Horror no Manicômio - Prt: 2
- AAAAAAHHHHHHH!!!!!!!!!!!! - O agudo grito de Susie pôde ser escutado. Penetrou no ouvido dos policiais como o medo havia penetrado em suas barrigas, como a neve havia penetrado na sala. De forma assustadora e atordoante. Depois do grito, o silêncio. A mulher saiu de perto da cabeça e, correndo cegamente pelo ambiente escuro, aproximou-se de Andersein, logo agarrando seu braço.
- A gente precisa avisar a central!
- Andersein, fique a vontade para ir na viatura e avisar a central pelo rádio... Eu não vou lá fora nem morto com um doido solto por lá...
- Pare de ser maricas Simons!!! ... Andersein tá certo, a gente tem que ir avisar a central logo, para eles mandarem reforços... Anda Andersein. Vai lá que a gente te espera aqui.
- Ceis querem que eu vá sozinho. – A expressão dos dois continuou inalterada, indicando que sim. – Cês acham que eu sou louco!
- Não Andersein, mas convenhamos, você chegou aqui primeiro e tal e tudo... Então acho que o caso é seu... E é por isso que acho que é você quem deve avisar a central.
- Cêis são uma dupla de pau no...
- Não dá para avisar pelo telefone? – A voz de Susie ainda estava bastante abalada. Mas nunca fora tão reconfortante para o homem.
Andersein apontou a lanterna para algumas partes do balcão, procurando o telefone. Susie logo retira do bolso de seu uniforme, um celular. Entregando nas mãos de Andersein e abraçando mais fortemente o braço do homem.
- As linhas daqui não vão adiantar, estão sempre com problemas em dias de nevasca. Faz quase cinco horas que não funcionam... Só espero que o celular tenha sinal... O quê também é raro.
- É... acho que não vai ter jeito... O celular tá sem sinal... Vamos ter que ir lá fora ver se o rádio adianta alguma coisa.
- Pode ir à vontade... Como já disse o caso é seu. A responsabilidade é toda sua... E além do mais deve ter sido apenas algum animal selvagem...
- Claro!! Um animal selvagem que arranca cabeças e depedra patrimônio público!!!! Como não pensei nisso antes!!! Deve ser apenas um guaxinim vândalo!!!... Cai na real Simons!!! ... E sinceramente... Eu prefiro um louco maníaco do que um guaxinim demoníaco.
- Calma cara... Tava só tentando acalmar os anim... – A fala de Simons foi interrompida, alguma coisa havia passado correndo por entre as pernas do homem, derrubando-o. O som de passadas rápidas e pisadas em cacos de vidro ecoava distorcidamente. Andersein sentiu algo apertando sua perna.
- Wow!!!
Todas as lanternas viraram-se para as pernas do primeiro policial.
- AAAAAAAAAUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!! – Mais uma vez Halff ‘brincava’ freneticamente com a perna do homem.
- Ah!!! Só pode ser brincadeira... Alguém tira esse merda daqui!!! – Andersein mais uma vez balançando a perna para o louco soltá-la, o que fazia apenas ele agarrar-se mais às pernas do homem.
- Anda Andersein, termina logo aí essa tua foda... A gente leva esse aí de volta pro quarto dele enquanto tu vai lá chamar reforços. – Joshua segurou o louco pela cintura, e com bastante força retirou o ‘lobisomem’ das pernas do homem.
- Hã! Claro eu vou indo me matar lá fora enquanto vocês dão uma de babá!
- Se você insiste... Então a gente vai indo... – Simons e Joshua pegam o ‘lobisomem’, que agora estava pinando no tronco de Joshua, que carregava o homem leve e magro em seu colo.
- Susie você precisa ir com a gente... Pra mostrar onde é o quarto desse aloprado aqui. – Os três seguiram o caminho do corredor, com Halff em braços, indo na direção da ala do louco.
- Tudo bem ... Eu mostro, mas não sei o quê aconteceu com o Phill... Ele certamente teria visto Halff passar por ele, nos portões de divisória. – A mulher estava extremamente espantada.
Em poucos instantes Andersein estava sozinho na sala de recepção “Não acredito que aqueles felá duma realmente me deixaram aqui sozinho”. Sendo castigado pelo vento, e pela neve que ele trazia. O homem ainda tornou ao balcão, achou e telefone. Que estava realmente sem qualquer sinal de vida. O homem libertou um longo suspiro e dirigiu-se para a porta de vidro, que não existia mais. Com os pés terminou de derrubar o restante dos cacos que ficaram nas bordas da porta.
