Horror no Manicômio – Prt. 3
- O quê!?! – A voz de Simons ecoou por todo o corredor, ecoando num som frio e rouco que refletia sobre muitos outros corredores.
- Cala a boca seu idiota. A gente tá preso aqui com ele. Com ele e com uma ruma de outros doidos. – Joshua aproximou mais o walkie-talkie e tornou a falar com Susie. – Tem como você abrir a porta manualmente daí de fora?
- N... Não... Eu acho que não... Mas eu vou ver o quê eu posso fazer aqui. Tem uma outra saída, mas não sei se tem como vocês usarem-na... É uma saída de emergência, era para o caso de algum incêndio, mas nunca precisamos usá-la antes, acho que só o Timot tem a chave... Mas não tenho certeza... Vou ver se acho alguma outra saída por aqui.
- Então a gente vai procurar por eles por aqui... Anda Simons, vamos procurar logo pelos outros dois. Parece que o outro guarda tem como tirar a gente daqui.
- Cê ta maluco?! Ficar andando por esses corredores escuros com aquela coisa solta por aqui... A gente devia é entrar em um desses quartos e se trancar, se alguma coisa entrar a gente mete bala e pronto... Acabou.
- Então tá. Se você prefere assim, cê fica por aqui sozinho enquanto eu vou atrás dos outros dois sãos que ainda temos por aqui. – Joshua começou a adentrar a escuridão dos corredores.
- Ei volta aqui Joshua!!!... Joshua?! – Simons também mergulhou escuridão adentro, a procura do seu parceiro. - Joshua espera um pouco, desse jeito eu não te alcanço.
- Esperar?! ... Cê é idiota é... Você que tem que apressar o passo. Tá com medo de um louco qualquer... A gente tá armado e você aí com medo de um homem com uma simples chave de roda... Anda logo! ... Não vou ficar esperando a eternidade. – As lanternas dos dois iluminavam o corredor. De repente Joshua sente uma respiração quente perto de seu pescoço. Sua primeira reação é afastar-se uns três passos e mirar a lanterna, juntamente da arma, na direção onde estava. O que ele vê é um homem extremamente alto, vestido como paciente, com cabelos e barba, longos e desgrenhados.
- É o fim do mundo sabia? ... Ele está vindo... Mas não conta pra ninguém tá. É um segredo.
- Merda! ... Desse jeito você me assusta... Seja lá qual for o seu nome. – Joshua alivia-se por ser apenas mais um louco inofensivo. Simons finalmente o alcança e quando sua lanterna aponta para o paciente que acabara de se mostrar:
- Ahhh!!! Meu deus do céu. – O policial tomba para trás, caindo de bunda no chão.
- Deixa de ser medroso Simons! Você já viu como o Maníaco era... Não tem como esse aqui ser o maníaco.
- He He... Simons medroso... Simons medroso.. He He. – O paciente começou a falar num tom abobalhado.
- Eu sei que não é ele mas não sabia que você estaria na companhia de um ser de aparência tão... tão... deixemos sem classificação.
Ambos recomeçam a seguir pelo corredor. E o louco vai atrás deles, sem parar de falar um minuto sequer sobre apocalipse.
- A gente não pode continuar com esse louco. Desse jeito ele vai entregar nossa posição pro maníaco.
- Cala a boca Simons! ... É até melhor! ... Que a gente mete bala nele e pronto! ... Problema resolvido.
- O problema é se ele acertar a gente primeiro!
- Cê acha que ele consegue derrubar nós dois com uma só chave de roda? ... Ele nunca conseguiria chegar perto o suficiente sem tomar bala... – Um estranho barulho vindo do fim do corredor ecoou. Como uma respiração muito pesada. Ambos os guardas apontaram suas lanternas para o fim do hall. Nada. Apontaram para o outro lado. Nada.
- O apocalipse está chegando... Mas não conta para ninguém que eu disse. Se não ele vem me mat.. – Um singelo brilho cintila no fim do corredor. Joshua sente uma leve brisa passando em seu rosto. Um som de carne sendo perfurada ecoou, depois um som de engasgo. Gotículas úmidas penetraram-lhe pela face do policial. A voz do louco parou. Os dois miram as luzes para o paciente e vêem que a chave de roda, de formato cruzado, cravara-se em sua garganta.
