Dama de Copas: A Guerra Começa
Eva e eu passamos as três horas seguintes no meu antigo quarto conversando sobre como havia sido minha antiga vida, e Eva também me contou um pouco sobre sua vida, como ela havia sido transformada, como ela havia vivido até Lord Damien a libertar, e como ela havia ficado algum tempo em sua companhia, percebi que Eva sempre falava de Lord Damien com um certo carinho, então pude compreender como havia sido dolorosa a decisão de acabar com a vida de Lord Damien.
Aquelas três horas passaram rapidamente, quase não percebemos o tempo passar, e quando percebemos que já havia escurecido fomos nos aprontar para sairmos e irmos para o parque, colocamos roupas e sapatos mais confortáveis, pegamos os livros de conjuros e saímos em direção ao parque.
Conforme íamos caminhando, podia sentir que haviam pelo menos quatro criaturas que nos acompanhavam a uma certa distância, não conseguia identificar quem seriam, mas elas nos acompanharam desde minha casa até quase a entrada do parque, foi quando elas apareceram em nossa frente.
Uma das criaturas se dirigiu a nós, era um rapaz alto, musculoso, não aparentava ter mais de vinte anos, parecia que já existia como uma criatura da noite a algum tempo. As outras três criaturas que o acompanhavam eram duas garotas e mais um garoto, todos aparentando ter apenas dezesseis anos, muito novos, não pareciam existir a muito tempo como criaturas da noite.
- Dama de Copas, Bela de Ouro.
- Sim.
- Como vocês ousam andar livremente depois do que vocês fizeram?
- Me desculpe, mas sobre o que você está falando?
- Estou falando sobre vocês terem matado a Condessa Negra e Christine.
- Matamos mesmo, e elas mereciam muito mais, elas ainda tiveram uma morte rápida.
Segurei Eva, ela parecia alterada com aquela situação, então para acalmá-la um pouco fiz um conjuro que poderia acalmá-la um pouco e sussurrei para ela não deixar transparecer sua raiva que aquilo poderia desestabilizá-la se tivessemos que lutar com aquelas criaturas. Então me dirigi ao rapaz que falava conosco.
- Como é seu nome?
- Ricardo porque?
- Bom Ricardo por que vocês está tão decidido assim a vingar a morte dessas duas criaturas?
- Porque elas me salvaram.
- Salvaram você?
- Sim, elas me deram a oportunidade de ser alguém melhor, mais forte, mais importante.
- Será mesmo Ricardo ou elas apenas te transformaram em um escravo das vontades delas?
- Nunca, Condessa Negra sempre nos tratou como filhos, tínhamos nossa vontade própria, fazíamos o que que queríamos.
- Verdade mesmo Ricardo, você sempre fez o que queria?
- Sim, sempre.
Nesse momento, fiz um dos conjuros que havia visto no livro de Nola, era um conjuro de lembranças fazia a pessoa se lembrar de tudo o que havia acontecido em sua vida, fiz esse conjuro e fui acompanhando as expressões no rosto de Ricardo enquanto suas lembranças mais escondidas vinham à tona, pude perceber um certo incomodo nele conforme ele ia se lembrando de algumas coisas. Eva olhou pra mim com uma expressão um tanto quanto confusa, apenas murmurei para ela um "espere" e continuei a fazer o conjuro, ampliando ele também para as outras três criaturas que acompanhavam Ricardo.
- O que você está fazendo?
- Estou apenas fazendo você se lembrar tudo o que você passou.
- Não, isso são mentiras.
- Pense bem Ricardo você não se lembra mesmo de nada disso?
- Impossível, Condessa Negra me amava, ela sempre dizia que sempre estaríamos juntos, que eu era importante pra ela.
- Se ela se importava tanto assim com você como ela nunca te contou que matou seus pais?
- Não, isso foi você quem colocou na minha cabeça, isso nunca aconteceu.
- Ricardo eu não coloquei nada em sua cabeça, apenas fiz você relembrar o que estava adormecido em sua memória.
