::: O Beijo do Diabo - Parte I ::::
Um conto dividido em três partes. E não tenham medo de homem bonito, é só uma lenda macabra que eu inventei ;)
Espero que aproveitem a história.
Um beijo, Ana.
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I
_Martini duplo sem gelo, por favor!
A mulher de vestido florido e olhos avermelhados, resultado de uma noite inteira chorando, sentou-se num daqueles banquinhos altos do belo restaurante de classe média. Os cabelos bem penteados, as bijuterias delicadas e a imagem de quem nunca sequer havia antes bebido para espantar as tristezas.
Principiante! Era disso que ele gostava.
Falando nele, ele caminhava lentamente pela rua quase vazia se não fosse a pequena balbúrdia armada na esquina de uma conveniência. Sorriu como quem sente prazer em ver a desgraça alheia, passou pelo alarido vagarosamente observando cada detalhe com um meio sorriso surgindo em seus lábios rosados. Os olhos captavam tudo e todos, de um brilho marrom glacê, como dois pequenos bombons ofuscantes em sua face.
A mulher que estava rodeada de gente fina e disposta a pagar caro por pequenas doses de bebidas importadas, pôs os cotovelos no balcão ligeiramente avermelhado apoiando sua cabeça com as mãos aparentemente trêmulas.
_Sua bebida senhorita!
Nem mesmo uma resposta, num súbito movimento o copo mediano que trazia o líquido do esquecimento passageiro foi se encontrar entre os lábios e a língua fazendo como se fosse possível arder suas cordas vocais, uma tosse chata e o efeito parecia demorar percorrendo lentamente sua garganta.
_Mais uma, por favor!
A mulher realmente faria o que todo mundo "socialmente ativo" fazia. Beber, beber e beber até esquecer os problemas para no outro dia acordar com uma terrível dor de cabeça que a faria relembrar tudo. E do que adiantaria? Nada, mas no instante era a única solução que ela poderia ter encontrado ao passar ébria de raiva pela porta do restaurante. Já na terceira dose, colocou o copo vazio no balcão e parou para pensar se chamaria o garçom novamente, foi pegando a bolsa para pagar e logo sair dali.
_Mais uma bebida para a bela moça.
Uma voz aveludada pairava perto de seu ouvido deixando-a mais tonta do que ela poderia estar.
_Não, obrigada. Mas já vou.
_Já? Tão cedo assim? Fique e converse um pouco, tenho certeza que irá esquecer todos os seus problemas.
_Como sabe que estou com problemas?
_Está tremendo, com os olhos vermelhos, certamente passou horas chorando, não é mesmo?
_Talvez. Mas que te importa se chorei ou não?
_Poderia apostar minha vida, se assim tivesse, que a causa é um rapaz.
_Mas que petulância. Vou me retirar.
-Fique um pouco mais.
A mulher olhou nos olhos do rapaz bem vestido, olhos tentadores, voz convidativa e um cheiro que a tirava de órbita. Ele trajava um paleto mal abotoado que deixava visível seu abdomen seminu, usava um cachecol vinho e uma calça reta bem refinada para uma ocasião qualquer. Algo a prendeu de volta ao banco. Era surreal.