O fantasma da estação

Certo dia, em minhas andanças resolvi seguir viagem para uma cidade afastada. Era próximo ao Natal de 1.974, época que com então meus 21 nos adorava viajar com minha RD350.

Como todos sabem, moto e chuva não são uma combinação ideal. Em plena Via Dutra começou a desabar o céu e nesse instante não avistei um posto de abastecimento ou coisa do tipo para parar, mas alguns metros adiante, vi uma estradinha que ia de encontro a uma casa velha. Não hesitei.

Ao chegar perto da casa, vi que, ao invés disso aquele local parecia mais uma estação de trens abandonada. Parei minha moto embaixo da cobertura e fiquei ali sentado.

Depois de alguns minutos fiquei curioso em explorar aquele lugar. Não havia portas.

Entrei em uma saleta na qual havia um banco e me sentei nele. Horas depois acabei pegando no sono.

Então, fui despertado com alguns ruídos. Pensei que estivessem roubando a minha moto e corri para ver, mas estava tudo no lugar. Retornei ao banco e novamente o tal barulho.

Antes de me levantar ouvi uma voz:

-Sou eu, me desculpe.

Ao me virar enxerguei um senhor, sentado numa cadeira do corredor. À princípio me assustei mas como não tenho medo dessas coisas, fui logo perguntando:

-Quem ou o que é você

-Não está com medo? Eu sou o fantasma do chefe da estação?

-Fantasma? Tá me gozando? Isso não existe!

A estranha criatura era meio transparente e para me provar ser quem era retirou sua cabeça do pescoço e me mostrou.

-Agora você acredita que sou um espírito?

-Tá, então você é um fantasma...o que faz aqui?

-Eu moro aqui há mais de cem anos. Mas não está mesmo com medo?

-Que nada. Já que o senhor está aqui, seu fantasma, pelo menos me faça companhia.

O fantasma ficou admirado com tal coragem e começaram a conversar.

-Seu fantasma, o senhor só fica aqui, sentado ou sai de vez em quando?

-Fico somente aqui, para assombrar quem se aproxima.

-Mas deveria sair um pouco, para assombrar outros lugares, não acha?

-Olha, é estranho, você não tem medo de mim e isso me preocupa.

-Por que?

-Porque o que há de ser de um fantasma que não assusta mais?

Então notei que o fantasma ficou mais transparente que antes.

-Seu fantasma, ficou sabendo da última? Estão falando que o homem nunca foi pra Lua, que isso do Apolo 11 foi pura armação dos americanos.

-O que, o homem na Lua? Como assim?

-Não me diga que não sabia disso, seu fantasma?

-Não, o homem na Lua? E agora, como nós fantasmas usaremos a Lua para assombrar?

E o fantasma ficou ainda mais transparente e com um semblante muito triste. Segurava sua cabeça. Então, olhou-me fixamente e perguntou?

-E as crianças, ainda tem medo de fantasmas? Elas ainda dormem com a luz acesa?

Respondi...

-Que nada seu fantasma. As crianças estão cada vez mais espertas. Acho que daqui uns vinte anos ninguém mais vai ter medo dessas coisas. Todos dizem que fantasmas não existem.

O pobre espírito, tomado de tristeza não me respondeu. Colocou sua cabeça de volta e ficou abaixado, olhando para o vazio. Então cruzou as mãos e ficou ali parado por uns minutos sem nada dizer.

Tentei puxar conversa mas ele parecia não notar minha presença. Quando me levantei para tentar chamar-lhe atenção, ele foi ficando cada vez mais transparente.

Voltei ao banco para me deitar. Ates de fechar os olhos tentei um último contato. Ele havia desaparecido.

Paulo Farias
Enviado por Paulo Farias em 12/01/2012
Código do texto: T3437279
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