Boa viagem !

Eu sabia que aquela viagem seria longa e cansativa. Seriam 12 horas dentro daquele ônibus quente e desconfortável. Mas era preciso fazer. Há muito tempo eu não voltava para minha casa e meu pai estava adoentado, segunda a carta que me chegara há duas semanas atrás.

Minhas pernas já começavam a formigar de tanto ficar sentado, me levantei mesmo sabendo que não era permitido, mas o motorista sempre entendia essa necessidade dos passageiros.

Conversei com outros passageiros para tentar amenizar o desconforto da viagem.

Conforme as horas foram avançando noite adentro, fui precebendo que todos coemçavam a cair no sono e resolvi fazer o mesmo.

Estava cansado. Reclinei o pouco que a poltrona permitia e me ajeitei ali. Fazia um pouco de frio e me enrolei a um cobertor.

O sono não demorou a chegar. Mas foi um sono tenso, ruim e desagradável.

Tive pesadelos horríveis.

Sonhei que o ônibus havia se desgovernado na pista e despencado em um desfiladieiro.

Muitos gritos de desespero e dor. Era madrugada e tudo estava escuro e frio.

Crianças chorando, mulheres gritando e homens correndo de um lado.

Durante o sonho o desespero tomou conta de mim, pois eu sentia que minhas pernas estavam presas.

Acordei num pulo e suando muito. Olhei ao redor e tudo estava escuro e silencioso.

O ônibus continuava sua trajetória em alta velocidade e apenas uma pequena claridade vinha da cabine do motorista.

Me acalmei e voltei a dormir. Dormi muito bem, um sono pesado.

Acordei várias vezes e me sentia como se esivesse anestesiado e voltava a dormir.

Notei que a noite parecia muito longa e todos continuavam a dormir.

Fazendo um esforço para abrir os olhos consegui ver as horas em meu relógio.

Tive uma sensação muito ruim ao perceber que já havia passado quase doze horas depois da hora em que eu deveria ter desembarcado em meu destino.

Com dificuldade andei pelo corredor até a cabine do motorista.

Ele abriu a porta e me perguntou se eu precisava de alguma coisa.

Questionei sobre o horário e se havia acontecido algo.

Ele me olhou espantado e disse:

- Como assim?

Reformulei minha pergunta querendo saber a que horas chegaríamos ao destino final.

Ele continuou dirigindo e olhando fixamente para frente e sorriu de modo assustador.

Virou-se para mim e disse:

- Não chegaremos filho. Estamos todos mortos. Não percebeu?

Apavorado me virei e olhei para trás, para o corredor. Todos mortos. Imóveis em suas poltronas.

- Sinto muito, ele disse, não posso fazer nada. Apenas continuar dirigindo.

Arrastei meus pés de volta para minha poltrona e me sentei.

Estou aqui sentado, pensando sobre meu sonho .....

E às vezes algum passageiro se levanta e vai perguntar ao motorista quando vamos chegar.

Não vamos chegar. É só o que ele responde.

Boa viagem.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 18/01/2012
Código do texto: T3447207
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