Essa é uma história de amor, um amor diferente de outro qualquer, um sentimento mágico, que vai além da importância da matéria, do estado físico. Esqueça as aparências, pois elas enganam.
 Eu e Diana Caolha tivemos bons momentos, ela me levou ao céu e ao inferno. Atrás de nós um passado de sangue se estendia por um rastro de mortes, e um detetive obcecado por encontrá-la. Eu sempre fui um garoto empunhando uma arma, mas ela, Diana Caolha, era mais que isso, ela era uma perfeita assassina. Nossa história se estende por longos dezessete anos, mas primeiro vou contar-lhes a história de como tudo começou.
 
  Eu tinha dezesseis anos. O mundo era bem diferente do que é hoje. Celular, TV em cores, Computador? Não, a gente não tinha isso, ou ao menos não era acessível a todas as classes como se é hoje em dia.
 Nasci em um tempo distinto, e estudei numa escola do estado. As drogas não estavam no auge, matar aula não era um fato tão corriqueiro e estudar, bem, não era qualquer um que se formava ou tampouco ingressava em uma faculdade. Daí restava para nós das classes baixas duas alternativas, trabalhar ou vadiar.
 Na maior parte de minha vida estudei no diurno, durante esse período trabalhava e tirava boas notas, mas da sétima série em diante mudei para o noturno, e foi aí que tudo virou de cabeça para baixo.
 
  Eu era a bola da vez, cheguei como o Caxias, estudava, sentava na primeira cadeira, freqüentava as aulas assiduamente e era o responsável por um projeto na escola, um pequeno jornal semanal que o diretor havia implantado. Eu cobria os eventos da escola, festas juninas, Gincanas, Feiras de Ciências, Destaques do mês e até tinha uma coluna de fofoca que era a parte cômica do Jornal. Eu andava para todo lado com um velho gravador que havia ganhado de meu avô, um ex-jornalista que vivia o restante de sua vida pescando carpas na lagoa em frente a nossa casa.
 
  Por quase toda minha vida morei com meu avô. No pouco contato que tive com meus pais lembro-me apenas de ver minha mãe com os olhos inchados, e o sangue escorrendo de seu nariz e boca. Ela me olhou como se eu fosse uma maldição na vida dela enquanto meu pai, um idiota com a barriga de cerveja a dava um forte chute no estomago. Não me recordo de muitas coisas, tinha quatro anos quando passei a morar com meu avô, um homem solitário que carregava uma imensa saudade de minha avó que havia morrido de chagas há muito tempo atrás. Juntos vivíamos em um rancho não muito afastado da cidade
 
 Durante o dia só tinha tempo para o trabalho e no intervalo que se dava entre as 16 e 18 horas arrumava um tempinho para estudar. Mas acabei conhecendo Charlie, e então tudo mudou. Eu já era perseguido, mas me defendia com minha intelectualidade e autocontrole, que na verdade eram muitos maiores do que o de qualquer um da escola e eram minhas únicas armas para lutar contra aquele bando de imbecis, considerando-se meu corpo magro e minha baixa estatura que faziam de mim um inseto perto deles.
 
 Já Charlie era um garoto solitário, e se a mim, o magrelo da sala, sobrava controle, já em Charlie o maior alvo de chacotas de toda escola, por pesar nada mais, nada menos que 130 quilos, tendo minha idade e sendo apenas cerca de cinco a sete centímetros mais alto que eu, um peso muito acima de sua média por sinal, o autocontrole é realmente algo que ele não conhecia. Seus limites eram mais baixos que diferencial de sapo. O garoto tinha uma força descomunal para sua idade, mas não tinha cérebro, tampouco velocidade. 
 
 Diego, o maior idiota que a pequena escola Luzia Prates já havia tentado educar, se revezava entre zoar o Nerd da vez, que no caso era eu, e pegar no pé de Charlie. Durante certo tempo eu até achava engraçado a maneira como faziam isso com ele, xingavam apelidos, chamavam-no de Geléia Humana, Gelatina, Senhor gordura, Big Pig, apelidos tão idiotas quanto os membros irritantes da mini-gangue do valentão da escola. Porém o que era engraçado era que Charlie tentava correr atrás deles, mas era tão lento que eles ficavam dando voltas a menos de três metros do pobre infeliz, o que tornava aquilo algo cômico, até o dia em que ele caiu no chão chorando tanto que parecia estar querendo renunciar a sua própria vida.
 
