Enterro
E lá estava aquele imenso cortejo fúnebre, cruzando a cidade e pegando aquela estradinha de terra mais afastada, sentido um pequeno cemitério, que ficava na parte alta da vila, próximo à igreja velha.
Mas desta vez Totonho não estava acompanhando o cortejo em um dos carros, ou caminhando com o povo humilde. Nem mesmo em um dos cavalos à frente ou de bicicleta.
Totonho estava no primeiro carro da frente, deitado numa caixa de madeira, sob uma manta de flores, silencioso, sem se mexer.
É interessante reparar como a vida acontece. Totonho sempre esteve à frente de tudo naquela cidade. Homem bondoso e honesto, costumava se vestir de papai noel no Natal e distribuir presentes às crianças.
Sua mulher o deixara com três filhos, os quais teve que criar com mão forte.
Totonho era uma figura encantada, ou não? Talvez não.
Na verdade, Totonho era tão comum como qualquer outros Totonhos da vida, que o mundo não conhece, mas que na nossa velha cidadezinha no nordeste do Ceará sempre será lembrado como celebridade.
Celebridade diferente, do tipo que para na rua para cumprimentar a todos, que tomava caninha no bar do Gil, que ia pra feira de bicicleta.
Ao cair da tarde chegaram ao pequeno cemitério da colina trazendo Totonho, vestido de madeira.
No sepulcro ele desceu silenciosamente e ali ficou, inerte aos choros e ao cair da terra sobre si. Terminada a cerimônia, Totonho foi deixado para trás.
Cada morador retornou às suas casas para seguir com suas vidas.
E Totonho, não voltou para casa. Não, porque ali agora é a casa de Totonho. Vai passar o resto do "fim" coberto de terra e talvez num túmulo esquecido, sem identificação por quantos séculos a Terra existir.
Totonho se foi e todos nós um dia vamos.