Ricardo havia se ajoelhado e estava com as mãos na cabeça, como se quisesse tirar aquelas imagens que agora fluiam por sua memória, as outras três criaturas também estavam ainda mais confusas, pois elas se lembravam por quanto tempo haviam servido cegamente a Condessa Negra, e podiam ver que suas vontades sempre foram manipuladas, então uma das garotas se aproximou dele e o abraçou.
- Venha Ricardo elas não tem culpa de nada, quem nos fez mal já não está aqui.
- Não, elas estão nos manipulando, nada disso aconteceu de verdade.
- Por favor Ricardo como elas poderiam saber tanto a nosso respeito?
- Não isso é mentira, ela está nos enganando.
- Ricardo eu acredito nelas, agora vamos, acredite em você mesmo.
- Não, a Condessa Negra nunca faria isso comigo.
- Dama de Copas, nos desculpe por acusá-la e acusar você também Bela de Ouro.
- Não se preocupe, criança, apenas agora faça as suas escolhas.
- Obrigada! E se tiver alguma coisa que pudessemos fazer, estaremos honrados em ajudá-las.
- Não menina, apenas viva a sua vida.
- Obrigada Dama de Copas e nos desculpe.
- Não há o que desculpar, vocês estavam ainda sob a influencia da Condessa Negra.
Fui me afastando daquelas criaturas, Eva me acompanhou com uma expressão confusa, assim como estavam aquelas criaturas, tentando entender tudo o que elas haviam se lembrado.
- Danielle, como você fez isso?
- Bom Eva, eu apenas use neles um dos conjuros que havia visto no livro de minha bisavó, é um conjuro que faz com que todas as suas lembranças venham à tona, inclusive no caso deles aquelas lembranças que foram suprimidas por uma criatura que os dominava.
- Mas como você conseguiu fazê-los acreditar?
- Não fiz, apenas a memória deles os fez lembrar de tudo.
- E você consegue fazer isso novamente?
- Acredito que sim Eva, porque?
- Porque, se aquelas criaturas, mesmo com a Condessa Negra estando morta ainda deviam sua lealdade a ela, será que conseguiríamos fazer o mesmo com os lacaios de Agatha e de Lestat?
- Não sei Eva, se o que Conde Frostyn lhe falou for verdade, essas criaturas estão a muito mais tempo sob a influencia de Agatha e Lestat do que esse garotos que encontramos hoje.
- Bom, mais acho que esse é um bom começo.
- Com certeza Eva, mais agora temos que nos concentrar em você.
- Em mim?
- Sim, em você aprender a controlar seus novos talentos.
- A sim, claro. Aliás o que você fez comigo aquela hora?
- Apenas um conjuro tranquilizante Eva.
- Obrigada, eu acho.
- Eva, se eu permitisse que você continuasse, era capaz de você acabar colocando fogo em tudo.
- Como assim Danielle?
- A raiva é um dos sentimentos mais profundos que existem e ela é o ponto inicial, mais fácil para se conjurar fogo.
- Nossa, então quer dizer...
- Não se preocupe, iremos trabalhar isso e você não vai sair queimando ninguém por ter ficado com raiva.
Eva respirou fundo e parecia um pouco aliviada por não ter que se controlar sempre e a todo momento. Chegamos ao parque e então comecei a ensinar Eva tudo o que Sheela havia me passado, foi um processo lento, mais Eva aprendia com rapidez, estava determinada a controlar seus poderes o mais rapidamente possível. Treinamos boa parte da noite, e Eva se mostrava uma ótima aluna, ávida em aprender, deixei Eva praticando alguns conjuros básicos e fui me concentrar nos conjuros dos livros, procurando alguma coisa que pudesse me mostrar como poderia quebrar a ligação entre lacaios de vampiros ancestrais, ou qualquer outra coisa que pudesse me dizer o motivo de Conde Frostyn ter dito que eu seria capaz de destruir Agatha, Lestat e seus lacaios.
