Olhos amarelos no sótão

Só de pensar em ter que subir até o sótão, Will tremia. Odiava aquele lugar como qualquer outra criança de nove anos odiaria. O lugar era escuro, empoeirado e cheio de teias de aranhas e bichos estranhos. Fora as tranqueiras enfiadas ali. Will não entendia por que a mãe pedia pra pegar alguma coisa lá, se tudo o que havia lá era lixo. Pelo menos aos olhos dele. Sem falar nos arrepios que sentia quando subia lá. Achava que tinha algo lá, um fantasma ou qualquer coisa do tipo. Apesar de gostar do sobrenatural, uma coisa era ler ou assistir; outra era ver de verdade.

E lá estava ele, subindo no sótão de novo. Para pegar sabe-se lá o que chinês, que veio da coréia. Nem sabia direito.

O sótão estava escuro demais, mas quando Will tentou acender a luz, viu que a lâmpada estava queimada. Era dia, então estava claro lá fora. Ele abriu a janela para enxergar melhor. Procurou pelo negocio chinês da coréia, mas não achou nada parecido. Lá embaixo, sua mãe gritou:

-Desce daí. O livro japonês está aqui na cozinha, filho. Não precisa mais procurar.

-Ai, que legal! E você só vê isso agora?- disse Will, com raiva.

Abriu mais a portinha do sótão, e sentiu que algo o olhava. Virou-se para trás, e viu um par de olhos enormes, amarelos e com pupilas em formato de fendas. Apenas os olhos podiam ser vistos no escuro daquele canto.

Os olhos piscaram, e Will desceu as escadas como louco, tropeçando no meio dela. Caiu no chão e tentou levantar-se devagar, e andou até a cozinha. Will mancava, sentia dor nas costelas e sangrava pelo nariz, e havia uma enorme mancha roxa em sua testa. Ficou parado atrás de sua mãe, um pouco atordoado com a queda.

Ela virou para olhá-lo, e gritou de susto com o estado dele.

-Menino! O que aconteceu?- disse, virando-o para todos os lados, para ver melhor os ferimentos.

-Eu caí do sótão.

Ela o levou no medico, e deu a maior bronca da vida dele. E o proibiu de ir ao sótão.

Will não parava de pensar no que havia visto no sótão. Aquilo não era humano, disso tinha certeza.

Passou o dia no quarto, pensando em voltar no sótão e ver de quem eram aqueles olhos. Quando dormiu, sonhou que estava lá, e ao fitar aqueles olhos sentiu uma dor terrível. Acordou assustado, e foi para o quarto da mãe, para dormir com ela.

Os dias passaram e a mãe de Will nunca mais o deixou subir no sótão novamente. Ele não esquecia aqueles malditos olhos. E com a proibição da mãe, ficava difícil tentar descobrir o que era aquilo.

Toda semana a mace de Will saía, ia ao mercado, fazia coisas desse tipo. Esperou estar sozinho em casa para subir lá e resolver isso tudo.

A casa estava escura, assim como o céu lá fora. A tempestade ia ser daquelas...

Puxou a escada do sótão, e subiu lentamente. Parou a uns poucos centímetros da entrada. Os olhos estavam ali, encarando-o bem de perto. Aqueles olhos faziam parte de uma coisa escura, uma sombra enorme. Não dava para ter certeza do que era aquilo.

Repentinamente, Will foi puxado para o sótão por uma infinidade de dentes afiados e amarelos.

O dia tornou-se mais escuro, e a porta do sótão, a partir daquele momento, permaneceu trancada por toda a eternidade.

Shelly Graf
Enviado por Shelly Graf em 22/12/2011
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