Dimensão Ômega
As águas da piscina ainda estavam quentes quando chegamos. Éramos um grupo de oito pessoas determinadas a encontrar e capturar o maníaco que estava estuprando e matando garotas naquela área. Sabíamos que ele dormia ali, pois a única pista que a polícia tinha do cara era o cheiro de cloro que ele deixava nas vítimas. O ginásio aquático era fácil de entrar e sair a noite, uma vez que o movimento nessa rua é quase nulo.
Entramos sem muita dificuldade, as luzes estavam acesas como sempre, e começamos a vasculhar o local. Os armários estavam intocados, a cabine do zelador estava trancada e não havia sinal de ninguém dormindo por ali, mas estávamos sentindo um cheiro esquisito de tinta misturada com coisa podre. Não achamos a origem de maneira nenhuma, pelos menos não até alguém ter a brilhante idéia de me jogar na água.
Quando eu caí na piscina e abri os olhos pude ver uma parte da piscina que refletia como um espelho. Saí da água e fomos olhar mais de perto, era bem estranho afinal por que diabos alguém colocaria um espelho embaixo d’água? Tentamos tirá-lo de lá, mas o que aconteceu foi quase uma cena de filme de ficção. Entramos pelo espelho e saímos em outro lugar, ao olharmos para trás o espelho havia se transformado em uma poça de água. Mergulhamos novamente pela poça e voltamos para o ginásio sem entender bem o que estava acontecendo. Decidimos voltar na noite seguinte para vasculhar melhor o “outro lado do espelho”.
Naquela noite, não consegui dormir bem, sonhei com os assassinatos e ao acordar ficava pensando, e se o maníaco também soubesse daquele espelho? Aquele é o esconderijo perfeito, a polícia jamais investigaria uma história tão absurda quanto essa. Como não conseguia mais dormir, fui buscar na net se alguém já tinha passado por isso. Tudo que encontrei foram vários livros e textos de projeção astral, mas nada que fizesse muito sentido.
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Matamos aula para nos preparamos para a noite, a propósito, meu nome é Miriam, mas todo mundo me chama de Dana por causa de um personagem de RPG que tive. Sou estudante de filosofia e caoísta nas horas vagas. Gosto de coisas que façam sentido, a na minha opinião essa vertente do ocultismo faz muito sentido uma vez que prega que a verdadeira magia está na nossa mente e tudo que precisamos para um ritual é o canalizador dessa vontade e uma forma física do nosso desejo. Após essa experiência de projeção física (afinal, entramos em outra dimensão com corpo e tudo, então nem astral é) fiquei um tanto assustada, nunca pensei que a magia pudesse ser tão real assim nesse plano.
No cair da noite, voltamos ao ginásio. Dessa vez voltamos em apenas 3, os outros ficaram com muito medo de tudo aquilo e decidiram que não voltariam a tocar no assunto novamente. Os dois que vieram comigo eram amigos meus de infância e sempre juramos ajudar uns aos outros não importa o perigo, logo fizeram questão de que ficássemos juntos nessa loucura.
Entramos na piscina e lá estava o espelho. Passamos por ele novamente e chegamos à caverna igual da primeira vez. Estávamos decididos a explorar aquele lugar até achar aquele filho da puta, e foi o que fizemos. Começamos por tentar sair da caverna, estava um pouco escuro, mas encontramos a saída sem muita dificuldade. Do lado de fora, a paisagem era composta por asfalto e milhares, não, milhões de peças eletrônicas espalhadas pelo chão. Era quase como se as peças fossem uma vegetação. Além disso, o céu era todo acinzentado sem nenhuma estrela e o cheiro de ferrugem e lodo subia forte.
Seguimos uma trilha até um tipo de desfiladeiro. De lá víamos algumas sombras se mexendo pelo campo abaixo de nós e algo maior lá longe. Era realmente grande, mas não dava pra distinguir o que era por conta da pouca luz. Descemos devagar e sem fazer muito barulho para não alarmar as sombras e chegamos até um tipo de estação de trem abandonada. Andamos pelos trilho até chegarmos mais perto um pouco da sombra maior, engraçado que quanto mais nos aproximávamos mais a sombra parecia ser enorme, mas devia ser só impressão.
No meio do caminho começamos a sentir o cheiro de cloro, o mesmo cheiro deixado nos corpos da garotas mortas. Caçamos o cheiro e quando nos demos conta tínhamos subido outra ladeira e chegado a outro penhasco, mas dessa vez um dos caras que me acompanhavam decidiu que era uma boa idéia dar uma iluminada no local. Antes que eu pudesse pará-lo ele acendeu a lanterna e todas as sombras, incluindo a maior delas, voltaram à atenção para nós. Nesse momento vários holofotes iluminaram o local em que nos encontrávamos e finalmente eu pude ter a noção do real tamanho daquela sombra.
As sombras menores correram na direção de meus amigos e os desmembraram enquanto a sombra maior se revelava. Era absurdamente gigante, se Deus tivesse um tamanho talvez fosse aquele. A coisa começou a emitir uma luz muito intensa e meus olhos começaram a doer muito, parecia que iam explodir. Nesse momento, senti de novo o cheiro do cloro, e ao olhar um pouco mais abaixo da sombra maior pude ver um corpo humano pendurado, como se fosse uma marionete daquelas de luva e várias peças intimas de mulher.
A coisa começou a emitir um som estranho e minha cabeça começou a doer até que desmaiei. Acordei no hospital sem enxergar um palmo a frente do nariz, o médico disse que fomos atacados pelo assassino de garotas, meus amigos foram encontrados despedaçados perto da piscina e meus olhos haviam implodido, foi quase um milagre eu ainda estar viva. Quando tirei a venda, não pude conter o grito, tudo a minha volta havia se transformado naquele lugar.
Eu podia ver as sombras se acasalando e se devorando ao mesmo tempo, claro que agora não eram mais sombras, dava pra ver nitidamente a forma monstruosa e assimétrica delas, assim como a ausência de olhos. Claro que ninguém acreditou na minha história e eu acabei nesse hospício. Os remédios que eles me dão até que ajudam, eu fico dopada e menos desesperada com as imagens, apesar de pouco a pouco, estar me tornando parte delas assim como os meus companheiros daqui.