A neve ainda castigava o ambiente, mas estava cessando. “Pelo menos isso!”. Os pés do homem ficavam praticamente enterrados na neve, andar por lá estava bem difícil. Sua lanterna iluminava o caminho, que não se mostrava tão escuro assim, por causa da lua cheia que aos poucos podia ser vista. Sua arma já estava em punhos, para caso alguma ‘emergência’ surgisse com um pedaço de pau para abatê-lo. Após sete minutos de caminhada, havia chegado ao seu carro. Haviam rasgado os quatro pneus, que estavam completamente vazios.. Uma enorme poça de sangue podia ser vista sujando a neve, provavelmente o Maníaco deve ter deixado a cabeça ali enquanto destroçava os pneus da viatura. “Mas aonde diabos está o corpo?”. O policial seguiu para a janela da guarita. Onde ele viu o corpo obeso do vigia, sem a parte superior de sua cabeça. A guarita estava completamente suja de sangue, nas paredes, os respingos no chão, jatos escarlates manchando a parede. Em todos os cantos havia marcas de mão sujando as paredes, marcas de sangue. O cadáver ainda jorrava sangue do lugar onde a cabeça havia sido arrancada. O dor férrico penetrava suas narinas, enojando-o, a cena grotesca fê-lo chorar. Seu estômago não aguentou, num movimento involuntário o homem curvou o corpo e vomitou na neve. O gosto amargo e podre infestou seu hálito, sua mão, desprotegida do frio, limpou sua boca.
O homem seguiu espantado para dentro de sua viatura. Entrou. A primeira coisa que fez foi verificar se havia alguém no banco de trás. Ninguém. A viatura ainda estava quentinha, dava até vontade de não sair de lá. Foi verificar o rádio. Nada, alguém havia o destruído. Péssimo hábito que os policiais tem de deixar a viatura destrancada. O homem saiu do carro, mais espantado ainda, indo em direção a outra viatura. Que também estava com os pneus arreados e porta-malas aberto. Nem cogitou na idéia de entrar, provavelmente teriam quebrado o rádio também. “Como é que a gente sempre deixa a porcaria da viatura destrancada. A gente lida com marginal todo dia, sabe como é a violência e os roubos e ainda se esquece de trancar a porra da viatura.”
Um barulho pôde ser escutado vindo da lateral da guarita, alguém, ou alguma coisa, havia acabado de derrubar a lata de lixo que ficava ao lado da porta de acesso. O policial engoliu saliva, ou pensou engolir, pois sua garganta estava seca de medo. Seguiu para a lateral, que estava escura. Apontou a luz da lanterna para a lata. De dentro da lata saiu um guaxinim, que logo mostrou os dentes para ele e começou a andar vagarosamente em sua direção.
- Alguém só pode estar frescando muito com a minha cara!!! – O homem não acreditava que realmente fosse o guaxinim, mas por precaução achou melhor deixar a arma apontada para a criatura petulante.
- AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!!!! – O grito veio mais estridente do que nunca jamais havia ouvido qualquer grito. O guaxinim espantou-se e fugiu, passando para fora dos portões. Ele também se espantou e caiu de bunda na neve. Deveria ser Susie. Andersein pensou que eles teriam encontrado o maníaco. Mas achou estranho não ter escutado nenhum disparo. “Se a Susie gritou é porque o maníaco ainda está lá dentro”. O homem levantou-se e começou a voltar para dentro do edifício principal. Quando um frio vento atingiu suas costas. Ele olhou para trás e viu o enorme portão de saída aberto. Parou de andar. “ Certamente o maníaco deve estar lá dentro. Eles pediram para chamar reforços. Acho que é melhor eu ir buscá-los.... ... ... Deixe de ser medroso Andersein, vai logo ver o quê aconteceu com eles.” O homem deu mais um passo na direção do prédio principal. Parou, deu um breve suspiro. Correu em disparada na direção do portão.
***
Susie, Joshua e Simons estavam na saleta que seria de Phill. A porta estava aberta. A outra porta, que só podia ser aberta de dentro da sala de Phill, também estava aberta. Era a enorme porta de metal que dava acesso a ala dos loucos. Halff havia fugido dos braços de Joshua, quando Susie gritou. O policial havia soltado o ‘lobisomem’, para sacar a arma. Mas não acharam o maníaco. Tudo o quê viram foi o corpo de um homem, já de meia-idade, pele levemente morena, estendido no chão, com uma colher enterrada em sua boca. O homem estava praticamente sem dentes. O que sugeria que acertaram a colher inúmeras vezes dentro de sua boca, abrindo até mesmo o céu da boca do homem. E por fim fincaram o artefato na garganta dele, estourando-lhe a goela. A boca dele havia virado uma cachoeira de sangue, que alimentava a poça que se formava a derredor de sua cabeça, banhando o chão.
Susie começou a chorar desesperadamente, ficara calada a conversa inteira, muda, paralisada. Joshua puxou-a e colocou-a contra seu peito, para que ela deixasse de ver a cena. Simons também pareceu um pouco abatido.
- É melhor a gente ir embora daqui. – A voz do Simons ecoou medrosa.
- Por quê o Andersein ta demorando tanto? Aquele felá duma já deveria estar aqui.
- Do jeito que esse presunto aí ta... Acho que o Andersein também é só presunto cara... – Quando Simons terminou de falar, Susie, apertou ainda mais o peito de Joshua. Num súbito lapso a mulher soltou-se do policial e começou a tatear as paredes e os painéis. Mas não achava o quê queria. Tomou a lanterna de Joshua e tornou a iluminar o painel, achou uma alavanca vermelha. Abriu uma das gavetas e procurou uma chave. Demorou quase um minuto inteiro, mas a encontrou. Abriu a caixa transparente que recobria a alavanca e puxou a alavanca, virando-a do lado direito para o esquerdo. Um enorme som, de algo muito grande sendo ligado, ecoou. Era o gerador, que, após alguns instantes, acionou as luzes de emergência.
