O homem que não queria pagar
Estou aqui para contar uma história, a história de um homem que não queria pagar. Não sou mafioso, mas digamos que se empresto algo a certas pessoas e sendo assim vendo um pouco de felicidade é justo que eu receba meu pagamento como acordado. Na minha área comercial digamos que estamos em segundo lugar no poder, mas almejo ser o primeiro logo. Sou um comerciante, negocio o tempo todo, mas diferente da concorrência, não aceito que me dêem calote.
Já negociei com gente mais importante e de maior poder aquisitivo, mas esse cliente me pegou num dia de stress. Estava em meu escritório, sob aquele calor infernal. Pensei em ligar para o homem do ar condicionado e levar uma conversa com ele. Refleti bem e percebi que estava mesmo era solitário. Maldição! Eu pensei comigo mesmo e então decidi que o melhor a se fazer seria tirar uma folga de todo aquele marasmo. Há muito tempo não pegava no batente, então olhei para alguns contratos atrasados sobre minha mesa e vi aquele maldito nome, “José de Deus”.
A ficha dizia tudo, (+ 2 anos – “RENEGOCIADO”), e o homem ainda tinha aquele nome. Depois dizem que não é bom usar o nome de Deus em vão. Continuando a ler o contrato, descobri que o imbecil era viúvo e tinha três filhas. Olhei bem para o endereço e me dirigi até o local.
Não demorei muito a chegar. Chegando a porta da imensa mansão, vejo um caminhão baú estacionado á frente da casa. Dois homens carregavam um belo aparelho de TV de plasma, tão grande como um telão de cinema.. Entrei um pouco antes deles enquanto a empregada sorria, um riso falso e cheio de menosprezo dirigido aos dois que trajavam macacões azuis, sujos e malpassados. Caminhei ao lado da empregada, passamos por uma linda sala, quadros magníficos, sendo que um deles era uma réplica perfeita da Monalisa de Da Vinci. Toda aquela decoração deveria ter custado uma enorme fortuna, e ainda assim ele não queria me pagar.
José estava cercado de todo luxo possível, havia fotos de suas três lindas filhas, já mulheres formadas. Ele agora estava com 53 anos e ainda assim esbanjava uma saúde invejável. A empregada negra e formosa, cujos olhos azuis da cor do mar mal pude ver, abriu a porta de vidro que dava para piscina. Saí de encontro a ele que me fitou surpreso. Ele estava ao lado de suas filhas, jogavam Pôker em uma mesa de praia que ficava ao lado da piscina. Ele colocou suas cartas por sobre a mesa, e pediu as filhas que o dessem licença e seguissem para o casarão. Elas estranharam o pedido, mas o obedeceram vendo que o olhar dele havia se tornado mais severo. Saíram seminuas e passaram por mim com seus trajes de banho, senti seus perfumes, e vislumbrei seus corpos bronzeados. Ele continuou sentado. Aproximei-me e sentei de frente à ele.
- Gostei da casa. – Disse buscando iniciar a conversa num tom menos informal, mas ele continuava a me encarar com o mesmo olhar que havia me recebido. Um olhar, diga-se de passagem, nada amigável.
- O que você quer? – Ele me perguntou como se não soubesse de nada. Olhei para ele com um sorriso, mas entendia seu medo.
- Você parece estar feliz? – Eu comentei.
- Amo minhas filhas e não posso te pagar, preciso de mais tempo. – Ele me disse com o olhar cheio de receios.
- É. Isso nunca é fácil. Eu te disse, lembra? – Eu pausei analisando cada gesto, cada piscar de olhos, via o suor brotando de sua testa. – Quanto você perdeu desde que me procurou?
- Eu não sei. Parecia que tudo estava indo bem. Minha fortuna só tem aumentado. Mas Eleonora morreu, e então minhas filhas só tem a mim. Ter todo esse luxo é muito bom. Investi bem o dinheiro, e agora sou milionário, mas quero mais que isso! – Ele disse enquanto eu sentia toda a ambição expressa em suas feições enquanto falava.
