O Andarilho
A madrugada caia lúgubre. O vento gelado sussurrava nas costas de Dagmar. Era sábado, e ela voltava de seu trabalho a passos rápidos e firmes. Ela detestava aquela rua, parecia, sempre, que alguém a vigiava. Essa sensação costumeiramente a afligia quando ela passava por ali. Era uma rua, que àquela hora, sempre se encontrava deserta. Era uma longa avenida com poucos prédios residenciais do lado esquerdo. Do lado direito ficava um parque, muito arborizado e bonito quando de dia. Contudo, a noite ele parecia assustador. As sombras que as árvores faziam com a ajuda da parca iluminação dos poucos postes que funcionavam, formavam figuras bizarras no chão, e ela sempre tinha a impressão que alguém a seguia, sentia que era vigiada por muitos olhares vindo daquelas árvores. Quando ela pensava friamente sobre essa hipótese, principalmente quando já estava no conforto de seu lar, muito bem protegida, ela ria da situação, achando um completo absurdo. Entretanto, durante o percurso, a sensação de que aquelas árvores tinham olhos era perturbador, ao ponto de muitas vezes ela percorrer aquele trecho praticamente correndo. A avenida era de mão dupla, separada por um canteiro. Ela sempre caminhava pelo canteiro. Desta forma se sentia mais segura, pelo fato de ter uma melhor visão dos dois lados da rua. Ela ia praguejando contra seu patrão que a fez trabalhar até mais tarde, por conta de um aniversário que foi comemorado na lanchonete. Num sábado normal ela já estaria em casa, banhada e em baixo de seus cobertores há muito tempo. Um barulho vindo das árvores do parque tirou-a de seus devaneios e a fez ficar alerta, seu coração disparou, percebeu que algo se movimentava no meio da folhagem, de novo a certeza que estavam lhe espionando, alguma coisa estava seguindo-a. Começou a acelerar o passo, as folhas das árvores começaram a balançar, ela, então, correu. Enquanto corria, o pequeno salto dos seus sapatos estalavam no cimento da calçada, ecoando sinistramente pela rua. Correu sem olhar para trás, no entanto, sabia que algo muito estranho a seguia pulando de árvore em árvore. Saiu do meio da avenida e passou para o outro lado da rua, se distanciando do parque, e ficando cada vez mais perto da esquina que levava ao shopping, lá a rua era muito mais movimentada. Assim que dobrou a esquina esbarrou dolorosamente em um obstáculo, que a fez cair sentada. Ainda sem entender onde tinha batido, levantou-se limpando a saia e resmungando, “Mas que diabo, colocaram uma parede no meio da rua?”, quando finalmente levantou os olhos viu que não tinha batido em parede alguma e sim num homem. Um imenso homem, com uma grande barba, cabelos longos e despenteados. Ele usava roupas velhas e rasgadas, e segurava um grande saco, feito de tecido, nas costas. Ele era muito feio e o seu mau cheiro queimou as narinas de Dagmar. Ela olho-o, e ele abriu um grotesco sorriso de dentes podres. Dagmar ainda não tinha se recomposto totalmente e um lado do seu sutiã estava à mostra deixando ver uma pequena parte de seu seio direito. O maltrapilho não disfarçou que estava olhando para ele, para o seio. Dagmar arrumou a blusa, pediu desculpas pelo o encontrão e foi passando pelo andarilho, ele não deixou que ela passasse. Segurou-a pelo braço com força, Dagmar gritou desesperada, ele tapou sua boca com a mão que ainda segurava o saco, e foi empurrando-a em direção ao outro lado da rua, ela ficou entre o homem e o saco que ele carregava. Ele a arrastava em direção ao parque. Dagmar estava totalmente imobilizada, o homem tinha uma força descomunal, e enquanto tapava a boca com uma mão, à outra apertava os seios de Dagmar. Ela também sentia a língua do homem lamber seu pescoço freneticamente. Ele não dizia nada, só grunhia e respirava afobadamente. Ela foi levada para dentro do parque, por uma fenda no muro. O lugar estava muito escuro, Dagmar não conseguia enxergar um palmo a sua frente. O homem parecia conhecer muito bem aquele lugar, andava habilmente cortando a escuridão. Andaram por 500 metros parque adentro, cada vez mais se embrenhando naquela floresta em plena cidade, até que chegaram numa espécie de barraca, feita com papelão, folhas e madeiras. Um candeeiro iluminava o interior do barraco. Podia-se ver alguns lençóis no chão, um pequeno fogareiro com uma panela imunda em cima, capas de discos de vinil, e muita casca de banana espalhada pelo chão. Pendurados num varal havia mais quatro cachos da fruta ainda verde. Não era de se estranhar, o parque era chamado de Jardim das Bananeiras. O resto das coisas dentro da barraca era lixo, e o fedor de merda e de putrefação era asfixiante. O velho andarilho jogou Dagmar em cima dos lençóis com muita violência. Assim que ela se viu livre, levantou-se e tentou fugir, porém, o homem desferiu um poderoso murro em seu rosto e ela caiu chorando.
