A Cidade do Terror
A Cidade do Terror
Jorge Linhaça
Já fôra bela aquela cidade. Cheia de encantos e onde a vida fluia dentro dos limites do, digamos assim, tolerável, afinal não há cidade perfeita, por mais bela que seja e por mais alegre que seja seu povo.
Mas eis que sem que a população percebesse as coisas foram mudando, as pessoas se tornaram mais ausentes das questões sociais, a liberdade foi sendo substituida pela libertinagem e a democracia pela pura anarquia.
O que pareciam simples brincadeiras ou picardia, foram sendo substituidos pela licenciosidade de seus habitantes, daí para que o descaso pleno se instalasse foi um passo e, como uma coisa leva a outra, este veio seguido do aumento da violência e da corrupção.
Foi nesse solo fértil que o terror foi se instalando gradualmente, alimentando-se, na sua fome insaciável de todos os petiscos da miséria humana.
Já não se sabia nessa cidade, quem era polícia e quem era ladrão, estivessem fardados ou não. A corrupção da alma humana era tamanha que passou a ser encarada como coisa trivial e sem solução, ou se aderia a ela ou mantinha-se respeitosa distância e aceitava-se tudo passivamente.
Imperava a lei do silêncio como forma de sobrevivência em todos os sentidos.
O terror não tem face ou melhor tem tantas e tão diferentes faces que cada um o retrata como acha melhor.
No caso daquela cidade o terror começou a aparecer com as mortes tidas como corriqueiras entre as camadas mais baixas da ralé humana. Ninguém dá muita importância quando prostitutas, drogados ou moradores de rua aparecem mortos, a sociedade por vezes parece mesmo respirar aliviada com menos um "problema social" onde depositar os olhos cegos pelas cataratas do preconceito e da inação.
Por mais que os casos parecessem corriqueiros e ocasionais, alguma coisa começou a destoar da costumeira quantidade...o que começara com o que pareciam casos isolados de crimes passionais , cobranças de dívida por drogas ou "queima de arquivo" , agora ganhava corpo já começava a sair das pequenas notas das páginas policiais e ganhando ares de mistério nos tabloides locais.
Os cadáveres começara a crescer em número e a surgir de todas as partes, já não eram apenas da mais baixa ralé, a eles já se uniam trabalhadores de várias categorias e a única coisa que tinham em comum era a expressão de extremo medo nas suas faces petrificadas.
As fotos começaram a ser estampadas na primeira página dos jornais após algum tempo, já não se podia fingir não saber que algo de estranho estava acontecendo.
A polícia dava respostas evasivas, as autoridades nada declaravam sobre o assunto e o medo começou a ganhar forma na mente e no coração da população mais atenta.
continua...