O Ceifeiro do Demônio
Jorge Linhaça
Em meio ao canavial os trabalhadores preparavam-se para retornar aos seus lares após um estafante dia de trabalho. Vários dos ônibus rurais já haviam partido e a tarde despedia-se enquanto que a noite suavemente ia ganhando seu espaço.
O último ônibus aguardava os trabalhadores vindos das ruas mais distantes do canavial.Os boia-fria juntavam seus garrafões térmicos e instrumentos de trabalho e vinham caminhando pela plantação, pisando em folhas secas com seus pares de botas.
O céu repentinamente escureceu como que prenunciando uma grande tempestade de verão que chega como que do nada.
O barulho dos trovões e o riscar dos raios pelo céu causou alvoroço e a necessidade de acelerar o passo para chegar o mais rapidamente ao abrigo do ônibus que os aguardava.
Mas, em meio a esse caos inesperado o pior ainda estava por vir.
Os trabalhadores que vinham à frente foram os primeiros a sucumbir ao inesperado, suas acbeças decepadas rolaram pelo chão de barro vermelho misturando seu sangue à água da chuva.
Aqueles que os seguiam mais próximos mal tiveram tempo de visualizar um tenebroso vulto com grotesca face a barrar-lhes o caminho empunhamdo uma enorme e afiada foice.
Tentaram dispersar-se em meio ao canavial ao mesmo tempo que seus gritos eram abafados pelos trovões quase que incessantes, na vã tentativa de escapar ao mesmo trágico destino de seus companheiros.
O primeiro a tentar bater em retirada foi rapidamente erguido ao ar pela foice que o empalou, atravessando-lhe as costas e tendo como ponto de saida a sua cavidade toráxica.
Gritos, correria, o terror estampado nas faces dos ainda sobreviventes era tudo qu se podia perceber dessa caótica tentativa de fuga.
O ser medonho, no entanto, parecia estar-lhes sempre um passo à frente, surgindo como que do nada e ceifando vida após vida ao longo do agora macabro canavial.O sangue escorria pelas poças dágua e amalgamava-se a ela e ao barro vermelho como que a fazer um reboco do inferno.
Corpos eram ceifados ao meio pela linha da cintura e as pessoas agonizavam em poças de sangue, outros eram divididos de cima abaixo pela poderosa foice do emissário das trevas.
Alguns dos poucos sobreviventas, sem outra perspectiva senão a morte, ainda tentaram agrupar-se e enfrentar o ser demoníaco que os perseguia sem trégua.
Empunharam seus facões de trabalho e em heróica resistência talvez movida mais pelo medo do que pela crença na vitória, conseguiram retardar o avanço do ser maligno por alguns instantes. Seus facões chegavam a atingir-lhe os membros mas nenhuma reação de dor ou fraqueza causavam ao Ceifador do Demônio...um a um foam caindo diante dos vigorosos golpes da maléfica entidade que decepava seus membros como que executando uma dança macabra e coreografada durante o confronto.
Enquanto seus corpos agonizavam na lama, três trabalhadores lograram chegar ao ônibus, enfim, aos gritos desesperados chamavam pelo motorista e pediam socorro sem no entanto receberem qualquer resposta. olharam em volta e não o viam e lugar algum até que, um deles, deparou-se com os restos do motorista esquartejado sob o veículo.
Correram pela estrada tentando encontrar auxílio mnas, em meio àquela tempestade descomunal nenhum veículo se atreveria a trafegar , o ceifador caminhou lentamente em direção aos sobreviventes e eles correram o mais que podiam , ainda assim mais dois deles tombaram pelo caminho e o terceiro, sem saber como, conseguiu chegar à cidade e abrigar-se na primeira casa que encontrou.
Quando finalmente conseguiu se recompor e dizer palavras conexas, a polícia foi chamada e juntamente com ambulâncias do hospital local dirigiram-se ao local indicado pelo rapaz.
Já a chuva havia perdido a sua força e ao vasculhar o canavial foram encontrados os corpos sem vida de 32 trabalhadores, outros seis corpos não foram encontrados, inclusive o daqueles que haviam conseguido chegar à estrada.
Quanto ao tal ceifeiro, continua sem ser identificado ou encontrado, permanecendo o mistério no ar e dando causa às mais diversas considerações e mitos que o povo vai criando ao longo do tempo.