A garganta do paciente começara a verter muito sangue, não espirrava sangue, mas escorria numa velocidade tão grande que até mesmo algumas poucas bolhas de ar apareceram na superfície de sangue que escorria pelo corpo do homem, que caiu num só baque.
Automaticamente os dois policiais apontaram lanternas e armas na direção de onde a chave de roda havia sido lançada. – Mesmo sem ver qualquer perigo Simons começou a atirar freneticamente contra o nada. Descarregando sua arma. Os flashes causados pelos disparos iluminavam o corredor, e por mais que durassem pouquíssimos milésimos de segundo, foi possível perceber que não havia mais ninguém naquele corredor.
- Volta aqui bastardo! ... Se quer matar a gente vem aqui encarar seu puto! Deixa de se esconder no escuro e vem matar a gente seu covarde!
- Ficou maluco o idiota! É melhor eu prender logo você em um desses quartos. Acabou de descarregar a tua arma para nada. – Joshua deu um tapa na nuca do policial.
- Foi mal cara! Não consegui me controlar!... Cê tem outro pente aí com você?!... Devo ter deixado o meu reserva na viatura. – Joshua tateou a mão pela lateral direita do corpo, procurando um bolso, dele retirou outro pente de balas.
- Se você descarregar esse aqui para nada eu juro que farei questão de descarregar a minha na tua testa. Esse é meu único pente reserva.
O chiado do walkie-talkie ecoou. – Joshua o que foram estes tiros?
- A gente achou o maniac... O maníaco achou a gente... Aí o Simons atirou contra ele.
- Vocês o mataram?! – A voz da mulher estava carregada de esperança.
- Infelizmente ele fugiu.
***
Na sala de Phill, Susie tateava cegamente as gavetas, a procura de uma chave. - Merda!... Nem pra ver nada dá... Como é que eu vou achar uma maldita de uma chave por aqui? – Em uma das gavetas ela achou uma lanterna. – Pelo menos alguma coisa que preste! – A mulher retornou a procurar as chaves.
***
Já se faziam alguns instantes desde que a neve retornara a cair mais bruscamente, ele praticamente congelava. Já havia desistido de correr, dentro de si carregava a certeza de que o maníaco não o seguira de nenhuma maneira. Por mais neve que pudesse cair, a Estadual Principal continuava a mostrar toda a sua negritude. O asfalto estava bastante deslizante, para os carros apenas, para seus sapatos nem tanto. Mas nenhum carro passava por ela, não nesta noite. “Puta que pariu. Quando a gente mais precisa não aparece ninguém. Nem mesmo um bêbado”.
Finalmente dois sóis amarelos surgiam no horizonte negro do asfalto, mas não mostravam todo seu fulgor, encobertos pela neve que tempestiava a atmosfera da estrada. Seus brilhos intensificavam-se rapidamente. Sem pensar duas vezes Andersein acendeu sua lanterna e pôs-se no meio da rua. Começou a balançar os braços, fazendo sinal para o carro parar. O carro aproximava-se rapidamente. Quando notou que o carro não estava parando Andersein saiu do meio da rua. Quase atropelando o policial o carro começou a frear. Se ele não tivesse saído da estrada certamente seria atingido. O carro estava numa velocidade tão alta que ainda andou vários metros antes de parar completamente. Um homem saiu do carro, uma van, mas continuou próximo à porta do veículo, tentando ver o quê havia acontecido.
“Nossa poderia ter encontrado alguém menos barbeiro... ... Mas do quê que eu to reclamando afinal?” – Ei amigo! Sou policial. Preciso muito da sua ajuda. Tá tendo uma ocorrência no Sanatório da Estadual. A gente tá incomunicável lá. Vocês teriam a gentileza de ir até a cidade e pedir para mandarem algum apoio? É que eu tenho que voltar para lá ajudar eles. – Andersein caminhava na direção do veículo enquanto gritava.
