TEMPESTADE DOS MENINOS

Visto de longe parecia mesmo um campo de futebol de periferia, sem cercas, muito pó, e muitos meninos e meninas correndo atrás de uma bola surrada num fim de tarde.

Mas ao fundo tinha uns 20 metros desocupados, e como no campinho ali também era um terreno de aterro, não crescia mato apenas ervas rasteiras, e pouco brincavam os meninos nesse local, por precaução dos pais, para evitar animais peçonhentos. Realmente não era só um campo de futebol, era também um terreno baldio.

Ao lado deste espaço para brincadeira dos meninos, meio milhão de pessoas espalhavam-se na maior favela que existia naquela cidade.

Erguia-se assustador o casario, de quem olhava do campinho de futebol, e quando olhava-se para trás, via-se um barranco, mais adiante a linha férrea do metrô de superfície e depois a rodovia federal.

Dentre os meninos que brincavam no empoeirado campinho, meninos da favela e meninos de rua, mesclavam-se a alguns adultos desocupados que vez por outra vinham para o "treine", como diziam entre eles.

Algumas vezes lá ao lado da rodovia, um carro preto parava, baixava o vidro, e as lentes de um óculos escuro, logo acima da fumaça permanente de um cigarro, observava os meninos.

Minutos depois um homem negro de 1,90 de altura, saia do carro de encostava ao lado deste, cruzando os braços...

Logo ao aparecer o tal carro preto, começavam os burburinhos que especulavam quem seria o homem de óculos escuros.

Muitas vezes viam veículos da polícia passar pelo veículo preto, olharem e nada faziam, causando estranheza em alguns pais que em suas horas de folga acompanhavam os filhos ao campinho, e que ja andavam preocupados com a estranha presença.

Numa população tão grande nada foi notado quando as primeiras crianças desapareceram, pois em extensão, tinha pelo menos 4 kilometros e mais uns 2 kilometros de largura.

Havia falta de comunicação. Desaparecia uma criança hoje de um lado e em outro dia, outra a 2 kilometros dali. E uma família não ficava sabendo do desaparecimento de outra criança.

Havia uma estatistica, as crianças desapareciam ao cair da noite, quando voltavam as suas casas da brincadeira.

A polícia ja contabilizava 17 crianças desaparecidas, mas a população tinha ciencia através do disse que me disse de apenas 5.

Numa tarde homens da prefeitura, vieram fazer a limpeza dos fundos do campinho de futebol.

3 caçambas levaram o mato que cobria aquele espaço o deixando igual ao campo, apenas com a terra fofa e em declive para os lados da ferrovia, que separava o campinho em apenas 30 metros, num barranco sem vegetação e também em declive.

1 semana havia passado desde que os homens da prefeitura haviam vindo, os "treines" continuavam e lá na rodovia, toda tarde o mesmo carro negro.

A estatística policial mostrava agora 23 crianças desaparecidas, 4 meninos de rua e 19 da favela...

Alheios aos desaparecimentos, as crianças brincavam numa tarde quando...

De cima do morro baixou uma tempestade terrível, todos correram para suas casas.

A noite aumentou a tempestade, por toda a cidade houve deslizamentos de encostas, quedas de árvores e pontes, um caos instalado na madrugada escura, pois nem a energia elétrica suportou o sinistro proporcionado pela natureza.

Os ponteiros do relógio da pequena igreja da favela marcava 5 horas da manhã, quando a chuva diminuiu, dali a 1 hora iria amanhecer e todos poderia ver os estragos melhor.

6 horas da manhã...35 viaturas da polícia, estacionados a beira da rodovia, com seus ocupantes ao lado dos veículos, com seus quepes, na mão como se prestassem uma homenagem...

O olhar de todos era em direção a favela, que apesar da violenta tempestade pouco foi atingida.

O que olhavam era o maior pesadelo de suas vidas, durante a tempestade que produziu uma enxurrada devastadora, a terra dos fundos do campinho desceu pelo barranco em direção a ferrovia e com ela desceu os restos mortais dos 23 meninos desparecidos...

A morte naquele instante vestia-se de branco, o branco dos ossos humanos, o crepúsculo da manhã deixou a mostra ossos, corpos ainda em decomposição e outros intactos.

A cena remeteu aqueles soldados ao extremo do ódio, que naquele momento só as lágrimas puderam aliviar.

Pelo lado de cima carros do IML, encostaram no campinho para resgatar os restos mortais.

Uma semana depois da descoberta tragédia, o sol ja aliviava as dores da tragédia, mas não levava ao esquecimento...

Dia e noite, viaturas com armamento de guerra varriam cada pedaço daquele lugar a procura do assassino...Já tinham um suspeito...

E a constatação veio do IML, haviam corpos em que havia evidencia de retirada de órgãos...

1 mes se passou, um monumento foi erguido nos fundos do campinho em homenagem aos mortos.

Os "treines" recomeçaram sob a vigilancia mais atenta dos pais, e o carro negro, a presença estranha , lá estava...

Embora muitos pais fizessem denuncias, o carro negro seguia a sua rotina de observação dos campinho e da favela.

Mas algo tinha mudado, dentro do carro vinham mais 3 pessoas além do motorista...

Aquela tarde uma leve neblina caiu sobre o campinho dos meninos, o céu tornou-se cinza, mas não deixaram de jogar...Quando o começo da dissipação da névoa era evidente, estavam todos olhando para o carro negro.

Os 4 ocupantes com bazucas nos ombros, apontavam em direção ao campinho.

Abaixaram-se todos ao solo...

O estrondo tenebroso das bazucas sacudiu o ar, e o sibilar medonho dos projéteis, voou sobre o campinho e explodiram num casebre do outro lado ao pé da favela.

Em frente uma velha Veraneio com dois ocupantes também foi aos ares.

De um lado e do outro vieram dezenas de viaturas e estacionaram em frente ao monte de escombros.

10 minutos depois, lentamente o carro negro misterioso, estacionou em meio as viaturas.

Do alto de seus 1,90 m o motorista negro, cumprimentou a todos com um balançar de cabeça.

Do meio dos escombros saiu o comandante da operação e veio cumprimentar o motorista pessoalmente.

Disse-lhe em tom ameno: Bom trabalho coronel, caso encerrado.

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 14/01/2012
Código do texto: T3440538
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