 Naquele momento lamentável ele amaldiçoara seus pais. Todos sabíamos da história de Charlie. Sua mãe era uma viciada, heroína, maconha, fumava tanto que seus olhos azulados já haviam deixado de ser comparados com o oceano e sim passaram a ser referencia do mar vermelho. Seu pai era um maldito alcoólatra que andava pela cidade dirigindo seu opala diplomata completamente batido, o carro tinha mais amassados que uma sucata velha. A família havia ficado assim desde que sua irmã mais velha morreu. Ela havia sido estuprada, e em seguida levou três tiros na cabeça, dois nos olhos e um bem no meio da testa.
 
 Após aquele episódio no pátio Charlie desapareceu da escola. Mas para todos era como se nada tivesse acontecido.  Já fazia quinze dias e algo estranho me passava pela cabeça. Estive tão disperso nas aulas que acabei tirando apenas 21 de 25 pontos na prova de matemática. Não sei por que, mas eu tinha que falar com ele.
 
 Algo em minha mente me dizia que até que enfim havia encontrado alguém parecido comigo. Aquele eu interior me levou até sua casa por volta das sete horas da noite. Uma antiga casa de Madeira, enorme, as tábuas eram pregadas horizontalmente dando um estilo peculiar a casa. Janelas de vidro com um chapéu colonial davam um ar incomum e sombrio, enquanto o telhado era feito de telhas antigas e irregulares, como se houvessem sido feitas nas cochas dos escravos, como eram antigamente. As paredes de madeira eram pintadas originalmente de branco, o mesmo que já se tornara amarelado graças ao tempo e a poeira que a havia envelhecido tanto.
 Ao lado da casa, uma enorme mangueira que dava na janela do quarto de Charlie, elevava seus galhos, a arvore cheia de vida fazia sombra por sobre a sacada da casa e impedia que a grama sobrevivesse sob ela, restando apenas um chão de terra batida, seca e poeirenta. O andar superior da casa, a cerca de cinco metros do chão revelava a janela do quarto de Charlie.
 
  Peguei algumas maguinhas verdes e lancei contra o vidro. Até a segunda não havia sinal dele. Mas de repente ele abriu a janela e a terceira fruta acertou direto na testa do garoto. Tão rápido como apareceu subitamente, Charlie sumiu. Por um breve momento fiquei atônito sem saber o que fazer.
 
 O silêncio, a imagem de ira no rosto do garoto, aquilo tudo foi quebrado pelo som oco de algo batendo sobre a madeira, como tambores rufando alto, tal quais as batidas de um filme de suspense. A porta se abriu e ele veio em minha direção, bufando feito um búfalo, suas narinas oscilavam e eu juro que ele babava tal qual um cão raivoso, expondo seus dentes amarelos e mal escovados. Em seus lábios ainda resquícios de chocolate que ele provavelmente teria comido antes da janta que no caso parecia ser eu.
A fome estava denotada em seus olhos, em uma cólera incrível, e naquele momento me senti tal qual um cervo sendo caçado por um enorme leão.
 
 - Desgraçado! – ele avançou. - Eu estou na minha casa fugindo da escola para ficar livre de vocês e você ainda vem aqui me afrontar pirralho! – Ele disse estendendo suas mãos como se quisesse me pegar pelo pescoço. Sorte a minha que eu era escorregadio como quiabo e muito mais rápido que ele. Desviei como se fosse um pugilista dançando no ringue, porém apenas esquivava de seus golpes. Demorei certo tempo para fazer com que ele me ouvisse, mas enfim consegui.
 
 - Eu só estava tentando falar com você! Te acertei sem querer Charlie, desculpe-me! – acredite se quiser, mas ele parou. Ele simplesmente parou. Seus olhos arregalados em minha direção, enquanto as duas meninas de seus olhos fitavam-me, negras e congeladas no tempo, meu coração parecia ter parado de bater. – Eu vim pedir pra que volte pra escola. – Eu lhe disse ainda com a respiração quase interrompendo minha fala.
 
 - Voltar, mas... – Ele gaguejou ainda descrente de meus motivos, porém nós dois tínhamos muito mais em comum do que imaginávamos. Nossos olhares se cruzaram apreensivos e confusos, mas entregues num misto de medo e curiosidade. Charlie baixou suas mãos e se sentou ofegante sobre a grama que cercava a arvore. Respirou fundo e baixou os olhos. – Não sei se posso, cansei de ser piada, sabe. - disse voltando-se para mim.
 