O motorista do veículo abaixou-se e colocou a cabeça novamente para dentro do carro. A conversa de duas pessoas podia ser escutada, uma discussão na verdade. Não era possível distinguir o que falavam. O homem retirou novamente a cabeça do interior do veículo e esticou o braço. Ele segurava algo, mas Andersein não podia ver muito bem o quê era, por causa da neve que caia.
Um brilho metálico reluziu de forma circular na mão do homem. Foi somente aí que o policial conseguiu distinguir o objeto, mas não teve tempo para qualquer reação. O som do engatilhar pareceu demorar muito tempo. Mas o estrondo do disparo perfurou-lhe os tímpanos numa velocidade sem igual. Seus olhos dilataram espantosamente. O projétil acertou de raspão seu braço direito, o suficiente para fazer uma leve fita de sangue sujar a negritude do asfalto. Instantaneamente sua reação de homem foi de segurar o braço, mas sua reação de policial falou mais alto e fez a mão esquerda ir de encontro ao coldre e empunhar a arma. Mas ele não teve velocidade suficiente para o ato, outros dois estrondos perturbaram o silencio da tempestade.
Seu peito foi atingido duas vezes, o impacto fê-lo perder completamente o ar dos pulmões. Nem mesmo para gritar a dor que lhe abatera ele pôde. Seus joelhos dobraram-se, as forças que havia em suas pernas foram-se por completo, rapidamente seu corpo tombou. O frio da tempestade parecia dominar completamente seu corpo. Sua cara foi de encontro ao asfalto, manchando cada vez mais a negritude dele. Um véu negro recobriu sua visão. Um véu negro recobriu seus pensamentos, sua respiração aos poucos falhava.
O vulto do homem aproximava-se do corpo caído no asfalto. Mas uma voz feminina interrompeu-o. – Anda amor! Deixa esse aí que ele já era.
- Mas cê não acha melhor eu garantir?
- Não! ... Vamo logo... Se tiver mais policial por lá ele não dura muito tempo.
- Mas ele não tem a...
- Mais nada Fred!!! ... Anda logo!!! ... Entra na porra dessa van que eu to morrendo de frio nessa merda que nem aquecedor tem... Bem que mamãe me disse pra procurar alguém melhor do que você... Ai minha mãezinha, como eu sinto falta dela... é uma pena que eu tenha deixado você fazer aquilo.
- Como é?! ... Não venha por a culpa em mim... Você sabe muito bem quem foi que matou ela. – O homem entrava na van nesse momento.
- Tudo bem, tudo bem, mas cê sabe que ela não calava a boca um minuto sequer... Só assim pude ter algum momento de silêncio. – O veículo partiu em disparada, na direção do hospício.
***
- Você se lembra qual era o caminho para a sala médica?
- O quê que se tá dizendo?!
- Ora Joshua... Tô querendo saber se você sabe aonde é que estão os outros dois?!
- Mas num foi você quem tomou a dianteira ô seu idiota!
- Ora! Só por quê eu to na frente não significa que eu esteja guiando.
- Simons eu devia meter uma bela no meio da tua testa agora... Pra poupar o trabalho daquela coisa.
- Ora! Você faz a gente se perder e eu sou o culpado agora!
- Ah! Vê se cala essa boca. – O policial pegou o walkie-talkie e tornou a falar. – Err... Susie?
- Pode falar.
- Errr e aí você encontrou alguma coisa?
- Ainda nada que possa ajudá-los.
- Eu preciso de outro favor... Errr... É que a gente tá perdido aqui... Não faço a menor idéia de aonde nós estamos.
- Me diz mais ou menos aonde vocês estão... Tem alguma sala, ou quarto, um número, qualquer coisa?
- Já vai. – O policial passou a luz da lanterna pelas paredes, com o intuito de encontrar alguma porta. E logo achou. – Susie... Aqui tem uma porta com o número 1710.
- Então vocês estão bem próximos da ala médica... Continua andando... Vê se o sentido das salas é crescente. – O policial fez o que a enfermeira mandou. Apontou a luz para a outra porta e viu 1730.
- É crescente sim.
- Então vocês só tem que continuar a andar, dobra na primeira esquerda, depois na segunda direita, depois a direita novamente e fica olhando o nome nas portas, vai estar escrito ENFERMARIA.
