VAMPIROS 3

Chris saiu da taberna furioso. Bêbado de mulheres e vinho barato ele queria matar. Desceu os degraus de madeira, o som alegre ao fundo, na noite escura um homem andava solitário no lugarejo. Chris andou a passos firmes até ele. Chuparia seu sangue, sua fonte vital. O sangue vermelho dos humanos, não o sangue escuro dos vampiros. Aquele homem era um louco a andar só naquele lugar de vampiros e licantropos, onde os fantasmas atormentavam os humanos.

Quando o homem o viu disse: - Ei amigo, já ia pra casa, mas vamos tomar juntos o ultimo gole. Minhas doces esposa e filha estão dormindo agora.

O sotaque e as roupas denunciavam o cigano.

O sorriso no rosto do homem, que festejava algo, a felicidade verdadeira estampada, fez suas pernas vacilarem. Conheceria o homem, depois o mataria. Trocaram algumas palavras, Christoferson disse que era tarde e o homem deveria estar em casa com a família – porque será que ele disse isso? Foram a outra taberna aberta, no fim da rua escura e fria. A neve caia sobre os dois. Haveria uma nevasca forte, disse o homem sendo cortes. Chris deu um meio sorriso, só pra disfarçar.

Mas beberam até amanhecer. Andrei disse eu viera da França, de Napoleão, perambulara pela Alemanha e agora estava nessas montanhas perdidas da Europa. O homem mostrava um amor verdadeiro pelas suas mulheres. Natali era a menina mais linda do mundo, dissera, enquanto a mãe, Ana, era a esposa que um homem sonhava. Os primeiros raios do sol surgiam ao longe, levando embora a neve e a chuva.

A raiva que sentia do licantropo estava passando, Andrei tinha esse poder hipnótico de sanar a dor no peito.

-A mulher é minha, disse o jovem forte à sua frente, jogando o vinho que segurava no seu rosto. Chris levantara-se de um pulo. O jovem morreria antes que anoite acabasse. Chris sentiu o cheiro de cachorro molhado, por debaixo da pele asseada do jovem bonito à sua frente, ele era um lobisomem. Os lobisomens sabem discernir a presença dos vampiros, que sabem ser mais fortes. O amor por uma daquelas mulheres que abraçaram o estranho alto, a noite toda, tirava-lhe o medo dos olhos. Chris sabia que ele lhe daria trabalho ainda. Haviam mais dois licantropos no salão, ele percebeu, um deles estava de costas e nem olhava para ele. Era um velho de cabelos brancos. O outro era um pouco mais jovem que o moço à sua frente e parecia-se com ele. Deveriam ser uma família. Atacar um licantropo já seria difícil, mas três? Ficaria pra outra oportunidade.

Foi nesse momento de raiva que ele saiu do bar e enconrou com Andrei, que o convenceu a almoçar com sua família. Sua esposa iria fazer um guisado de carne com batatas.

Duante nove meses o vampiro andou com os ciganos, conhecendo-os, amando-os. Natali, de dezesseis anos tinha olhares para ele, Chris sabia, mas ela era tão pura e o respeito por Andrei era muito forte. Ana, a esposa de Andrei o tratava como se fosse da família. Durante o dia vendiam bugigangas, temperos e consertavam panelas, para o povo humilde do lugar. À noite cantavam modas ciganas e falavam, ou melhor, Andrei, Ana e Natali falavam, Chris quase não falava de si. Ele não poderia lhes dizer que nascera a gerações, mas tinha a aparência de um jovem de vinte anos.

Christoferson sabia que corriam perigo ali, e tentara muitas vezes dissuadir Andrei para partirem, o que ele sempre dizia que faria em breve, quando o dinheiro do povo se esgotasse. E com os preços inflacionados que ele cobrava, isso não iria demorar muito.

Uma vez por mês eles iam à cidade beber na Taverna do Porco, onde havia uma cabeça enorme de porco do mato, pendurada lugubremente na porta.