 - Então não seja. Podemos mudar isso de vez. Nós dois podemos dar um jeito neles. – Eu sabia que separados não éramos nada. Mas juntos, cérebro e músculos funcionariam muito melhor. Charlie sorriu para mim, um riso quase diabólico, senti o cheiro da pretendida vingança chegar junto de seu hálito quente e quase podre. E ali nasceu a maior amizade que eu teria em toda minha vida.
 
  Diego e sua gangue surpreenderam-se ao nos verem chegando juntos no outro dia. Na verdade a escola inteira estava chocada pela volta de Charlie e principalmente por eu, o detentor da melhor média escolar estar ao lado do pior aluno. Mas nós pouco nos lixávamos para aquilo. Eles nos zoaram por mais um tempo, e nós nos mantemos calados, consegui inclusive que Charlie menosprezasse eles. Mas isso apenas porque ele sabia o que iria acontecer.
 
  Estudei cada detalhe, me preparei para que tudo ocorresse como planejado. Analisei os pontos fracos, mas precisávamos ser cautelosos e expô-los ao máximo. Durante a elaboração do plano a afinidade entre nós era crescente. Uma cumplicidade enorme nos tomava, aquilo parecia ser coisa do destino. Toda vez que eu entregava o jornal para Diego, assim que passava por ele o idiota enrolava o papel, apertava-o entre os dedos e me dava um enorme safanão. Mas era isso que eu queria. Maldito imbecil.
 
 Os quinze dias de ausência de Charlie lhe renderam uma punição. Ele agora deveria fazer algum trabalho para repor seus dias de aula, além de fazer aulas extras, aquilo era um absurdo porem algo útil para o que tínhamos em mente. Nos intervalos, entrada, saída e recreio, Charlie coletava o lixo, papéis, tudo que estivesse caído pelo chão da escola, além de ajudar na limpeza em geral após o horário. Aquilo era o que Diego e sua turma queriam para cair matando encima de meu amigo. Eles enchiam suas mãos com bolas de papel e jogavam nele. Ninguém fazia nada, alguns professores achavam a coisa até engraçada, mesmo que escondessem isso, dava pra ver em seus olhos. Eu queria matá-los, mas o fim deles estava próximo.
 
  O tempo passou, até que a primeira carta chegou, nas mãos do diretor César Augusto. A policia chegou uma hora depois e evacuaram a escola. Uma carta feita de palavras recortadas de jornais dizia que a escola seria incendiada. Essa não tinha assinatura, era apenas uma ameaça. Ficamos dois dias sem aula, alguns de nós fomos interrogados, inclusive Charlie. Mas as aulas voltaram normalmente, para todos aquilo havia sido apenas uma brincadeira de crianças.
 
  Mais uma semana passou-se e quando chegamos à escola as lixeiras da entrada estavam queimando. E enrolada em uma pedra outra carta jazia no chão, endereçada a todos os alunos e professores, chamando todos de um bando de bundões, e dizendo que agora iríamos para fase três da brincadeira. Era hora de mostrar quem eram os melhores.
 
  A policia passou a fazer rondas, dois policiais ficaram dedicados à escola, um de dia e um a noite, mas quinze dias se passaram e como esperado eles relaxaram. Todos pensavam em quem poderia ser capaz de fazer algo assim, e é claro às probabilidades indicavam uma pessoa em especial, mas ainda não haviam provas e tudo parecia não passar de mais uma brincadeira. E foi naquele dia que decidimos agir.
 
 Vi Diego no meio do corredor lancei-lhe a pergunta; ele me deu o safanão enquanto seus dois comparsas riam debochadamente. Porém eu me virei e cuspi as palavras certas na cara dele.
 
 - Seu incendiário idiota! Você é que é o bundão da escola? – Eu o disse enquanto seus olhos estreitaram-se em minha direção. – Você é o incendiário, não é? Admita!
 
 
  Foi aí que ele resolveu me atacar. Os dois comparsas prepararam-se para ajudá-lo e então Charlie os segurou pelos pescoços surpreendendo-os, bateu suas cabeças uma contra a outra e os jogou contra a parede como se fossem duas marionetes. Os dois caíram aturdidos enquanto cercávamos Diego que se viu acuado.
 