- Pois estamos indo, qualquer notícia me avisa.
- O mesmo vale para vocês.
- Vamos Simons é só a gente continuar por aqui.
- Eu não disse que sabia pra onde a gente tava indo!
Os policiais continuaram a andar cautelosamente no escuro. Joshua tomou a dianteira. Simons estava logo atrás. Seus passos ecoavam apressadamente pelos corredores.
- Anda Simons... A gente precisa se apressar... Eles estão aqui perto... – O policial falava enquanto dobrava o corredor.
- Ahhh!!! – Gritos femininos puderam ser escutados, vindo de longe. Joshua pôs-se a correr na direção dos gritos. Dobrou o outro corredor, na direita, seguindo a instruções da enfermeira.
- Vamo Simons... a gente tá perto... ... Simons? – O policial parou de correr e virou a lanterna para trás. Ninguém o seguia. – Simons cadê você!
- Joshua!? – A resposta do policial vinha de algum lugar, parecia distante. – Aonde é que você tá?
- Eu só segui as instruções da Susie.
- Ué... Eu também... Errr... Era esquerda direita e depois direita não era?!
- Mas como tu é burro ô seu imbecil! ... Continua falando que eu vou até aí te buscar!
- Num precisa não! ... É melhor você ir vê o quê foram esses gritos... Eu me tranco e me escondo em algum quarto por enquanto!
- Então tá! – O policial seguiu o caminho indicado, mas os gritos haviam cessado. Quando chegou ao corredor onde estaria a enfermaria, ele parou de correr e passou a observar melhor as portas.
Tirando sua concentração, vários disparos começaram a ecoar pelo corredor. Vindo de algum lugar distante. Os disparos foram ininterruptos, o som que seguiu-se foi o de um grito desesperador. De Simons. Joshua pôs-se a correr para o lugar de onde vinham os sons. Mas novamente o grito feminino foi escutado, e estava mais próximo, bastante próximo, extremamente impassivo o policial decidiu ir primeiro para de onde vinha o grito mais próximo. Quando chegou na porta, viu que estava escrita a palavra ENFERMARIA. Inúmeras marcas mostravam-se na madeira, como se alguém tivesse atacado a madeira com algum tipo de lâmina, tentando arrombar a porta. O policial bateu na porta.
- Tem alguém aí? – Ninguém respondeu, mas era possível escutar o choramingar de alguém do outro lado. - Anda, tudo bem é a polícia, vim aqui para tirar vocês daqui. Ninguém respondeu, mas ele pôde escutar o som do trinco ser destrancado. E então abriu a porta. A sala estava completamente escura, ele deu alguns passos para o interior. Não viu ninguém. Até que sentiu uma forte fisgada em sua perna. Sua primeira reação foi afastar-se e mirar a lanterna na direção onde estava. Debaixo de uma bancada, bem ao lado da porta ele viu os dois a quem procurava.
- O que diabos vocês estão fazendo?! – A visão do policial começou a ficar turva.
- Droga! ... Ele tava falando a verdade.
- Mas o que é que vocês tão falando? - O som começava a entrar lenta e engraçadamente pelos seus ouvidos. Ele só foi perceber o ocorrido quando notou a falta de sua perna direita, tateou sua mão pela perna e notou uma seringa fincada nela. – Seus filhos... seus filhos duma puta... vocês... vocês me dop... – O policial não pôde sequer terminar a frase, caiu de cara contra o chão, completamente desmaiado.
- Não acredito que você sedou o policial Lize!
- Ai meu deus! O que foi que eu fiz!? - A mulher tornou a chorar, mais desesperadamente agora.
- Anda! Deixa de choramingo... Vamo trancar a porta e esperar ele acordar.
O chiar do walkie-talkie começou a ressoar pela sala. .- Joshua?! ... Joshua o que foram esse disparos? - A mulher seguiu o som e tirou do bolso do policial desmaiado o comunicador.
- Tem alguém aí?! – A voz de Lize saía amedrontada.
- Lize é você?! – A voz de Susie não conseguia conter a emoção de escutar a amiga.
- Susie!? – O choro da enfermeira apenas aumentou. – Você precisa tirar a gente daqui... O policial... O policial desmaiou...