- Sei como é. – Eu falei. Peguei o baralho sobre a mesa e comecei a embaralhar as cartas. A medida que elas se misturavam José olhava ao seu redor. Via todo o fruto de nosso trato. Eu podia ler seus pensamentos mais íntimos. Ele estava arrependido, mas o que eu poderia fazer? Como disse, sou um negociante. – O que tem para me oferecer? Perguntei, enquanto minha voz chegava incisiva ao coração de José.
- O que você quer? – Ele retrucou como eu bem imaginava. Embaralhei mais uma vez o baralho e então o coloquei por sobre a mesa. Tirei as primeiras cartas e desvirei-as á sua frente. Ele encostou suas costas na cadeira assustado, e seus olhos encontraram os meus.
- Não pode fazer isso! – Ele reclamou olhando pasmo para as três damas a sua frente.
- É, realmente não posso José. Mas são os juros. Pagamos por tudo que fazemos, pelas escolhas principalmente. Você matou sua mulher degolada por mais dois míseros anos de vida. Agora, por mais seis anos, mataria suas filhas? – José olhou pelo vidro que levava a sala e viu as três sentadas no sofá assistindo a nova TV que acabara de chegar.
- Você acha que eu sou idiota! Quer mesmo negociar comigo? – Ele perguntou. – E é com uma oferta como esta que quer ser o primeiro no negócio? Deus deve estar rindo de você. Seu discurso daquele dia era mesmo uma farsa! Eu quero dez anos! – Sorri da ousadia dele, mas até que a proposta era boa, três vidas a menos, mais tristeza e dia mais dia sua alma seria minha. O idiota acreditava realmente que elas iriam direto para o céu, mas antes disso, teriam que vagar até que o dia de suas mortes realmente chegasse. Até lá eu as convenceria de que meu caminho seria uma boa escolha. Almas atormentadas não são muito inteligentes. E eu pessoalmente adoro persuadi-las.
- Fechado! – Apertei a mão dele e deixei que ele fizesse o serviço. Saí da mesma forma que entrei. Sem ser visto por ninguém. Acho que o homem do ar condicionado não iria tão cedo ao meu escritório, mas pensando melhor, até que o calor não é tão ruim assim. O meu único problema é que sinto a falta dele. Maldição!
Estou aqui para contar uma história, a história de um homem que não queria pagar. Não sou mafioso, mas digamos que se empresto algo a certas pessoas e sendo assim vendo um pouco de felicidade é justo que eu receba meu pagamento como acordado. Na minha área comercial digamos que estamos em segundo lugar no poder, mas almejo ser o primeiro logo. Sou um comerciante, negocio o tempo todo, mas diferente da concorrência, não aceito que me dêem calote.
Já negociei com gente mais importante e de maior poder aquisitivo, mas esse cliente me pegou num dia de stress. Estava em meu escritório, sob aquele calor infernal. Pensei em ligar para o homem do ar condicionado e levar uma conversa com ele. Refleti bem e percebi que estava mesmo era solitário. Maldição! Eu pensei comigo mesmo e então decidi que o melhor a se fazer seria tirar uma folga de todo aquele marasmo. Há muito tempo não pegava no batente, então olhei para alguns contratos atrasados sobre minha mesa e vi aquele maldito nome, “José de Deus”.
A ficha dizia tudo, (+ 2 anos – “RENEGOCIADO”), e o homem ainda tinha aquele nome. Depois dizem que não é bom usar o nome de Deus em vão. Continuando a ler o contrato, descobri que o imbecil era viúvo e tinha três filhas. Olhei bem para o endereço e me dirigi até o local.
Não demorei muito a chegar. Chegando a porta da imensa mansão, vejo um caminhão baú estacionado á frente da casa. Dois homens carregavam um belo aparelho de TV de plasma, tão grande como um telão de cinema.. Entrei um pouco antes deles enquanto a empregada sorria, um riso falso e cheio de menosprezo dirigido aos dois que trajavam macacões azuis, sujos e malpassados. Caminhei ao lado da empregada, passamos por uma linda sala, quadros magníficos, sendo que um deles era uma réplica perfeita da Monalisa de Da Vinci. Toda aquela decoração deveria ter custado uma enorme fortuna, e ainda assim ele não queria me pagar.