 - Seu merdinha! – Ele disse para mim. – Quer ver fogo? Eu vou queimar você vivo! – O corredor estava lotado, alunos olhando espantados para nós, aquilo era um momento surreal. E havia sido melhor do que eu imaginava. O diretor chegou junto com a professora de História e a multidão se dissipou rapidamente enquanto fingíamos que nada tivesse acontecido, mas o olhar de Diego e seus comparsas era algo deveras ameaçador. O diretor saiu balançando a cabeça negativamente, trotando em direção a sua sala. Todos sabiam do que se tratava, Diego, só por que era filho de alguém importante da cidade, era acobertado sempre.
 
  Enquanto os dias passavam após o ocorrido, Charlie a apresentou para mim, me contou que eu seria a primeira pessoa a conhecê-la e me disse o quanto ela era especial para ele. A principio tudo era um mistério, ele nunca tinha falado dela para mim. Ele me falou que não podia me apresentá-la em qualquer lugar, disse que ela era procurada e se a achassem tirariam era dele. Perguntei a ele por que não havia me apresentado e Charlie me disse que não era por ele, mas ela precisava me conhecer melhor. Me assustei com a idéia que alguém tivesse me espionando mas confiava em meu amigo.
 
 Estávamos num beco entre a rua norte e mercearia do Pastor Marcio. Havia uma enorme caçamba de lixo. Era os fundos de um restaurante que servia comida chinesa. O cheiro de peixe impregnava o ar, vi duas cabeças enormes caídas no chão, era um peixe diferente que não pude identificar, seus olhos estavam podres e um gato preto se revezava entre lambidas e mordidas, leves e nojentas, ele olhou para mim, seus olhos amarelados pareciam me amaldiçoar por estar ali, ele então miou, um miado assombrado e assustador.
 
 - Quero que conheça Diana! – Charlie disse com um estranho ar de obsessão. Olhou para mim e então eu a vi a minha frente. Era negra, linda, parecia um feitiço. Charlie sorriu. – Ela é linda não é?
 
  Ela não disse uma palavra sequer, entretanto parecia poder falar com minha alma. Sua boca não se movia, e eu temi que ela falasse algo. Era tudo muito estranho. Diana? Perguntei-me o porquê daquele nome, mas Charlie não gostaria que eu questionasse sobre isso. Ele me disse que ela gostava de ser beijada, tocada e que ele não tinha ciúmes, não comigo. Que eu poderia acompanhá-la, e que ela atirava como ninguém, e estando comigo ela o protegeria na hora certa, era mais que um dom, ela era uma assassina fria. – Estranhei as palavras dele, mas aceitei a tarefa de cuidar dela até a hora necessária.
 
   A poeira abaixou, haviam se passado quatorze dias desde nossa discussão, Charlie saia da aula de reforço, despediu-se da professora e sorriu para ela, que parecia assustada levando consigo um envelope nas mãos. Charlie olhou para o chão, viu alguns papéis jogados e calçou as luvas que estavam em seu bolso, as mesmas luvas plásticas que ele usava durante a semana para recolher os papéis. Ele olhou para o corredor e seguiu apressado para o banheiro. Abriu a porta enquanto sentia que sua bexiga iria estourar. Quando adentrou pareceu não perceber o calço que levou dos pés de Diego e caiu de cara no chão. Diego e seus dois capangas o amarraram em uma cadeira e o amordaçaram enquanto Diego apontava um canivete de pressão para ele, passava o canivete de um lado para o outro, cortando o ar.
 
 - E agora Big Pig? – Ele perguntou enquanto andava em círculos, os olhos de Charlie acompanhando cada passo dele, enquanto sua cabeça deslocava-se para que ele pudesse ver onde Diego estava indo. Diego porém estava por detrás dele. Não tem mais ninguém aqui, sua professorinha já deve estar ligando o carro, apressada para ir direto para casa e abrir as pernas pro amante dela, antes do diretor chegar, afinal ela é uma vadia. Suas aulas de reforço nas tardes de sábado vieram a calhar, são perfeitas! Temos um tempinho juntos pra que eu possa cuidar de sua boca, seus dentes precisam ser mais bem escovados e depois pegaremos seu amiguinho. – Ele disse pegando a vassoura que estava encostada na parede.
 Olhou para os dois capangas e sorriu maliciosamente. Postou-se na frente de Charlie enquanto os dois o seguravam e então esfregou a vassoura na cara de meu amigo, era uma vassoura de pêlos, estava enlambuzada com merda, bosta humana, fétida e rala, ele passava de um lado para o outro, sujando o pano que estava entre os lábios de Charlie que balançava a cabeça enquanto os dois o seguravam por trás. Mas eu não podia intervir ainda. Nem eu, nem Diana. Estávamos nós dois, sobre o vaso sanitário, meus pés sentiam a porcelana fria, enquanto meu olfato estava engasgado com o odor da merda que envolvia o pobre Charlie. A voz de Diana sussurrava ao meu ouvido;
 