- Como assim o policial desmaiou?!
- Foi um acidente eu pensei que era o maníaco aí...
- Mas era para serem dois!
- Mas o único que chegou aqui foi o de cavanhaque.
- Você sedou o Joshua?! ... Logo o Joshua?!
- Já disse que foi sem querer!
- Ai meu deus! ... Como é que você vai sair daí agora? ... O Timot tá bem?!
- Tá sim... Ele tá aqui comigo.
- Passa o walkie-talkie pra ele.
- Pode falar Susie.
-Timot? ... É você que tem que tirar todo mundo daí... É você que tem a chave da saída de emergência. Então dá um jeito de chegar até lá e...
- Ei! ... Eu não tenho chave nenhuma! ... O encarregado disso é o Ryan... Tenta falar com ele, acho que era ele quem tinha elas.
- Droga! ... – O choro de Susie pôde ser escutado.
- O quê foi?
- O Ryan... O Ryan tá morto...
- Merda! ... ... ... Eu acho que o Phill também tem alguma chave dessas, tenta falar com ele, ele tem uma cópia de cada chave que tem por aqui.
A enfermeira não quis dar a notícia da morte de Philip também. - Tudo bem vou ver o quê consigo fazer... Enquanto isso dá um jeito de acordar o Joshua.
***
Susie revirava cada canto do lugar, tentando encontrar as chaves, mas não conseguia encontrar nada, até que uma última idéia atingiu sua mente. A mulher olhou para o lençol que cobria o corpo do vigia morto. Uma enorme mancha vermelha tingia o lugar onde deveria estar a boca ensopada de sangue, as partes do pano que tocavam o chão também estavam vermelhas. A enfermeira respirou fundo e aproximou-se do corpo, aonde ajoelhou-se. Fechou os olhos e retirou o pano de cima do falecido amigo, tateando o corpo do homem ela começou a procurar pelos bolsos de Philip. Mas o nervosismo e a cegueira faziam-na não conseguir encontrar nada. Ela parou. Respirou profundamente, como quem toma coragem, e abriu os olhos. A visão do corpo do amigo quase fê-la vomitar. O gosto do vômito pôde ser sentido em sua garganta, que arranhava. Fazendo muito esforço para não olhar para a face de Phill ela começou a procurar pelas chaves. Procurou nos bolsos das calças e nada. Cada vez que perdia o foco, seus olhos guiavam-na para a face do morto, e a ânsia arranhava-lhe a garganta. Quando não tinha mais forças para segurar a ânsia, achou o molho de chaves num dos bolsos do casaco do homem, retirou-o e correu para o corredor, onde acabou liberando o vômito.
***
Sua visão estava turva, enebriada e quíntupla. A imagem da mulher que se formava estava bastante distorcida. Seu tato não dava nenhum sinal de vida, seu ouvido apenas o simples e incomodante zunido do silêncio. Sua mente tentava formar palavras e idéias, mas não adiantava, sua boca apenas mexia tentando pronunciar, mas tudo o quê fazia era liberar baba. A única coisa que podia sentir claramente era seu coração, que batia tão rápido que o fazia pensar que iria infartar. Nunca havia visto seu coração tão acelerado, mal conseguia contar-se quantas batidas ele dava.
- O que foi que você aplicou nele?
- Ah... sei lá... Só sei que estou colocando adrenalina agora.
- Você quer matar ele? ... Nem sabe o que deu a ele e injeta logo adrenalina!
- Antes nós do que o louco... E olha pra ele! ... Já tá dando sinal de vida. – Tudo o que iluminava a sala fechada era a lanterna que Lize segurava.
- Quertgfd sãpoim Vobtres... – O policial agora parecia um dos pacientes daquele hospício.
- O que é que ele tá falando?
- Não faço a menor idéia Timot.
- Lize? ... Vocês estão aí? – O walkie-talkie ecoou.
- Susie... Pode falar... É o Timot.
- Timot eu achei aqui um molho de chaves, se Phill tem mesmo todas elas eu descubro qual é... Agora é melhor vocês irem logo pra saída de emergência, eu já estou indo pra lá.
