Enterro II - Totonio volta
Depois que Totonio foi enterrado as pessoas começaram a seguir suas vidas.
Se passaram dois dias até que uma senhora que morava vizinha ao cemitério disse ter ouvido gritos, um dia após o enterro de Totonio. Alguém gritava por ajuda, mas não dava pra saber de onde vinham tais gritos.
Assustada, não quis mais ficar na casa, vizinha às tumbas. Tal mulher pensou que espíritos a estivessem perseguindo.
Na semana seguinte, alguns familiares foram até o túmulo de Totonio levar flores, por causa da missa de sétimo dia.
Ao chegarem, notaram algo de estranho naquele túmulo. A terra parecia estufada para fora. Naquela mesma noite algo incomum aconteceu naquele sertão: uma forte tempestade caiu, criando vários focos de alagamento.
Passada a chuva, na manhã seguinte os moradores foram ver os estragos. Muita lama, animais afogados e o muro do velho cemitério desabado, bem próximo ao túmulo de Totonio.
A cena era assustadora. O barro demoliu várias tumbas, fazendo corpos aparecerem no meio da lama e urnas funerárias pararem na rua debaixo.
Onde Totonio estava também desbarrancou, mas o caixão permaneceu ali. Quando abriram-no, a surpresa: estava vazio e com sinais de arrombamento.
Um mistério estava no ar. Quem teria mexido na tumba? Todos na cidade negaram. Como apenas o corpo de Totonio tivesse sumido em tal tempestade, se todos os demais estavam ali?
No mês de março do mesmo ano veio até a cidade uma mulher, de nome Maria, alegando ser sobrinha de Totonio. Ela não sabia que ele havia falecido há meses e afirmou veemente que o tinha encontrado em Fortaleza há uma semana, mas se falaram pouco e por isso ela estava para visitá-lo, onde supostamente seria sua casa.
Então muita coisa estava sem explicação...os gritos, o caixão arrombado, a sobrinha misteriosa, até virar caso de polícia.
O susto maior do povo foi na festa de São João. Um homem de meia idade e de sorriso inconfundível apareceu para a festa. Era Totonio.
Ele não se lembrava das pessoas. Algumas corriam. Outras arriscavam tocá-lo para ver se era de verdade ou só um espírito.
Inicio-se uma investigação criminal. Apurados os fatos, veio a conclusão: Totonio nunca morreu. Ele sofreu uma crise de Calepsia e por causa dos poucos recursos da região, foi dado como morto.
Passou alguns dias enterrado, respirando o pouco ar que passava por uma fenda na rocha do terreno do cemitério.
Ao acordar ficou desesperado e minutos depois sofreu um desmaio por pouco ar. Esse colapso lhe tirou a memória. No dia da chuva, devido ao desbarrancamento Totonio fugiu desesperado e após ser ajudado por algumas pessoas chegou até a capital, sem memória.
Pois então Totonio voltou. Seria seu carisma a causa de sua volta. Será que ele realmente voltou?
Alguns dias depois Totonio desapareceu, numa manhã de domingo. Tentaram achá-lo de todos os meios mas não conseguiram. O lugarejo era longe da estrada principal uns vinte quilômetros. Nem mesmo no bar onde vendiam passagens de ônibus havia sequer uma viagem registrada.
Pelas vilas, todos perguntavam e nada. Vinte anos se passaram. Totonio é um grande mistério. Teria sido verdade tudo aquilo? Na delegacia, os arquivos das investigações nunca existiram e o delegado não possui quaisquer ocorrências desse tipo, nos últimos trinta anos.
Totonio se foi, e dessa vez para sempre. Mas afinal , quem era Antonio Carlos de Santana, o Totonio?