Corredor da morte

Me chamo Tom. Isso aconteceu há mais te cinquenta anos. Trabalhei no corredor da morte nos Estados Unidos, onde presenciei e participei de mais de vinte execuções. Mas nenhuma marcou tanto a minha vida como a última. Era um homem branco, com mais de sessenta anos.

Harry foi acusado pelo assassinato de sua mulher, a qual, segundo ele o havia traído com seu melhor amigo.

Durante alguns meses, Harry permaneceu aguardando o dia de sua morte. Nesse meio tempo muitos outros presos seguiram para sua sentença final.

O que mais me chamava atenção é que Harry falava pouco ou quase nada. Na verdade permanecia o tempo todo quieto, olhando por uma pequena fresta um feixe de luz do Sol.

No dia marcado para sua morte, me escalaram para conduzir o preso até a cadeira elétrica e ordenar sua morte.

O local era impregnado de um cheiro horrível, uma mistura do odor de carne queimada e resistências elétricas.

Como último pedido, Harry me entregou uma pequena carteira com uma foto de uma menina. Segundo ele era sua filha e gostaria que ficasse comigo, que eu guardasse a foto.

Foram ligadas as chaves. A energia percorria pelo seu corpo e ia matando-o aos poucos, até paralisar de vez seu coração, fazendo-o morrer. Fora apenas alguns poucos segundos, mas estranhamente, aquela cena que eu estava acostumado a ver, de alguma forma mexeu comigo. Senti vontade de chorar ao ver seu corpo debatendo, sendo cozido por dentro por aquela alta tensão elétrica.

Ao final de tudo seu corpo foi levado para ser enterrado.

Após este fato não consegui voltar mais ao trabalho. Fiquei afastado até me aposentar de vez. Em momento algum conseguia deixar de segurar aquela foto, sem saber se tal filha estava viva ou não, pois Harry não teve tempo de dizer.

Devido ao meu estado, fui internado num hospital para deficientes mentais. Não largava a foto por nada desse mundo. Uma vez, outro internado tentou retirá-la de mim e eu o ataquei, arrancando-lhe um dos dedos só com os dentes. Fui mandado para a solitária.

Lá dentro comecei de repente a odiar tal foto. Falei palavras profanas e a rasguei em pedacinhos. Horas mais tarde meu corpo foi encontrado sufocado a garganta com os pequenos pedaços da foto.

Do outro lado encontrei Harry, aguardando o julgamento final e me sentei ao lado dele.

Confuso, lhe perguntei por que sua filha havia me matado. Então Harry respondeu:

-Ela não matou somente a você e sim mais duas pessoas.

Perguntei quem seriam as outras duas pessoas. Ele respondeu:

-Minha esposa e a mim, quando fez o mundo acreditar que eu a matei.

Paulo Farias
Enviado por Paulo Farias em 10/01/2012
Código do texto: T3432023
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