 - Deixe-me agir! Eu mato eles! – Aquilo estava ficando cada vez mais complicado, mas eu sabia que não era hora. O som da voz dela era como elixir para meus ouvidos, me embriagando de uma forma anormal. Resisti loucamente aquele fascínio e esperei mais um pouco, o barulho do motor do Monza vermelho da professora chegou aos meus ouvidos, e logo foi-se indo embora, cada vez mais distante até se perder de minha audição.
 
 Foi aí que eu abri a porta com um pontapé como se fosse um caubói, eles é claro ficaram surpresos, mas ao me verem não expressaram medo algum. Olhei para Charlie e ele sorriu, mesmo com toda a bosta ao redor e dentro de sua boca.
 
 - O que você quer fedelho? Participar da brincadeira? – Ele perguntou fazendo sinal para que os dois me agarrassem. Foi aí que eu disse para que ficassem quietinhos. E os olhos deles se encheram de medo ao verem Diana saindo detrás de mim. – Conheçam minha amiga Diana Caolha seus imbecis! Diana parecia estar louca para disparar no meio da testa deles. Seu olho mirava neles bem no meio de suas testas. Charlie ria diabolicamente, seus dentes enlameados de dejeto humano amaldiçoaram os três como se o diabo tivesse reencarnado naquele garoto.
 
 - Deixe-me acabar com eles! – Ela me dizia enquanto eu tentava controlar a situação. Mas eu precisava raciocinar, e mesmo que eu quisesse matá-los aquela não era a maneira correta. Sentia todo meu corpo tremer em plena fúria, vi que Diana também estava trêmula. Olhei Para Diego e ordenei que ele soltasse Charlie, o idiota estava com tanto medo de Diana que se urinou enquanto desamarrava o garoto. Pedi a meu amigo que pegasse o cesto de lixo dentro de um dos lavabos. Ele pegou o balde nojento abarrotado de merda e colocou próximo aos três.
 
- Agora comam! – Eu ordenei. Eles estavam relutantes, até que Diana engatilhou, o clique chegou aos seus ouvidos como o play de um controle remoto ordenando que o DVD tocasse.
 
 - Quero que eles comam até o papel! – Charlie ordenou. Diana estava louca para disparar e acertar uma bala calibre 38 nas testas dos malditos. – Acalme-se Diana, não acho que precisaremos disso aqui, tenho outros planos. Diana entrou naquele jogo maldito depois de nós, mas queria que a morte deles viesse por ela. Eu ainda não entendia todo esse furor, na verdade eu já estava me achando um louco. 
 
  - Charlie olhou para Diego, encarou-o nos olhos, e viu de perto o medo que o valentão carregava. Os três começaram a comer o papel branco fino que dissolvia dentro de suas bocas com gosto de hóstia misturado a merda que se agarrava entre os dentes e dissolvia-se em suas salivas escorrendo pelos cantos de suas bocas. Aquilo era a hóstia do demônio. Diego vomitou até as tripas e olhou para mim ajoelhado no chão.
 
 - Não nos mate! Por favor! – Seus olhos estavam cheios de lágrimas, enquanto ele babava a mesma merda - Quero que nunca mais se meta com a gente! Ouviu? – Eu disse enquanto eles me olhavam gorfando feito recém nascido após se lambuzarem do leite provido do peito de suas mães. Charlie enfiou as mãos no bolso e retirou três seringas e jogou até eles. – Isso é heroína, injetem em vocês mesmos.
 
 - Ta loco cara? – Perguntou George um dos capangas.
 
 - Só queremos vocês fora de circulação até que tenhamos sumido daqui. É isso ou levar uma bala na cabeça. Diana está ansiosa por acabar com a vida de vocês. – Eu não sei como, mas eu exalava um domínio incrível da situação. Diana permanecia calada, pronta parta disparar a qualquer segundo e Charlie olhava para os três enquanto seus olhos ardiam em chamas.
 