_Por favor, não faça nada comigo, eu tenho muito dinheiro aqui na bolsa, ele é todo seu.
O vagabundo encarou a mulher, passando a língua pelos lábios e balançando-a obscenamente enquanto bolinava o seu membro, que estava duro como pedra. A mulher assustada e temendo o pior para ela, falou de novo:
_Está aqui o dinheiro meu senhor, olhe!
Estendeu a mão trêmula e mostrou um bolo de dinheiro para o homem. Era todo o seu salário que tinha recebido hoje e mais as generosas gorjetas dos convidados da festa. Dagmar era uma bela mulher e sempre cativava a simpatia dos clientes, conseguindo assim muitas gorjetas. O homem pegou o dinheiro da mão dela e jogou dentro do saco que ele carregava suas tranqueiras. Olhou bem para ela e falou entre dentes, e com saliva gotejando de sua boca.
_Como eu estava esperando por esse dia, eu e meus amigos seguimos você varias vezes, e só hoje eu vou conseguir me saciar.
Dagmar começou a gritar
_Não toque em mim! Não toque em mim! Seu velho fedido, filho de uma puta!
_Hahaha, minha mãe era uma puta mesmo, e por isso eu a matei há muitos anos. Agora eu vou me fartar em suas carnes e depois meus companheiros terminarão esse banquete maravilhoso que eu trouxe.
Aproximou-se da apavorada mulher, que tentou, inutilmente, agredi-lo, todavia, ele era muito maior e mais forte que ela. Ele acertou outro murro nela, que quase a deixou inconsciente. Jogou longe a bolsa que ela ainda segurava, rasgou suas roupas e a violentou. Passou quase uma hora saciando sua perversa luxuria, e além de penetrá-la, também batia, mordia, e a esganava. Depois de completamente satisfeito, deixou-a no chão da barraca desacordada e coberta de sangue. Ela ainda não estava morta, mas era por pouco tempo. O homem começou a descascar algumas bananas olhando para o corpo branco de sua vítima, comeu duas, e as outras, muitas outras, foram jogadas em cima do corpo inerte e ensanguentado de Dagmar. O andarilho foi até as árvores e assobiou. De repente, um bando de macacos bugios desceram lentamente dos galhos das árvores. O homem sorriu e falou:
_Vão lá meus amiguinhos, aproveitem esse delicioso jantar, se deliciem, eu já estou satisfeito. Uma insana gargalhada foi ouvida.
Os macacos foram se aproximando do corpo de Dagmar, primeiro devagar, e depois, quando avistaram as bananas meladas no sangue da mulher, pularam velozmente e começaram a gritar e a comer as bananas, arrancando grandes pedaços da fruta e do corpo de Dagmar. Dagmar já sem força para reagir, apenas urrava de dor a cada mordida e a cada lasca de seu corpo que era devorado pelos enraivecidos macacos. Antes do último suspiro, teve a certeza que aquelas árvores tinham olhos, e, sobretudo, bocas e dentes.