Quanto mais olhava todos aqueles conjuros, menos eu entendia o motivo de minha mãe nunca ter me falado sobre essa minha herança, menos eu compreendia como ela pode tirar isso de mim, me esconder quem eu realmente era, e agora finalmente eu compreendia o olhar de tristeza de minha bisavó cada vez que via minha mãe, podia entender o quanto era sofrido para ela ver que muitas de suas descendentes haviam dado as costas para seu maior dom, seu maior presente. Finalmente após muito folhear aquele livro encontrei algo falando sobre Agatha e Lestat, mais não compreendi muito, nas anotações em volta diziam que apenas um ser com as duas naturezas, vampiro e wicca, unidos por sangue, com as duas naturezas manifestas seria capas de realizar aquele conjuro, assim terminando com a existencia das duas criaturas que originaram a guerra. Fiquei olhando aquele conjuro e me perguntando quem poderia ser essa criatura tão especial, essa criatura única que poderia realizar tal feito, essa era mais uma coisa que Eva e eu teríamos que procurar e encontrar antes de enfrentar Agatha e Lestat. Estava concentrada nisso quando ouço um grito de Eva, me levanto assustada e olho pra ver o que havia acontecido.
- Eu consegui, consegui Danielle.
- Eva! Que susto! O que aconteceu?
- Eu consegui, consegui fazer o conjuro de vento.
- Que bom Eva!
- Por que você está rindo?
- Porque você esta parecendo comigo na primeira vez que eu consegui fazer um conjuro de fogo.
- Mais eu consegui mesmo fazer o conjuro de vento, olha só!
Eva se concentrou e em instantes todas as folhas ou seu redor se agitaram e subiram formando um redemoinho que vinha em minha direção, olhando fixamente para o redemoinho, fiz um conjuro de fogo e o redemoinho antes com folhas mortas agora era um redemoinho de fogo, que logo se desfez.
- Como isso aconteceu?
- Eu usei seu redemoinho e fiz o conjuro de fogo.
- Que legal, vamos tentar de novo?
Assim que Eva acabou de falar, senti a presença de várias criaturas vindo em nossa direção no parque, e ao que parecia elas não estavam muito felizes com a nossa presença ali.
- Aconteceu alguma coisa?
- Preste atenção Eva, consegue sentir?
- Sim, são muitas criaturas, será que você consegue fazer o mesmo que fez com aquelas outras?
- Não, teria que ter treinado mais, essas teremos que enfrentar mesmo.
- Então que eles venham.
- Eva.
- Sim
- Só uma coisa, só imagine o fogo quando sua mão estiver cravada no corpo dessas criaturas, caso contrário podemos acabar nos queimando.
- Tudo bem. Entendi!
Nos preparamos para a chegada dessas criaturas, escondi os livros de conjuros em um compartimento que havia ali perto e me juntei a Eva. Mas logo em seguida senti que três criaturas vinham ao nosso encontro, nos viramos e nos deparamos com as três criaturas que antes acompanhavam Ricardo.
- Dama de Copas, nos desculpe, mas viemos avisar que Ricardo está vindo em seu encalço com mais trinta criaturas que também eram leais a Condessa Negra e a Christine.
- Minha criança, como é seu nome?
- Jessy, e esses são Thatyelly e Octavio
- Obrigada pelo aviso Jessy, nós já haviamos sentido a aproximação deles.
- Danielle, eles estão chegando!
- Bom, Jessy, se vocês quiserem ficar e lutar conosco, por mim tudo bem, mais se vocês quiserem ir eu também vou entender.
- Nós ficamos.
- Então se preparem.
Assim que terminei de falar com eles vi que as primeiras criaturas saiam por entre as árvores e entre essas criaturas estavam Ricardo.
- São elas, elas que mataram quem nos protegia, portanto elas devem morrer.
Ricardo disse essas palavras como que para incitar ainda mais aquelas criaturas, a maioria daquelas criaturas eram bem jovens, provavelmente tinham sido transformados a pouco tempo, e pelo jeito eram apenas mais garotos que haviam perdido a chance de uma vida. As criaturas foram saindo do bosque e nos cercaram, agora era lutar ou morrer. Eles foram se aproximando e nós nos preparamos para o combate.
