::: Depois da meia Noite - Final :::

Enfim o fim! ;)

Espero que tenham gostado do conto, minha primeira experiência com história de terror, não sei bem se é minha área hehehe. Vou continuar com as fantasias e contos de amor. Beijos e até a próxima!

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Na noite

Em cada instante

Num incógnito destino

Mas em um lugar ideal

Onde algo ameaça

Porquê gritar?

Porquê matar?

[Paulo Afonso Ramos]*

Cap. Final

O corpo de Maurício balançava supenso por aquele fio de televisão. Milena entreabriu os lábios e soltou um grito. Um grito que poderia ser ouvido em outras dimensões, um grito de extremo pavor. Saiu correndo antes que pudesse ter um mesmo fim, mas ao chegar a cozinha a porta bateu rapidamente como se um vento a tivesse fechado, sem piedade.

A porta de madeira e vidro estava completamente trancada, uma força sobrenatural a mantinha pressionada. Milena colocou o rosto no vidro da porta e viu que todos estavam lá fora, mas ninguém a escutaria.

-Eiii.... GALERA ABRAM A PORTA! ... ABRAM A PORTA!!!

-Mi-le-na! - uma voz sussurrou entre grunhidos.

-ABRAM A PORTA! - Milena esperniava.

Aquela força a puxou pelos pés, levando-a para o quarto. As marcas de suas unhas foram sendo desenhadas no assoalho escuro numa tentativa frustada de parar aquele ser sobrenatural. As pontas de seus dedos começaram a sangrar e as lágrimas foram se misturando ao sangue que pintava uma maldita aquarela naquele chão. Ela foi jogada contra a parede e batendo a cabeça com toda força na quina da cama, caiu sem vida embaixo do corpo de Maurício. De sua cabeça saía uma poça de sangue e ideias.

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Lá fora o uivar do vento compunha uma sinfonia demoníaca juntamente com aquelas vozes paralelas que só se calaram com tanta ausência.

-Gente, tô morrendo de fome... Vou lá ver o que aconteceu com aqueles dois... - Falei me levantando.

Ninguém falou nada, acho que também estavam com fome, era o mais plausível. Sem ninguém para me deter, nem mesmo Iuri que estava com a cara mais cansada do mundo, fui em direção a cozinha e sem nenhuma dificuldade, abri a porta. O silêncio dentro da casa era cortante, nenhum som, nenhum sussurro. Nada.

Andei mais um pouco até chegar a copa, olhei para o relógio. 01:35. E depois para o chão que estava todo arranhado fazendo um caminho que ia pelo corredor até o antigo quarto do meu avô. Já perto do quarto, pude notar que havia sangue e marcas de unhas cada vez mais fortes. Minha expressão já era de total pânico, mas respirei fundo e coloquei a mão na maçaneta.

Minha respiração ofegou, senti meu peito se contraindo e minha garganta ficando seca.

-Meu Deus... Meu Deus!!! - Sem pensar em nada saí correndo.

Aquele medo de olhar para trás me perseguia como um fantasma antes adormecido, passei pela porta do meu quarto que estava escuro, meu coração estava em descompasso. Na copa, esbarrei em algo que brutalmente espatifou-se no chão fazendo tilintar um eco pelas profundezas do corredor.

-Meu Deus! Meu Deus! - Era só o que eu conseguia falar com voz falha e trêmula.

Comecei a chorar indo em direção a porta da cozinha que, de repente, emperrou.

-Não, não, não.... Por favor, abre, abre! - Falava tentando de todas as formas, com todas as forças que ainda me restavam.

Um barulhinho soou e a porta se abriu. Corri pelo pequeno corredor que contornava a casa até a varanda, comecei a gritar, mas qual não foi minha triste surpresa quando vi o que havia acontecido.

-Gente, gente, por favor, o Maurício e a Milen... O que houve? Gente?

Estavam todos paralisados, de costas para mim, olhando para o grande tabuleiro onde as peças mexiam sozinhas.

-Gente... A coisa é séria...

Fui me aproximando deles, com medo, total medo. Estiquei meu braço até o ombro de Iuri que se virou para mim com os olhos avermelhados e uma palidez lânguida.

-É a sua vez de jogar! - Falou-me estendendo a mão que continha o dado.

-Não! Não! - E me virei para correr, mas na porta da cozinha avistei Maurício e Milena, com cortes, com sangue e vida. Ou não. Vinham ao meu encontro assim como o resto. Iuri tinha os lábios arroxeados que diziam palavras sem nexo, com um leve sorriso maligno.

-Jogue! - Dizia sem parar. E todos o acompanhavam.

-Jogue! Jogue! Jogue!

-Jogue o jogo...

-É a sua vez Ana!

Quando vi, todos estavam em volta de mim, com aqueles olhos cheios de ódio e lábios que proferiam maldições. Eu não tinha por onde escapar. Ajoelhei no chão e comecei a chorar.

-Parem! Por favor, parem!

-Jogue! Jogue!

Então, começaram a me estraçalhar viva. A dor era dilasceral como um ácido percorrendo as veias, corroendo a pele pálida de meu corpo. O sange jorrava pelo gramada mal cuidaod do jardim. A lua cheia se escondeu atrás das nuvens para não ver aquele pacto infernal. A chuva começou a cair e se misturou com o sangue, as lágrimas e a dor.

-Não... - Foi a última coisa que consegui pronunciar ao gritar de dor - Não!

E um eco estridente soou.

Abri os olhos lentamente.

Olhei para cima, nada de lua cheia.

Ofegante, levantei rapidamente. Tudo tão escuro.

-Era um sonho - sussurrei a mim mesma - Ou melhor, um pesadelo... Meu Deus, era tão real que posso sentir gosto de sangue na minha boca...

Algo no computador chamava. Abri a caixinha do meu MSN.

-Ana! Você tá aí?

Mensagem de meia hora atrás. Era Iuri.

-Agora estou! - digitei e logo ele respondeu.

-Ainda vai querer que vamos para aí?

-Hum - Olhei para o relógio, eram dez horas.

Saí para procurar meu avô, ainda fui na cozinha pegar um copo de água, quando estava indo em direção ao quarto dele, uma voz soou atrás de mim.

-Tem certeza de que não quer ir?

-Aonde? - Perguntei ainda de costas prestes a entrar em quarto.

-Jogar um jogo!

Olhei para ele e gritei. Ele estava cheio de sangue, com uma adaga em uma das mãos. Na outra, era a cabeça de uma pessoa que ele carregava, com os olhos ainda abertos de medo.

-Vô?

Ele gargalhou e veio em minha direção, sem pensar em nada saí correndo para o meu quarto e tranquei a porta. Fui direto ao computador, mas antes que eu pudesse pedir alguma ajuda a Iuri, a tela desligou sozinha e um blackout tomou conta do quarto. Comecei a choramingar, sentei na cama totalmente encolhida enquanto escutava os passos no assoalho.

Um barulho. A porta rangeu e se abriu lentamente. E a escuridão cessou ao entrar uma fresta de luz pela porta. Passos, respiração ofegante e um grito.

Fim de jogo. Pra quem?

Ana Luisa Ricardo
Enviado por Ana Luisa Ricardo em 05/01/2012
Código do texto: T3424020