Numa dessas noites em que estavam a cantar e conversar, além do canto cigano ele ouviu um outro canto. Fantasmagórico, inaudível ao ouvidos humanos. Parecia um canto de sereias. Ele olhou para afloresta que os cercava, além da luz da fogueira e sabia que um vulto os espreitava. Ele esperou todos dormirem na carroça e saiu de debaixo dela, onde era a sua cama, e entrou na floresta. -Quem me chama? Disse ele, com todos os seus sentidos de vampiro ativados. Uma mulher morta, um fantasma, veio ao seu encontro, meio que planando sobre a terra.

- Jovem vampiro, você é fadado a ser o rei dos vampiros, mas a sua vida e a dos seus companheiros correm sério perigo aqui. Os licantropos os atacarão essa noite. Fuja para longe. Esconda-se até que entenda toda a lei da Ordem. Vá para o velho, Matrius Salém. Ele tem a sabedoria dos sábios. Leu os escritos de Salomão e dos vampiros. Uma rainha licantropo surgirá e será muito forte. Fuja dela e do seu amor. Fuja... fuja... fuja...

Dito isso o vulto sumiu por entre as árvores.

Havia um sentido premente agora e pressa e angustia, deixada no seu peito pelo fantasma da linda mulher loira. Ele acordou a todos e fez com que se arrumassem às pressas e fugissem dali. A galope dirigia o coche com Andrei armado com um pedaço de pau ao seu lado. Conseguiram a dianteira de duas horas a galope, esfalfando os cavalos, até que os três licantropos os atacaram, naquela noite onde gritos de medo surgiram nas mulheres, onde dentes afiados foram cravados, onde unhas enormes e rugidos ameaçadores gelava-lhes as almas. Um dos lobisomens era de pelo branco, Chris imaginou ser o pai e o atacou mais, enquanto se defendia e defendia a família cigana. Com muito esforço ele conseguiu agarrar o pescoço do enorme lobisomem e o levantou no ar, apertando seu pescoço, até que ele parou de respirar. A luta que durava acabou ali. Jogando o corpo longe, ele viu os dois irmãos, feridos, arrastando o pai, pela rua de terra, sumindo na escuridão.

Cansado e ferido viu o amigo Andrei jogado no chão, as mulheres o cercando, ajoelhadas. Andrei estava com um rasgo de unhas muito profundo no peito. Ele morreria, com certeza, ainda aquela madrugada.

Durante três dias cavalgaram para longe dali, com medo dos lobisomens voltarem. Na carroça, sempre cuidado pela fila e pela mãe, o cigano ardeu de febre alta, até que começou a cicatrizar. Em uma semana parecia novo em forma e mais forte do que nunca. Chris estranhava aquilo, observando. Tudo parecia ter voltado ao normal. Cantavam a noite e dirigiam durante o dia até algum lugar onde quisessem quinquilharias baratas e remédios que não curavam.

Mas a febre voltou a Andrei numa tarde, aparentemente normal. Naquela noite ele fugiu para o mato, deixando todos preocupados, gritando de dor. Chris foi atrás dele, não o encontrando voltou depois de algumas horas. E encontrou Ana morta nos braços da filha, também morta, dilacerada, o sangue cobrindo as duas. Andrei, transformado em lobo estava de quatro, como um cachorro, uma fera, enorme, pronto a atacar o vampiro. Eles lutaram, Chris tentando se defender, mais do que atacando, ele não queria ferir a Andrei, mas acabou num lance enfiando uma estaca no peito do amigo, que voltou a ser um homem novamente. Ainda nos seus braços, Andrei disse as suas ultimas palavras:

- Obrigado amigo. Eu não conseguiria sobreviver sem as minhas duas mulheres. E morreu, com uma lágrima no canto do olho.

pslarios
Enviado por pslarios em 22/01/2012
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