Haviam muitos, parecia que eles estavam aumentando em número, não havia muito o que fazer, eu apenas tentava me desviar de seus golpes e perfurava o peito deles e então os queimava de dentro pra fora com o conjuro de fogo, não podia me distrair, pois uma distração e eu poderia se morta, podia ouvir os gritos daquelas criaturas conforme iam sendo mortas, sentia todo o seu desespero quando viram que estavam sendo massacrados e aniquilados, aquilo estava sendo demais pra mim.
- Eva! Saia do meio da luta e leve os jovens com você.
- Mais por que Daniele?
- Apenas faça isso.
- Tudo bem.
Senti quando Eva consegui arrastar as outras três criaturas que haviam ficado para lutar conosco e assim que eles saíram fora de toda aquela confusão fiz um conjuro de aprisionamento e logo em seguida outro de fogo, e aquelas criaturas foram todas queimadas, podia ouvir seus gritos, podia sentir sua tentativa de se afastar dali, daquele fogo que elas não sabiam de onde vinha, tentavam correr mais não conseguiam sair do lugar, intensifiquei o conjuro de fogo e logo todo aquele sofrimento e aquele desespero acabou sobrando apenas cinzas que iam sendo espalhadas ao sabor do vento que havia começado suavemente. Cai em meio a toda aquela cinza, estava devastada, pude sentir tudo o que aquelas criaturas haviam sentido, todo o desespero para tentar se salvar. E em um grito desesperado, fiz em volta de mim um circulo de fogo. Eva se aproximou lentamente e apagou o fogo e me segurou em seus braços.
- Danielle, se acalme.
- Como Eva?
- Se acalme, já acabou...
- Eu não posso, não posso continuar a matar desse jeito.
- Danielle você não tinha escolha, se não os matasse, eles a matariam.
Me descontrolei em lágrimas, não conseguia retirar de minha mente todo o sofrimento que aquelas criaturas sentiram, como Eva podia estar tão calma daquele jeito? Então senti que as outras três criaturas se aproximaram de nós.
- Obrigada Bela de Ouro, Dama de Copas!
- Não precisa nos agradecer.
- Precisamos sim, se não fosse por vocês eles provavelmente nos matariam.
Podia sentir que realmente aquelas criaturas estavam gratas por Eva e eu as termos salvado, mas havia tanta contradição ali, uns tendo que morrer para outros terem a paz, sempre achei essa parte das guerras muito injusta, porque todos não poderiam viver em harmonia? Eva ainda me amparava em seus braços e então fui assimilando sua calma lentamente e pude ir me acalmando.
- Obrigada Eva!
- Mais calma agora?
- Sim, é que eu nunca fui a favor de guerras.
- Eu compreendo Danielle.
- Mas agora e quanto a vocês?
- Nós?
- Sim, vocês tem aonde ficar?
- Não Dama de Copas. Mas talvez nós vamos sair da cidade, recomeçar a nossa história.
- Mais de qualquer jeito vocês precisam de um lugar pra ficar durante o dia.
- É realmente não temos aonde ficar.
- Então o que vocês acham de passarem pelo menos hoje o dia em minha casa.
- Podemos?
- Sim, vocês podem descansar e então amanhã a noite vocês decidem o que farão.
- Obrigada!
- Por nada! Agora vamos que o dia já está quase clareando.
Fui até o local que havia escondido os livros e Eva me acompanhou.
- Danielle, você acha mesmo prudente levá-los pra sua casa?
- Eva, não muito, mais eles precisam de um lugar pra ficar e quando estivermos em casa eu posso trancá-los só por segurança em um dos quartos.
- Então assim, tudo bem.
Fomos em direção à minha casa, com aquelas três criaturas nos acompanhando, estava apenas imaginando o que iria acontecer com todos nós.
(... CONTINUA...)
Se você quiser saber um pouco mais dos motivos da Bela de Ouro estar com a Dama de Copas e como foi que ela chegou até aqui leia a saga de Lord Damien.
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