”Mistério”.
Joaquim era ótimo pescador, para nadar era um verdadeiro peixe. Sua freguesia era maravilhosa, ele cobrava os peixes mais caro que qualquer outro. Diziam que ele tinha um segredo, que ninguém sabia, Peixe para ele não tinha época. Fale o nome, o peixe existe e ele traz. O preço era caro, mas para quem pode pagar. Eu comia cascudo, traíra, lambari. De tanto o povo falar, eu que também era pescador, só não de tanta sorte ou técnica que o Senhor Joaquim, mas um dia quando pescava, o vi passar. Como eu estava sentado na outra margem ele não me viu. Tinha um saco de estopa nas mãos e assobiava feliz. Pensei, é hoje e me esgueirei atrás dele. Devia ter deixado a traia em local secreto. Senhor Joaquim devia ter quarenta ou quarenta e cinco anos. Meio gordo cabelos grisalhos, digamos assim, era um velho feio. Falo isto porque eu com dezenove, sem barriga trabalho bastante, acho que meu corpo é atlético perto dele. Amanhã com quarenta talvez eu fique igual. Bem voltamos ao ponto. Após uma curva do rio eu o perdi e para não encontrá-lo de supetão e envergonhar, me afastei um pouco da margem. Mas logo à frente ouvi risos e sorrateiramente me aproximei. A índia mais bonita que vi até hoje estava abraçada com ele. Os dois nus namoravam. Ela ainda era menina, e ele um velho fiquei com ciúmes. Após uns quinze minutos ele colocou a roupa, ela lhe deu alguns peixes. Ao se despedir ela deu mais um abraço nele e nossos olhares se cruzaram. Escondi-me rapidamente, ele não viu e foi embora. Quando voltei a olhar ela já tinha ido. Fui para onde ela estava e não consegui ver para onde seus passos seguiam. Deve ter ido embora de barco ou nadando. Mas se fosse eu ouviria e não ouvi. Enquanto imaginava o que poderia ter acontecido, uma mão pousou em meu ombro. Cabelos, rosto, dentes perfeitos, e corpo escultural, pelada me falou. -Oi – Vós de nenê eu respondi –Oi. Os pensamentos se embaralharam e eu só sei que levei para casa surubis, pintados, e outros peixes. No outro dia fiz ótimas vendas. Parece que a sorte do Senhor Joaquim acabou ele não pegava mais peixes, em compensação eu lavava a égua. Estava sentado na venda, tomando uma cervejinha, e senti um negócio pontudo me espetar às costelas. Tem pescado muito? Saímos dali agarrados, igual casal de namorados e ninguém viu, que pudesse me dar uma ajuda. A ponta da faca já comia minhas costelas, começava a sangrar. Calma Senhor Joaquim vamos conversar, acho que podemos entrar num entendimento. Quero saber safado, como você descobriu meu segredo. Que tenho guardado a mais de vinte anos. Chegamos à margem do rio e ele falou vou te ensinar a nadar seu safado. Me arrastou para a água. Ele tinha muito fôlego e vi que realmente eu morreria logo. Surge do nada a menina e sorrindo para mim pegou ele pelo pescoço e levou para o fundo. Quando consegui tirar a cabeça d’água e repor a respiração fiquei ainda alguns minutos sem poder nadar, consegui me agarrar a algumas raízes. Perdi mais de vinte minutos para me recompor. Ela voltou e sorrindo me ajudou a chega á margem. Namoramos outra vez. Depois me agarrou e levou para as profundezas do rio. Quando estava para perder os sentidos chegamos a uma gruta. Dentro havia uma estranha luz amarela. Não conseguíamos conversar, mas ela deu a entender que morava ali. Entre namoros longos, ensinou-me a deslizar na água.Rapidamente eu nadava tão bem que acho que poderia até ganhar do Senhor Joaquim, que eu achava ser o melhor nadador do local. Ela me tratava com frutas diversas, nozes e castanhas, parece que fiquei mais forte e resistente. Quando voltei para a vila Senhor Joaquim já tinha sido enterrado a mais de mês. Fora morto por algum peixe monstro ou sei lá estava desfigurado. Vivo com ela até hoje ela continua como uma menininha. Estou ficando preocupado, pois já estou chegando aos quarenta e cinco, em breve ela deverá me substituir. Mas fazer o que, é a vida. Quero aproveitar enquanto der.
Viva e sinta as emoções intensamente, se acabar restarão as lembranças .
Se nada tiver, lembrar o que?
Oripê Machado.