O Quadro do Menino Que Chora
Aquele quadro sempre me assustou. Minha tenra idade não conseguia compreender porque aquela criança chorava naquele quadro sombrio.
Em certos momentos eu nem queria ir mais na casa da minha tia Célia, em Guaianazes.
Mas não teve jeito. Minha mãe ficou enferma. Precisava passar por uma delicada cirurgia. Como meu pai trabalhava muito tive que ir passar um dia na tia.
E o quadro? Ele me causava arrepios! Não teve jeito.
Na primeira noite, lá no quartinho dos fundos dormimos meu primo Augusto e eu. De vez em quando eu o chamava de noite, mas ele dormia como uma pedra.
Fiquei ainda mais aterrorizado quando precisei ir ao banheiro e passar pelo corredor. Ficava o tempo todo a desviar meu olhar mas não teve jeito. Acabei encarando novamente o tal quadro da criança que chorava.
Esquisito foi quando saí do banheiro me tremendo todo. Algo me fazia olhar mais uma vez para o quadro e acabei olhando, só que dessa vez parecia que o tal menino me olhava, com aqueles olhos em lágrimas.
É como se ele me pedisse ajuda. Ficava me olhando e por um instante tive a impressão de vê-lo se mexer.
As lágrimas pareciam escorrer e cair no chão da velha sala e mais piedosamente me olhava. Então vi que tinha algo de errado nele. Parecia haver uma sombra sobre seu pescoço...não, não era uma sombra. Era uma mão que o apertava, sufocando-o.
Fui ainda mais atraído e aproximei-me do quadro. De repente comecei a ouvir ruídos pela casa velha. As paredes consumidas pelo tempo ficaram ainda mas escuras.
De repente aquela figura do garoto começou a mudar. Os olhos em lágrimas começaram a tomar um tom avermelhado e vi claramente seu pescoço se mexer, parecendo me olhar mais de perto.
Dei um, dois passos para trás. No terceiro pisei em algo e, escorregando bati com a cabeça em uma quina. Daí não lembro mais nada.
No dia seguinte acordei na cama da minha tia. Todos estavam ali me observando. Quando contei tal história poucos acreditaram, mas, devido eu estar muito assustado e trêmulo, minha tia achou por bem retirar o quadro e queimá-lo nos fundos da casa.
Hoje estou com 36 anos e ainda me lembro disso. Eu tinha entre 8 e 9 anos e se atualmente eu vejo um quadro desses, tremo dos pés à cabeça.