- Pode deixar... A gente tá indo. – A conversa encerrou-se.
- Você quer sair daqui agora!!!!
- É né Lize... De preferência agora... Mas se você quiser passar o fim de semana tudo bem, até segunda então.
- Deixa de piada o seu idiota! ... Como é que a gente vai carregar o policial, ele sequer pode andar... E se o louco aparecer?
- Levar o policial?! ... Quem disse que a gente vai fazer isso? ... A gente esconde ele dentro do armário e pronto... É bom só a gente levar a arma caso o maluc...
- Cê num pode estar falando sério! ... Ele veio aqui salvar a gente e você quer deixar ele para trás.
- Ora! ... Você consegue carregar ele? ... Duvido... E além do mais... Foi você quem dopou ele, agora te vira...
- Cala essa sua boca!... Bora, carrega logo esse homem que eu me encarrego da arma.
- E desde quando cê sabe atirar?
- Meu pai era fuzileiro – A cara de Timot foi de total espanto ao ver a mulher, antes chorosa, empunhando a arma e cessando o choro, parecia que a Lize havia ido embora e uma louca destemida havia aparecido no lugar dela. Timot não respondeu, com medo da reação da mulher, apenas pegou o corpo pesado do policial e colocou em cima do ombro, o peso fazia-o querer ceder ao chão, mas o pensamento de sair daquele lugar o dava forças. Joshua babava toda a sua camisa.
Os dois saíram para o corredor, a mulher empunhava a arma e a lanterna, iluminando o caminho, pelos corredores encontravam diversos corpos de pacientes, destruídos de forma horrenda, a maioria sem os olhos.
Estavam próximos da saída de emergência, seria no próximo corredor a direita, um enorme vento frio começava a penetrar no corpo dos dois. Mas eles não notaram o frio. Estavam ansiosos, esta seria a provável causa do frio. Quando dobraram o corredor viram a imagem, nunca ficaram tão felizes.
***
Susie corria desesperadamente para fora, enquanto passava o olho em cada chave daquele molho. Dava graças a deus que Phill etiquetava todas as chaves. Era ridícula a idéia de carregar chaves que tinham papéis adesivos colados à elas, mas nesse momento nunca ficou tão feliz. Por diversas vezes quase caiu, não era muito fácil correr segurando uma lanterna na boca, que nem iluminava o caminho, mas sim suas mãos, que procuravam a chave.
No meio do molho ela finalmente conseguiu ler a palavra S.EMERG. Seu coração acelerou. Ela começou a segurar o molho apenas por esta chave e a lanterna foi para a sua mão esquerda, onde começava a iluminar o caminho, seu passo acelerou.
A mulher, agora, passava pelo corredor de entrada, onde fechou os olhos para não ver os restos da cabeça do vigia. O frio da tempestade castigava seu corpo, que parecia não se importar. Desceu as escadinhas da entrada e correu para a lateral direita do edifício. A noite estava bastante clara, mas a tempestade cegava qualquer coisa, o problema não era a escuridão, o problema era a brancura da neve que caía. Seus pés afundavam a cada pisada. Antes de dobrar escutou o walkie-talkie.
- Susie a gente tá chegando agüenta só um instantinho aí...
- Tudo bem... Eu também já estou chegando. – A enfermeira dobrava para a lateral nesse momento.
- Como assim você ainda está CHEGANDO!!!!
- Eu estou quase na porta...
- Susie! ... Você não tá me entendendo! ... A porta já está aberta! ... A gente tá conseguindo ver o final do corredor!
Estas palavras fizeram a enfermeira parar. Todo o frio que seu corpo ignorava foi impetuosamente doloroso, adormecendo cada nervo de seu corpo. Apesar do frio sua testa suava, seu estômago parecia um saco de gelo. Todos os seus movimentos foram interrompidos Mas o pior foi quando ela sentiu calor, um calor que rompeu todo o frio. Um calor que carregou toda a atenção de sua mente. Um longo e pausado calor que atingia seu pescoço. Não pior, apenas, do que o prolongado som de uma respiração pesada, bem atrás de si.
- Susie? ... Susie? ... Você está aí?!
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Continua. . .