::: Depois da Meia Noite - Cap. 1 :::

Capítulo 1 -

"Ás vezes, a morte é o melhor!"

[Cemitério Maldito]

Era quinta feira e um silêncio absurdo tomava conta da noite. Não eram nem dez horas quando passei descalça pelo corredor que levava á sala de jantar, era tudo tão silencioso que eu conseguia ouvir o ranger de meus passos no assoalho antigo da casa do meu avô. Eu estava de férias e resolvi passá-las naquela cidadezinha pacata e até bem romântica, era o que eu pensava num primeiro momento, mas toda aquela imagem mudou naquela mesma noite. Meu avô resolveu ir até a cidade vizinha.

-Tem certeza de que não quer ir?

-Tenho.

-Bom, se quiser chame alguém para ficar aqui com você... Voltarei só amanhã de manhãzinha...

Consenti com um meio sorriso. Ainda permaneci na sala de jantar quando ouvi meu avô ligando o carro e saindo. Fiquei parada alguns segundos, inclinei meu corpo e observei aquele imenso corredor que de repente me pareceu assustador. Respirei fundo e sorri, fui até a cozinha e peguei um copo de água e então voltei ao meu quarto onde havia um computador. Meu avô sempre o manteve ali caso um de seus netos fossem para lá.

Olhei minha rede social e encontrei minhas amigas que moravam naquela cidade. Liguei para Aline.

-Que horas Ana?

-Agora?

Pude ouvir uma extensa gargalhada do outro lado da linha.

-Você tá com medo né?

-Um pouquinho... Será que as meninas podem vir?

-Liga para elas... Mas pode deixar quem eu já estou indo... Vou levar alguns filmes pra gente assistir!

-Tá bom... Mas vem logo!

Outra gargalhada e ela desligou. Liguei ainda para a Milena e para a Fabiana. As duas também viriam. Sentei-me em frente ao computador, mas a toda hora olhava para trás, aquele silêncio era horrível, eu parecia escutar sons que na verdade não existiam.

Quinze minutos naquela angústia até que o interfone tocou.

-Quem?

-E aí, vai deixar a gente entrar ou vamos morrer de frio?

Abri o portão e finalmente o silêncio foi interrompido pela fala acelerada daquelas meninas. Abraçamos-nos e fomos para a sala.

-Olha só o que eu trouxe...

Olhei para as mãos da Aline que estava cheia de DVDs de filmes, mas tinha um probleminha...

-Terror?

-Ah Ana... É só filme... Vamos assistir, vai ser divertido!

-Não sei não... Não acho nem um pouco divertido ficar com medo!

Todas caíram na risada. Quinze minutos decidindo se iríamos assistir ou não o tal filme. Por fim, três contra uma, não tive escolha. Colocaram o DVD e o nome do filme dublado com aquela voz grave bem lenta já me causou arrepios.

-POSSUÍDOS... Versão Brasileira...

Aline e Milena sentaram-se no sofá maior enquanto eu e Fabiana nos encolhíamos no outro, assim que começou o filme fiz questão de pegar a almofada que estava no chão, só dessa forma para conseguir assistir um filme com esse nome, não era bem “assistir” porque a maior parte do filme eu mantinha meu rosto atrás da almofada, mas nem isso me impedia de gritar.

-Ai não gente... Vamos fazer outra coisa!!!

-Calma calma... Essa é a melhor parte...

Olhei para a TV, todas em absoluto silêncio. A mulher estava deitada quando de repente ouve um barulho, um rangido agudo, se levanta e atravessa um enorme corredor, lá no fim há uma porta, ela entra com receio. Uma escuridão toma conta do antigo quarto quando a porta bate bem atrás dela. Desesperada, já não há mais o que fazer. Bate na porta, arranha, grita. Nada. Começa a andar para trás encostando-se em alguns móveis, derrubando pertences empoeirados e mal cheirosos. Há uma presença no quarto, uma respiração ofegante que se mistura com a dela. Um arfar que lhe causa calafrios, um sussurro macabro ao pé do ouvido a faz tremer dos pés a cabeça. Ela senta-se no chão e começa a chorar e então... Não! Não! Ele está vindo, não! Um foco de luz e um rosto sombrio aparecem em flash. Vai embora, sai daqui, NÃOOO...

Eu escorregava pelo sofá com as mãos bem firmes sobre a almofada, mas a curiosidade ainda mantinha um de meus olhos a mostra. O friozinho daquela noite misturava-se com o medo me fazendo arrepiar. Meu coração palpitava e a respiração parecia me faltar. Olhei rapidamente para a TV, me arrependi por isso.

A meia luz do quarto permitia que a moça notasse a presença maldita, aquela mancha escura foi deslizando pelo assoalho de madeira e vindo em sua direção. Ela se descabelava e gritava engatinhando em direção a porta. Mas não adiantava. A mancha, a maldição a queria. E num grito que ecoou no fundo de seu ser, sentiu aquilo adentrando sua carne, ela soltou um gemido de dor e foi arremessada a um espelho gigante que ao se quebrar perfurou todo o rosto da bela moça. Ela tentava se levantar, mas não conseguia. Aquilo havia a possuído fazendo ela se debater no chão com os nervos a flor da pele, o sangue jorrava. Tudo se silenciou.

Abri os olhos lentamente. Todas nós ficamos atentas e com medo.

Silêncio absoluto. A moça deitada no chão veio em direção a porta e parecia estar vindo em nossa direção, cada vez mais perto até que... UM BARULHO!

-AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! – Nós gritamos.

Paramos e olhamos umas para as outras e caímos na gargalhada.

-Não tem graça! Eu quase morri do coração...

-Que culpa temos?

-Alô?

-É da casa da Ana?

-Pra onde você ligou?

-Oiiii pra você também!

-Você ta tentando me matar?

-Não... – deu uma risada – Na verdade estava tentando te chamar pra sair... Vamos ao cinema?

-Ao cinema? E aqui tem cinema?

-Engraçadinha... Lógico que tem, é cidade pequena, mas também não é no meio do mato!

-Estava pensando em chamar as meninas também, os garotos estão aqui em casa...

-Quem está aí?

-O Maurício e o Carlos...

-Tive uma idéia melhor...

-Hum....

-Porque vocês não vem pra cá? As meninas estão aqui... Estávamos assistindo filme até que você ligou e quase nos matou...

Iuri soltou uma gargalhada.

-Era de terror é?

-Era sim... Horrível... Mas então, vocês vêm?

-Sim sim...

E antes que eu pudesse desligar ele falou:

-Ah! Vou levar um joguinho pra gente...

-Não é aquela coisa do além não né?

-Lógico... que é! E você vai jogar... Você irá perder o medo rapidinho!

E desligou. Empalideci e coloquei o telefone no gancho.

-O que foi Ana?

-Os meninos estão vindo...

-E porque você está branca desse jeito?

-O jogo do capeta!

Elas começaram a rir.

-Fica tranqüila, já joguei isso e não é nada demais. Na verdade eles só querem nos assustar, nunca acontece o que fala no jogo...

Sentei-me no sofá e então o interfone tocou. Meu coração pulou, eu não queria jogar isso de jeito nenhum. Aquela casa me dava arrepios e essa história de jogo do capeta me desequilibrava totalmente. Eu estava realmente com muito medo.

A noite parecia não ter fim.

Ana Luisa Ricardo
Enviado por Ana Luisa Ricardo em 18/12/2011
Reeditado em 25/12/2011
Código do texto: T3395875