O CÃO DANADO
O cão danado
O avô do Pepito tinha um cachorro vira-lata. Ele andava solto pela rua. Costumava acompanhar os netos do Sr. Vicente quando eles iam para a escola, acompanhava a Solange, a filha mais velha do Sr. Vicente quando ela ia à feira ou ao mercado. Parecia um cão perdido e abandonado. Não lhe davam muito trato, mas ele era fiel a sua gente. Certamente ele era grato pela comida que recebia e um lugar para dormir. O bicho era feio, mancava de uma perna, sequela de um atropelamento em sua juventude.
Ele era de grande porte, com um pelo amarelo mel meio desbotado. As orelhas caídas e grandes. O pelo era liso e baixo, a boca tinha umas pregas horríveis, quando ele estava cansado e babava parecia o filho do demo de tão horrível que era. Dava medo olhar para ele naquelas horas.
Guilherme era um menino de uns sete anos, que já trabalhava para ajudar sua família. Ele vendia amendoim torrado na porta do botequim na esquina da rua onde morava. Meio tímido ele oferecia as pessoas que passavam, alguns compravam sós para ajudar. E lá pelas oito horas da noite ele entrava pelo corredor da vila onde morava, correndo feliz sem nenhum saquinho de amendoim.
Correu um boato que o cachorro do Sr. Vicente estava danado. Ele tinha mordido o próprio dono, a filha do dono, e o menino Guilherme quando estava sentado na porta do botequim vendendo seu amendoim. O mês era agosto, segundo alguns, o mês do cachorro louco. O boato logo se espalhou. As pessoas que foram mordidas pelo cachorro foram vacinadas e seguiram com o tratamento. E o cachorro? Parece incrível, mas ele desapareceu de repente. Levou alguns dias sumidos para voltar, se arrastando, meio cansado, uivando alto, e babando, babando, babando. Os moradores da rua, achando que o cão estava danado, deram-lhe tantas pauladas que acabaram matando o pobre cão.
Alguns meses se passaram, e nas noites de lua cheia, quando chegava perto da meia noite, o fantasma do cachorro aparecia para quem estivesse na esquina do botequim onde ele fora assassinado. Primeiro ele mostrava os dentes, depois começava a correr atrás das pessoas, e às vezes mordia-lhes os calcanhares. A outra filha do Sr. Vicente era muito descrente e dizia que aquilo era papo de gente que não tinha o que fazer.
Até que em uma madrugada de Carnaval, quando ela chegava do desfile da Portela com um amigo e uma amiga. Ela viu o maldito cachorro se aproximar, e começar a correr atrás dela. Ela tropeçou, e caiu, seus dois companheiros já iam um pouco a frente e não viram a cena. Um cão enorme, meio amarelo, de pelo eriçado, atacava o rosto da moça que em vão tentava se levantar. Até que ela chamou-lhe pelo nome: - Satã, deixe-me em paz! Na mesma hora, o cão saiu correndo, enquanto a moça se levantava com o rosto todo machucado. Um de seus amigos voltava para ver o que lhe tinha acontecido e ainda pode ver o cão danado se afastando rapidamente daquela esquina.