu! Max não podia entender. O que é isso? Onde está sua língua? A língua de Cris havia sido cortada. Cris tentava falar algo, mas sua boca parecia não obedecer-lhe, era como se falasse em câmera lenta ou quase isso. Saia um som baixo, mas não dava para entender mais nada. Foi quando o telefone tocou.

- Diga! – Max disse ainda olhando pra Cris.

- Vai matá-lo ou não? – Perguntou a voz.

- O que ele fez? – Max indagou.

- Não sabe ler mais? – Ironizou o assassino.

- Não pode ser verdade! – Max disse lutando para não acreditar naquela possibilidade.

- Max cuidado, as aparências enganam! – Disse a voz metálica.

- O que você fez com ele? Ele está dopado! – Max disse olhando pra Cris.

- Ele está alucinado Max, também está anestesiado, boca mole, ele não está sentindo dor, mas quando isso acabar, quando começar o formigamento, quanto o efeito da cocaína e da anestesia passar, ah amigo, aí sim ele sentirá dor. Mate-o Max! – Disse a voz.

- Você é louco! – Max disse ao telefone.

- Tic...tac, tic...tac, mate-o ou eu mato o Bernardo! – O assassino ria friamente ao telefone.

- Você é doente! Eu não vou matá-lo sem saber o que ele fez! – Max avisou.

- Então tudo bem Max! 60 segundos! 59, 58,57... – o assassino seguia contando.

- Não! – Max dizia relutante, enquanto sentia a adrenalina tomar seu corpo, sua enxaqueca queria voltar.

- 46... – Logo você entenderá Max. Liberte-o do sofrimento! Salve o Bernardo! – A voz o aconselhou.

- Seu doente! Seu verme! Eu vou te matar! – Max disse.

- O assassino continuava rindo. 40...39...38... Não havia escolha. –

Max correu em direção a escada como um jogador de futebol americano interceptando uma jogada, trombou com ela e caiu no chão. Atrás dele Cristiano foi puxado pelo seu próprio peso, estava se asfixiando, ele não resistiu por muito tempo, suas mãos se rasgaram desossando-se entre os pregos que as prendiam, o seu corpo simplesmente parou no ar à 40 centímetros do chão, pedaços de carne presas entre os pregos, o quarto impregnou-se de um cheiro horrível, aquilo se tornou um enforcamento sujo, ele havia urinado e defecado pelo chão. Cris estava morto e seus olhos já não se moviam mais.

- Droga! Que merda! – Disse Max pegando o telefone.

- Seu cretino! Ele está morto! Qual é a próxima charada? – Max perguntou furioso.

- Fase V Max! Seja bem vindo! Você é ótimo! – Respondeu a voz.

...


- Boa tarde! Quero falar com o policial Alex Sales. – Disse o homem.

- Quem deseja? – Perguntou o policial.

- Doutor Fábio. Estou aqui para tirar a senhorita Nádia daqui. – Respondeu o advogado.

- Só um instante. – O guarda pegou o telefone e ligou para Alex.

- Senhor é o advogado, ele chegou. – O policial disse.

Alex olhou para Nadia. Acho que você vai se livrar de mim, mas logo nos veremos. Infelizmente não há como te segurar por aqui mais. – Ele disse lançando um sorriso para ela.

- Diga a ele que pode entrar. – Alex pediu ao policial.

- Sim senhor. – O policial respondeu e saiu.

...

- Diga logo a charada e vamos acabar com isso. Já estou gravando!

- Sim, é claro Max! Mas que pena que está chegando ao fim. Eu adorei jogar com você. Lá vai: Qual é o nome do primeiro? Ele não é bom, mas não é doente, depois com duas ele arranha, com uma ele é aranha, se um pingo não pingar essa letra não há de se molhar, se o animal assim ficar é porque seu apetite irá despertar. Descubra logo para que possa o matar e o mistério desvendar. Você tem uma hora Max! Fim de ligação!


Continua...
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 10/02/2012
Reeditado em 10/02/2012
Código do texto: T3491925
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