O Garanhão das Sombras II

Um castelo pairava sobre uma paisagem sinistra, e enevoada. Aves agourentas pululavam pelo céu escuro. havia um odor desagradável de enxofre no ar, temperado com o cheiro de podre que lembrava uma fossa de merda aberta. Entramos por uma elevação que separava o castelo de um abismo por onde vulcões fumegantes lançavam uma neblina ocre, que tornava o ar irrespirável, sofocando-me. A temperatura mudara por completo - agora fazia o calor dos infernos. Vira pelo caminho figuras desamparadas, maltrapilhos de toda ordem. Andavam não se sabe para onde - pareciam abandonados por Deus, quiçá pelo capeta, verdadeiros zumbis. Um charco de dimensão desmedida tomava aquela região - quando o chão era sólido, tinha terreno acidentado e soltando uma espécie de fumeiro asfixiante. Pelos santos da igreja católica, onde estou, quem sou eu, o que está acontecendo...? Indagava-me. na carruagem, todos em silêncio sepulcral.

A velha com aspecto de bruxa, recepcionou-me, dizendo que estava no mundo dos mortos -ora, como estou morto, sinto-me vivo.

-Aqui o tal de Deus que você se refere nada poderá fazer por você nem por quem acredita nele.Aqui no Vale das Sombras, nós somos o poder.

Falou assim, o que parecia o líder deles. As lindas mulheres nada diziam. lançavam-me olhares lânguidos, provocantes. Axibiam belas pernas, vez ou outra abriam as pernas num lance provocante, lascivo.

Ora, parece até que havia lido meus pensamentos. Caso pudesse descrever o ambiente com detalhes precisos, relataria a região mais sinistra, mas sombria de toda paisagem ja visto pelo homem- o que inspiraria o mais renomado escritor de histórias fantásticas - a começar pelo aspecto físico das figuras que estavam comigo. O rosto era afilado, lembrando o aspecto de um equino, testa proeminente revelando uma nuance do homem primitivo das cavernas. Seus dentes eram amarelados, de caninos proeminentes. Peludos, com a cabelera de fios grossos à semelhança de pelos dos quadrúpedes. Cheiravam semelhantes á murrinha dos cachorros sem banho. Alguns carregavam consigo armas primitivas, eram espadas, cajados e lanças.

Entramos no pátio do castelo medieval, após a abertura do gigante e pesado portão de madeira.

O castelo feito de pedras escuras, carregadas pelo limo, de aspecto sinistro. Era iluminado por tochas penduradas nas paredes. A noite era eterna, fazia mais de 14 horas que estávamos em viagem, e o tempo não mudara. Fomos surpreendidos várias vezes pela chuva torrencial, porém, sem que a viagem fosse interrompida. Os cavalos mais do que fortes rompiam qualquer barreira, fosse de atoleiro ou de inundação.

O cocheiro não berrava, seguia em silêncio, como se a montaria os obedecesse pela telepatia. Puder ver que o ambiente era desolador, sem verde, sem a beleza até mesmo da caatinga ou do cerrado.

Fui anunciado para um grupo do castelo, que parecia me aguardar. Vestiam-se com mantos, de forma extravagante. Pude ver que pelas sombras, junto á parede de pedras, havia uma multidão se esgueirando-alguns completamente despidos- homens e mulheres-, de aspecto, também de monstros. Então, o de maior porte, de roupa toda vermelha, portando uma pequena coroa na cabeça, falou assim:

- Aqui está o Garanhão. Será julgado, se condenado, irá para as masmorras. Caso seja perdoado, continuará nos servindo na ponte que existe entre os dois mundos.

-Escute-me, não me recordo de ser um criminosos, eu...

Cale-se, aqui quem fala sou eu. Levem-no para os aposentos dos réus temporários. Hoje, teremos uma festa, um bacanal, por enquanto, poderá usufruir dos prazeres que oferecemos. Quero-o recuperado, alimentado.

Fui conduzido por dois guardas vestidos á semelhança das armaduras da idade média, so que de forma mais rudimentar. Os corredores eram frios e sombrios - uma fraca iluminação de tochas nos mostrava o caminho. Os guardas eram como zumbis, nada diziam, se quer sentia que respiravam. Abriram uma porta rude, de madeira tosca, e ali, fiquei numa cama de palha. De uma janelinha podia ver a paisagem sombria. Parece-me ter ouvido gemidos e gritos, como se pessoas fossem torturadas. Deitei-me, apaguei. Um sono diferente dos reles mortais, estava num pesadelo eterno, que me roubava o conforto que o sono pode proporcionar. Os gemidos persistiam, incessantes-com reclames carregados de impropérios impublicáveis contra à Força Divina Universal. Uma intuíção maior me indicava de que estaria no inferno, ou em algo similar. Não fora um homem religioso, mas não era um ignorante - havia lido vários livros, de diversas doutrinas - mas, não havia tido a identificação com nenhuma delas, de verdade, ou quiçá, a minha paixão pelos prazeres da vida e a minha falta de moral é que nunca me prenderam a uma religião. E, agora, o que estaria por vir, onde verdadeiramente estava, o que estava acontecendo... Estaria mesmo no inferno, ou num pesadelo...?

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 29/01/2012
Reeditado em 10/11/2012
Código do texto: T3468276
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