- Pelo menos a gente não precisa mais ter medo que ele se esconda no escuro e nos surpreenda. – A voz de Joshua estava um pouco mais aliviada.
- O problema é que não podemos mais nos esconder dele no escuro. – A voz de Simons saia indiferente, flutuante, duvidosa.
A mulher ainda não havia parado de se mexer. Ligou os computadores, mas estavam sem conexão com a internet.
- Merda!!! – A voz dela continuava muito desesperada.
- Tem alguma toalha... Lençol... Pano, qualquer coisa para cobrir o rosto desse aqui?! – Se continuar a olhar eu vomito. – Simons perguntou, com os olhos fechados. A mulher logo abriu um pequeno armário, tirando de lá um pano, que servia de cobertor, exatamente para esse dias frios. Eram de Philip, que sempre sentia muito frio.
Joshua estava sério, encarando um conjunto de monitores que estavam pregados na parede. – Susie... Sabe dizer se algum deles funciona?
- Funcionar eu sei que funcionam, eu não sei se estarão funcionando em estado de energia baixa, mas vou tentar religá-los. A mulher procurou alguns botões e pronto. Os monitores começaram a reinicializar. Enquanto isso Simons cobriu o cadáver com o cobertor que a mulher o arranjou.
Aos poucos as imagens iam formando-se na tela. O primeiro monitor que apareceu foi o quê dava a imagem do corredor dos insanos de maior periculosidade. Onde havia apenas um quarto com a porta entreaberta, e era exatamente o do maníaco. Mas o pior não era isso, em frente à cela estava Ryan no chão, o vigia dos corredores internos. Uma bandeja estava no chão, um prato de plástico também. Manchas vermelhas estavam espalhadas por todo o seu corpo, suas roupas estavam bastante rasgadas e ensanguentadas. Mas a imagem não deixava analisar muito bem o ocorrido, eram de péssima qualidade. Susie espantou-se quando viu. Ryan ainda mexia-se, mesmo que pouco, o homem ainda mexia-se.
- Alguém precisa ir ajudar ele! – Os olhos dela estavam mais marejados do que nunca, transbordando em lágrimas.
- Simons a gente tem que ir lá ajudar o rapaz.
Outros monitores ligaram, muitos não trouxeram imagens. Um mostrava o quarto comum, onde os pacientes de menor periculosidade dormiam numa espécie de dormitório coletivo. Outra imagem trazia uma pequena sala, como um consultório médico. Lá dentro estavam Lize, uma ajudante noturna, e Timot, outro vigia, escondidos debaixo de uma maca. Nos outros monitores apareceram alguns corredores e salas vazias, armários, parte externa do prédio.
E o maníaco foi avistado, ele estava em um corredor, bastante próximo de onde Lize e Timot estavam escondidos. A monstruosidade, o ser tinha cerca de dois metros, talvez um pouco mais. Estava estranhando o ambiente, provavelmente não esperava que as luzes fossem acesas. Em sua pele estavam as marcas de queimadura. Ele vestia apenas a calça de paciente do sanatório. A calça já estava bastante suja de sangue, em sua mão possuía uma chave de roda, provavelmente retirada do porta-malas da viatura.
- Simons anda... Vamos lá... - Simons estava com bastante medo para responder. – Anda porra!!! Deixa de ser medroso. Os dois começaram a ir. – Antes de sair da sala Joshua tornou a falar com Susie. – E você fique aqui, não tem como ele sair de lá, a gente fecha a porta e você só abre se for seguro, não desgrude a cara desses monitores viu!
- S... sim... – Os dois iam saindo quando ela lembrou-se de outra coisa. – Esperem!!! – Os dois pararam, a mulher procurou em algumas gavetas e encontrou um par de walkie-talkies. E entregou um para Joshua. – Eu fico avisando a vocês aonde ele estiver.
- Ok!
Os dois passaram pela porta de aço e fecharam-na. Seguiram alguns corredores e encontraram Ryan. O homem estava sem os olhos. Suas bochechas pareciam ter sido arrancadas a mordidas, diversas mordidas estavam espalhadas pelo corpo inteiro do homem. Não eram apenas marcas de mordida, era como se realmente tivessem arrancado pedaços do homem. Ryan não havia aguentado.
Joshua aproximou o walkie-talkie da boca e falou. – Susie, sinto muito, Ryan não resistiu.
A mulher chorou, um novo ruído ecoou na sala de segurança, um ruído de algo se desligando por falta de energia ou sobrecarga. O gerador parou. As luzes logo apagaram-se.
- Susie, o quê foi que aconteceu.
- Não sei, não sei. Tô tentando descobrir, mas acho que o gerador parou...
- Então quer dizer que...
- O que foi que ela disse Joshua!
- A gente tá preso aqui dentro com ele!? – A voz de Joshua era quase um sussurro.
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Continua. . .