 - Vamos matar eles! Eles vão querer nos pegar depois! – Ele disse olhando para Diana.
 
 - Não! Eles vão tomar a droga! Fiquem calmos! – Eu disse enquanto Diego me olhava receoso. Diana mirou nele, e Diego catou uma seringa no chão, repleta da droga e injetou em seu braço sem titubear.
 
 - Pronto, pronto! Agora façam o mesmo seus idiotas! – Ele disse para os dois que entreolharam-se e fincaram a agulha em suas peles. Charlie olhou para mim e trocamos um sorriso. Alguns minutos depois os três estavam jogados no chão, trêmulos e tendo uma overdose, era o que acontecia quando se misturava a heroína junto com drogas depressoras do sistema nervoso central, como álcool e calmantes. A heroína tinha seu efeito potencializado. Eu havia misturado um calmante forte que a mãe de Charlie tomava para dormir na tentativa de esquecer a imagem da filha, que já a assombrava há tanto tempo.
 
 Tiramos toda e qualquer evidencia nossa dali, Charlie não havia tocado nada, tampouco eu e muito menos Diana. Aliás, Charlie pra qualquer efeito não havia estado em momento algum naquele banheiro, ele estava em casa uma hora dessas. Espalhamos gasolina que tiramos do carro da professora pela escola e ateamos fogo. Os três queimaram junto daquele pequeno prédio rural. Eu, Charlie e Diana, minha mais nova amiga fugimos sem deixar rastro algum, sem impressão digitais, sem nada.
 
 No outro dia um prédio em cinzas e três alunos carbonizados foi o que encontraram onde a escola um dia havia existido. Uma pedra com outra carta foi encontrada na porta da escola. Nela, em palavras cortadas de nossos jornais semanais, havia uma única frase.
 
 - Voltarei do inferno para acabar com esses bundões! Ass: D
 
  A policia veio, coletou provas, interrogou a todos, sabiam que eles tinham feito uma ameaça a mim. Eu havia gravado tudo no meu velho gravador.
 
 - A voz foi reconhecida. Charlie também foi interrogado, tentaram nos incriminar, mas a professora teve que mentir, a foto que Charlie a deu no envelope era clara, ela e o amante, na cama, transando como dois adolescentes. Uma fotografia apenas, uma das dez fotos diferentes que tiramos espiando pela janela de seu quarto, ameaçamos entregar direto para seu marido, o diretor, ou quem sabe para os filhos dela. Charlie havia ido embora com ela. Eu estava pescando com meu avô, dei um calmante para ele que dormiu o tempo necessário para que eu chegasse lá e ainda demoroaram 17 minutos para que ele acordasse.
 Encontraram as digitais de Diego, nas tiras de jornal, e depois fazendo uma revista na casa deles, acharam um saco de lixo com o restante dos jornais. Estava tudo lá como nós queríamos. Foram safanões que eu tomei e tomaria só pra ver ele se enforcar. O maldito queimou até a morte. Overdose, suicídio, os três ficarão tão doidos que comeram bosta, e atearam fogo na escola inteira, a assinatura dele, D de Diego, mas sabíamos que não era bem assim. Ela queria tanto que ele morresse, Diana, como ela queria tê-los matado. Mas ainda não era a vez dela.   
 
O tempo passou, mas ninguém nunca se esqueceu daquele nosso primeiro crime. Enquanto isso minha amizade com Charlie crescia, mas algo muito maior tomava o meu ser, meu estranho e incontrolável desejo por Diana.
 
Continua...


Leiam...

O Jogo da Forca - Episódios  I ao VII

Pena de Morte - Episódios I ao XI - Faltam os dois ultimos que serãopostados logo. ( Me desculpem pelo atraso, mas estou relendo a série para queo final atenda as espectativas dos leitores e principalmente as minhas.

A Rainha dos Monstros - Esse logo será novamente revisado e provávelmente terá muita coisa nova, visto que pretendo fazer a continuação.


E breve virá um conto de ficção científica, abordando um tema surpresa para vocês, esse conto será feito por mim e pelo digníssimo Mauro Alves.

Quanto a continuação desse conto - De amanhã até terça feira, será uma estória de no máximo três capítulos.

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Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 26/01/2012
Reeditado em 27/01/2012
Código do texto: T3463651
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