José estava cercado de todo luxo possível, havia fotos de suas três lindas filhas, já mulheres formadas. Ele agora estava com 53 anos e ainda assim esbanjava uma saúde invejável. A empregada negra e formosa, cujos olhos azuis da cor do mar mal pude ver, abriu a porta de vidro que dava para piscina. Saí de encontro a ele que me fitou surpreso. Ele estava ao lado de suas filhas, jogavam Pôker em uma mesa de praia que ficava ao lado da piscina. Ele colocou suas cartas por sobre a mesa, e pediu as filhas que o dessem licença e seguissem para o casarão. Elas estranharam o pedido, mas o obedeceram vendo que o olhar dele havia se tornado mais severo. Saíram seminuas e passaram por mim com seus trajes de banho, senti seus perfumes, e vislumbrei seus corpos bronzeados. Ele continuou sentado. Aproximei-me e sentei de frente à ele.
- Gostei da casa. – Disse buscando iniciar a conversa num tom menos informal, mas ele continuava a me encarar com o mesmo olhar que havia me recebido. Um olhar, diga-se de passagem, nada amigável.
- O que você quer? – Ele me perguntou como se não soubesse de nada. Olhei para ele com um sorriso, mas entendia seu medo.
- Você parece estar feliz? – Eu comentei.
- Amo minhas filhas e não posso te pagar, preciso de mais tempo. – Ele me disse com o olhar cheio de receios.
- É. Isso nunca é fácil. Eu te disse, lembra? – Eu pausei analisando cada gesto, cada piscar de olhos, via o suor brotando de sua testa. – Quanto você perdeu desde que me procurou?
- Eu não sei. Parecia que tudo estava indo bem. Minha fortuna só tem aumentado. Mas Eleonora morreu, e então minhas filhas só tem a mim. Ter todo esse luxo é muito bom. Investi bem o dinheiro, e agora sou milionário, mas quero mais que isso! – Ele disse enquanto eu sentia toda a ambição expressa em suas feições enquanto falava.
- Sei como é. – Eu falei. Peguei o baralho sobre a mesa e comecei a embaralhar as cartas. A medida que elas se misturavam José olhava ao seu redor. Via todo o fruto de nosso trato. Eu podia ler seus pensamentos mais íntimos. Ele estava arrependido, mas o que eu poderia fazer? Como disse, sou um negociante. – O que tem para me oferecer? Perguntei, enquanto minha voz chegava incisiva ao coração de José.
- O que você quer? – Ele retrucou como eu bem imaginava. Embaralhei mais uma vez o baralho e então o coloquei por sobre a mesa. Tirei as primeiras cartas e desvirei-as á sua frente. Ele encostou suas costas na cadeira assustado, e seus olhos encontraram os meus.
- Não pode fazer isso! – Ele reclamou olhando pasmo para as três damas a sua frente.
- É, realmente não posso José. Mas são os juros. Pagamos por tudo que fazemos, pelas escolhas principalmente. Você matou sua mulher degolada por mais dois míseros anos de vida. Agora, por mais seis anos, mataria suas filhas? – José olhou pelo vidro que levava a sala e viu as três sentadas no sofá assistindo a nova TV que acabara de chegar.
- Você acha que eu sou idiota! Quer mesmo negociar comigo? – Ele perguntou. – E é com uma oferta como esta que quer ser o primeiro no negócio? Deus deve estar rindo de você. Seu discurso daquele dia era mesmo uma farsa! Eu quero dez anos! – Sorri da ousadia dele, mas até que a proposta era boa, três vidas a menos, mais tristeza e dia mais dia sua alma seria minha. O idiota acreditava realmente que elas iriam direto para o céu, mas antes disso, teriam que vagar até que o dia de suas mortes realmente chegasse. Até lá eu as convenceria de que meu caminho seria uma boa escolha. Almas atormentadas não são muito inteligentes. E eu pessoalmente adoro persuadi-las.
- Fechado! – Apertei a mão dele e deixei que ele fizesse o serviço. Saí da mesma forma que entrei. Sem ser visto por ninguém. Acho que o homem do ar condicionado não iria tão cedo ao meu escritório, mas pensando melhor, até que o calor não é tão ruim assim. O meu único problema é que sinto a falta dele. Maldição!