Olhos de fogo 5 - A origem
Jorge Linhaça
 
Nosso anti-herói de origem obscura era , me outros tempos um simples catador de lixo, desses que vemos trabalhando em condições sub humanas pelos aterros sanitários do país afora. Seu nome? Não importa, afinal o manto da invisibilidade social já o tornará um anônimo e invisível há muito tempo. ( além disso, caso algum
gatuno hollywoodiano resolva roubar minha idéia e transformá-la em um filme de terror, vai acabar batizando-o de Joe, Bill, Scot ou qualquer coisa parecida).
Como todos nós sabemos, nem sempre as leis são cumpridas em nosso país e nesses aterros acabam sendo descartados todo tipo de material , inclusive lixo hospitalar e outras "cositas más".
 
Olhos de fogo trabalhava de sol a sol sobre a putrefata massa de desejos da sociedade buscando dali arrancar o seu sustento com a revenda de materiais recicláveis. Vasculhava os sacos de lixo, sujeito a todo tipo de acidente, mas não lhe restava muita opção, sua família dependia do pouco que conseguiam para poder sobreviver um dia após o outro.
 
Numa dessas lutas diárias teve o seu dedo perfurado por uma agulha hipodérmica vinda sabe-se lá de onde...um acidente considerado comum até...passou dias acometido por uma febre e calafrios , ficando quase que impossibilitado de trabalhar, mas não podia deixar a peteca cair e , assim sendo, de acordo com suas exíguas forças manteve-se na sua labuta diária. Talvez a coisa acabasse por aí mesmo e a febre logo passasse ou quiçá a morte lhe trouxesse o merecido descanso.
 
No entanto, lixão é lixão e tudo pode acontecer...como se não bastasse a fatídica picada da agulha infectada , nosso anti-herói deparou-se com uma substância verde e brilhosa em algum lugar do tal aterro, imaginando se ali não haveria uma possibilidade de alguma renda maior, e talvez com a razão turvada pela febre que não o abandonava, resolveu analisá-la mais de perto e, ao assim fazer sentiu um forte odor ácido invadir-lhe as narinas como que a corroer-lhe a própria alma, arremessando a substância para longe percebeu que suas luvas haviam sido corroídas pelo material e suas mãos apresentavam queimaduras acentuadas que pareciam devorar-lhe a pele...correu como um louco sem noção de direção e embrenhou-se no meio de uma mata ali próxima causando estranheza e preocupação entre seus parceiros de trabalho...procuraram por ele mas não o puderam encontrar...
Olhos de fogo sentia o corpo transformar-se de uma forma que não podia compreender, a febre o fazia delirar de tal maneira que já nem mesmo sentia as dores de seu corpo dissolvendo-se paulatinamente a partir das feridas causadas pela estranha substância esmeralda.
Dias se passaram  ele continuava desparecido no fundão da mata, em uma pequena gruta oculta no meio da vegetação. Quando sentiu-se forte o suficiente para sair e levantar-se viu que suas mãos estavam descarnadas, como uma versão da própria morte...caminhou assustado por entre a mata até encontrar o lixão. Já era noite e ninguém mais trabalhava, recolhidos nas pequenas cabanas improvisadas de restos de madeira e papelão que lhes serviam de abrigo. Em um ponto qualquer da montanha de detritos encontrou um pedaço de espelho e, olhando para ele sua alma congelou-se , bem como o grito de horror que não conseguia sair de sua garganta desprovida de cordas vocais...sua face era a de uma caveira , seus olhos duas bolas de fogo como se fossem as brasas de um pito de saci.
Sentia uma fome medonha, totalmente enfraquecido e olhando em volta viu os ratos atraídos pelo alimento fácil depositado naquela montanha de lixo orgânico e inorgânico...ao olhar para eles seus olhos emanaram os raios de fogo já tão conhecidos pelo leitor, dizimando-os às dúzias, o mesmo triste fim teve um vira-lata que por ali passava. olhos de fogo percebeu que a cada animal abatido a sua aparência ia se normalizando e a carne voltando aos seus ossos.
Não havia como explicar as causas de sua transformação e nem mesmo a restauração dos tecidos, mas encontrara uma maneira de sobreviver em uma condição ao menos semelhante a de um humano.
Ao vaguear na cidade dias depois ocorreu o primeiro encontro com um ser humano enquanto em seu estado cadavérico, como vimos no primeiro capítulo.
A fome de olhos de fogo foi saciada de maneira muito mais rápida e a sua aparência
humana encontrava agora maior durabilidade.
Voltava a trabalhar no lixão sempre que a sua aparência o permitia e cuidava de sua família da mesma maneira de sempre.
Foi assim que nasceu o nosso personagem.
 
continua ou não...depende de sua opinião...use os comentários para dá-la.
 
Salvador, 7 de fevereiro de 2012